Guantánamo é só a ponta do iceberg
Publicado 13/01/2009 às 11:55 - Atualizado 15/01/2019 às 18:11
Espera-se que Barack Obama emita logo ao tomar posse a ordem de fechar a prisão sem-lei. Mas a CIA pode ter, espalhado pelo mundo, um arquipélago de prisões secretas
Cresceram ontem as especulações segundo as quais o campo de prisioneiros dos EUA em Guantánamo (Cuba) — conhecido por inúmeros denúncias de desrespeitos aos direitos humanos — está com os dias contatos. Assessores de Barack Obama afirmaram à Agência AP, sob condição de anonimato, que uma ordem presidencial neste sentido será emitida logo após o novo presidente assumir a Casa Branca. Ao contrário do que se pensa, contudo, o ato não interromperá as violações aos direitos humanos praticadas contra prisioneiros por tropas norte-americana — em especial nas guerras do Afeganistão e Iraque.
Um texto publicado ontem pela Agência IPS ajuda a jogar luz sobre a rede de prisões secretas mantidas pelo exército dos EUA ou pela CIA em diversas partes do mundo, a pretexto da “Guerra contra o terror”. A matéria descreve a situação na base aérea norte-americana de Begram, próxima a Kabul, capital do Afeganistão. Criada em 2001, logo após a invasão do país, ela abriga hoje entre 600 e 700 prisioneiros — três vezes mais que Guantánamo. Denúncias bem documentadas de assassinatos, tortura e “desaparecimento” de prisioneiros levaram os EUA, em 2005, a tentar transferi-la para o governo afegão. Não houve sucesso. Ainda no ano passado, um relatório da Cruz Vermelha Internacional denunciou que abusos contra prisioneiros continuavam a ser praticados.
Em setembro de 2006, Le Monde Diplomatique publicou artigo revelando que a rede de prisões ilegais poderia ser ainda mais vasta: um verdadeiro “arquipélago”. Algumas da suas “ilhas” estariam situadas em países com regimes ditatoriais (Síria, Marrocos, Egito, por exemplo). Outras, porém, estariam situadas na própria Europa, em nações da esfera de influência de Washington, como Polônia e Romênia. Denúncias com este teor levaram uma comissão do Parlamento Europeu a determinar a investigação do tema.
O enfraquecimento do poder de George Bush e dos políticos e assessores “neoconservadores”, que o rodeavam, assim como a multiplicação das denúncias, podem ter amenizado as violações. Mas parece claro que, além do gesto simbólico importantíssimo do fechamento de Guantánamo, será preciso mais investigações e mudanças políticas e legais para interromper o desrespeito aos direitos humanos.
Estamos aguardando uma solução para Guantânamo e eventuais outras prisões secretas espalhadas pelo mundo