Brasil: 94% quer investimento público em ciência

• Briga de gigantes da Big Pharma • Vacina contra chicungunha • Ministério da Saúde debate combate a arboviroses • Mortes por hipertensão e diabetes na pandemia • Marco regulatório da maconha medicinal •

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Quase todos os brasileiros defendem que o governo invista em pesquisa científica e tecnológica, indica uma sondagem realizada pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) e noticiada pela Agência Fapesp. 94% das pessoas entrevistadas acham que o investimento deve se ampliar ou continuar no atual nível, enquanto apenas 3% querem que esse valor diminua. Na mesma pesquisa, se identificou que 95% dos cidadãos ouvidos reconhecem o fenômeno das mudanças climáticas e 60% o vêem como um grave perigo. Contraditoriamente, a quantidade de entrevistados capazes de citar um cientista ou uma instituição científica brasileira importante é reduzida – mais especificamente, a menor da América Latina. Os que afirmaram não ter interesse em ciência tendem a ser pessoas de baixa renda e escolaridade. “Não há pessoas anticiência no Brasil. Há os excluídos, os exilados da cidadania científica”, avaliou um cientista da UFMG no lançamento do estudo.

Moderna ganha batalha de patentes contra Pfizer pela vacina da covid-19

Na sexta-feira (17/5), a Moderna venceu a Pfizer em uma batalha judicial em torno da patente da vacina da covid-19. A querela das gigantes farmacêuticas do Norte Global gira em torno da seguinte questão: a Moderna tem direitos de propriedade intelectual sobre a tecnologia de RNA mensageiro que está contida em diversos imunizantes contra o coronavírus? Na recente decisão, o Escritório Europeu de Patentes diz que sim, pelo menos na Europa. A Moderna alega que, para fazer a vacina Comirnaty – bastante utilizada no Brasil –, a Pfizer teria copiado seu invento e deveria ter pago royalties por ele. Contudo, a Pfizer afirma que o pronunciamento da autoridade patentária da Europa “não muda nosso posicionamento inequívoco e imutável de que essa patente é inválida”, e que continuará “fabricando a vacina Pfizer/BioNTech contra a covid-19”. O tom do comunicado sugere que o embate, que envolve lucros bilionários de ambas as empresas, está longe do fim.

Vacina contra chicungunha do Butantan tem mais de 99% de eficácia

Ensaios clínicos conduzidos no Brasil indicam que a vacina do Instituto Butantan para a chikungunya ainda gera resposta imune em 99,1% dos participantes do estudo após seis meses de aplicação. Os números indicam que o imunizante de dose única, desenvolvido em parceria com a farmacêutica europeia privada Valneva, é bastante eficaz. Em novembro do ano passado, o produto recebeu aval das autoridades sanitárias dos Estados Unidos para uso no país. No mês seguinte, o Butantan enviou um pedido de autorização à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) – que, desde então, conduz a análise da eficácia da vacina junto à Agência Europeia de Medicamentos. Nos termos do acordo de transferência de tecnologia com a Valneva, após o sinal verde da Anvisa, o Butantan poderá ofertar o imunizante ao Sistema Único de Saúde (SUS), o que deverá dar novo impulso ao enfrentamento à chikungunya no Brasil.

MS e cientistas discutem: como combater arboviroses?

Na semana passada, o Ministério da Saúde promoveu uma Oficina Internacional de Arboviroses, para debater junto a pesquisadores a construção de um plano de enfrentamento a essas doenças no Brasil. “A vacina é um instrumento em que acreditamos muito. Das tecnologias disponíveis, tem sido a mais resolutiva”, afirmou a ministra Nísia Trindade no evento. Outras ferramentas, como a vigilância em saúde, o controle vetorial e a mobilização social também foram discutidas. Além da dengue, zika e chicungunha, a Oficina analisou o cenário da febre oropouche – uma arbovirose que, neste ano, se disseminou para muito além de sua região endêmica, a Amazônia. Recentemente, o MS alertou para o fato de que a doença já causou 5 mil infecções espalhadas por 13 estados do país em 2024. “Estamos monitorando de perto e entendendo melhor essa nova arbovirose”, afirmou a secretária de vigilância em saúde Ethel Maciel à Agência Brasil.

Fiocruz: pandemia também matou de hipertensão e diabetes

Não só de covid-19 morreram os brasileiros durante a pandemia – os óbitos por diabetes mellitus e hipertensão também cresceram além do normal naquele período, sugere um estudo de pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Para o artigo Persistência de altas taxas de mortalidade por Diabetes Mellitus e Hipertensão após exclusão de mortes associadas à covid-19 no Brasil, publicado no periódico internacional PLOS Global Public Health, os estudiosos analisaram dados do SUS que indicam um aumento consistente das mortes causadas por essas doenças crônicas não-transmissíveis entre 2020 e 2022. Ele foi particularmente acentuado entre os jovens de até 29 anos, chegando a ser 24% maior em 2020-2021 do que nos anos anteriores à pandemia. Os autores do estudo também apontam que, no caso das doenças cardiovasculares, essa alteração na taxa de mortalidade também ocorreu a nível global, e não apenas no Brasil.

Anvisa quer seguir com atual marco regulatório do Cannabis medicinal

Durante a discussão sobre se mantém, altera ou extingue as regras para o uso medicinal da maconha no Brasil, a diretoria colegiada da Anvisa aprovou um relatório que defende continuar com o marco regulatório atualmente em vigor. O documento “apoia a manutenção da atual estratégia de autorização desses produtos no país”, resume a Agência Brasil. Qualquer proposta para mudanças na regulamentação da cannabis virá apenas no próximo passo da análise sendo feita pelos diretores, mas o avanço do relatório indica que tudo seguirá como está. Neste boletim de Outra Saúde, o leitor pode conferir uma análise do novo relatório da Anvisa feita por Paulo Fleury Teixeira, médico e especialista em medicina canabinoide.

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