Caminhos para retomar a cobertura vacinal brasileira

Em ampla reportagem, Revista Poli sonda as causas que levaram país a regredir tanto na imunização das crianças e alerta para os riscos, mas também frisa: causas do problema são conhecidas; havendo vontade política, será possível superá-lo

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Embora a vacinação contra covid tenha sido um sucesso, tendo alcançado 76,8% da população brasileira em pouco mais de um ano, dados apontam que a imunização contra outros patógenos está em declínio acelerado. O processo teve início em 2013 mas se acentuou em 2016. Até 2012, a cobertura vacinal média, crescente, chegava a 96,5%; mas desde então está em queda livre. Em 2021, os imunizantes não alcançaram 68%. Os motivos e as soluções para esse grave problema de saúde pública foram tema de reportagem publicada na edição de maio/junho da Revista Poli, ligada à Fiocruz.

Hoje, todas as doenças encontram-se com cobertura vacinal abaixo do necessário para imunização coletiva. E os maus resultados já começam a aparecer: o sarampo, que havia sido eliminado em 2016 no Brasil, segundo a ONU, voltou e está causando até mortes, especialmente em recém-nascidos. A poliomielite, que já voltou a aparecer em 28 países onde estava erradicada, pode retornar a qualquer momento com a taxa de vacinação atual. Difteria e rubéola, doenças que não haviam desaparecido mas estavam controladas, também estão à espreita.

A situação preocupa, mas a reportagem ajuda a esclarecer suas razões e aponta caminhos claros para resolvê-la. A chave da questão está em enxergar a multiplicidade de fatores que envolvem o problema: não se trata principalmente de um movimento antivacinista, coisa rara no Brasil. E a solução, mostra com clareza a reportagem, está em compreender cada realidade, em diálogo com as comunidades, e fazer busca ativa da população-alvo das vacinas.

Mas parece haver algumas motivações-chave para explicar o declínio da vacinação contra doenças. A mais determinante é também a mais paradoxal: o sucesso do Programa Nacional de Imunizações (PNI) ao longo de anos é responsável por seu atual fracasso. Melhor falando: a vacinação foi tão eficaz em prevenir doenças, que há gerações de pessoas que não conhecem o risco de uma doença como a paralisia infantil, por exemplo. 

Essa falta de percepção do problema faz esquecer a necessidade de conduzir as crianças – população em quem as vacinas são mais decisivas para conter as doenças – ao posto para tomar vacina. A própria covid ilustra claramente a questão: enquanto a doença era perigosa, levava centenas de milhares aos hospitais e obrigava ao isolamento social, os brasileiros compareceram em massa à campanha de vacinação. Agora que o risco se amenizou, a tendência caiu: apenas 41,5% já tomaram a dose de reforço.

Há ainda outro elemento importante – e bem mais prático – para o atraso da vacinação das crianças: a dificuldade de acesso. Há de se deixar claro que o PNI garante a chegada de vacinas nas regiões mais remotas do país. Mas às vezes o problema está mais próximo do que parece: em grandes cidades, por exemplo, apesar da ampla oferta, os horários são restritos e os adultos têm dificuldade de se ausentar do trabalho para levar as crianças. “Tem que vacinar em igreja, em templo, no posto de saúde em horário estendido, no final de semana, nas escolas, nas creches, no metrô, nos cinemas, nos teatros, nas praças públicas… Tem que levar a vacina até a criança”, explica à reportagem Márcio Nehab, pesquisador do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz).

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