Eleições: o que a nova pesquisa revela

Lula continua forte, especialmente no Nordeste e entre católicos. Mas com Auxílio Brasil e naufrágio da 3ª via, Bolsonaro ganha musculatura, apoiado por Centro-Oeste e evangélicos. Tudo indica uma disputa polarizada, com a economia no centro

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Por Felipe Nunes, em seu twitter

A 9ª rodada da Genial/Quaest detectou tendência de melhora nas condições políticas de Bolsonaro. Seu governo tem 24% de avaliação positiva, 25% regular e 49% negativa. Entre novembro de 20021 e março desse ano, a rejeição ao governo caiu 7 pontos; a aprovação subiu 5 pontos.

A melhora no quadro político do governo se reflete de forma muito significativa em alguns estratos da população: na região Sul, avaliação positiva passou de 22 para 32%; na Norte, avaliação negativa caiu de 48 para 36%; entre os homens, a diferença entre avaliação positiva e negativa, que era de 24 pontos em fevereiro/22, passou para 14 pontos em março/22.

Entre os mais velhos (acima de 60 anos), a diferença também variou significativamente, passando de 30 em fevereiro/22 para 20 em março/22.

Todas as mudanças acontecem, coincidentemente, entre os segmentos sociais em que Bolsonaro teve bom desempenho em 2018. Não parece arriscado dizer, portanto, que o que estamos observando nada mais é do que “a volta dos que não foram”…

Em novembro/21, no auge da crise dos preços, a diferença entre avaliação positiva e negativa entre bolsonaristas era de apenas 11 pontos. Hoje, essa diferença é de 27 pontos. O eleitor de Bolsonaro está voltando para ele. O que pode estar acontecendo aqui? Eu vejo duas possibilidades.

Primeiro: o Auxílio Brasil está fazendo efeito nos eleitores que votaram em Bolsonaro em 2018. Nesse grupo que recebe o Auxílio Brasil, caiu 22 pontos quem acredita que o governo está pior do que o esperado. Entre quem não recebeu o Auxílio, a queda é bem menor, 6 pontos.

Segundo: a expectativa de que haverá uma terceira via fora da polarização Lula e Bolsonaro está cada vez menor. É a primeira vez na nossa série histórica que a torcida por uma vitória de Bolsonaro ultrapassa numericamente a torcida pelo candidato nem-nem [nem Bolsonaro, nem Lula].

Esse retorno de bolsonaristas fortalece a tese de que teremos uma eleição polarizada entre Lula (que continua forte) e Bolsonaro (que ganhou musculatura). No voto espontâneo, Lula aparece com 27% e Bolsonaro com 19% (3 pontos a mais do que na última pesquisa).

No cenário estimulado, Lula aparece com 44%; Bolsonaro ganha 3 pontos, indo a 26%; Moro e Ciro continuam com 7% cada. Apesar de Lula permanecer na liderança entre as intenções de voto, a diferença para Bolsonaro, que era de 22 pontos em fevereiro/22, passou para 18 pontos em março/22.

Quando comparamos o desempenho dos dois líderes da pesquisa entre segmentos, observamos algumas questões interessantes. Por exemplo, enquanto Lula dá de 60 x 15 no Nordeste, Bolsonaro virou no Centro-Oeste e está vencendo lá por 39 x 29.

Entre os evangélicos, Bolsonaro vence por 38 a 33; mas entre católicos, Lula bate o atual presidente por 51 a 21.

Essa melhora da situação de Bolsonaro poderia ter sido ainda maior, se não fosse pela guerra na Ucrânia e os preços da gasolina que fizeram a economia voltar a dominar a atenção das pessoas como principal problema do país no momento (51%), contra 12% que citaram a pandemia.

A situação econômica do país é, para 43% dos entrevistados, a principal razão de voto quando se escolhe um presidente. Ora, se a economia é um grande problema e é principal razão de voto, quem é mais identificado como a solução para o problema, acaba levando vantagem…

É o que ajuda a explicar a vantagem que Lula tem na pesquisa. Entre quem acredita que a situação econômica do país é a principal razão para se escolher um presidente, Lula aparece com 48% das intenções de voto, contra 20% de Bolsonaro.

No segundo turno, o cenário apresenta menos mudança. Lula continua vencendo todos os cenários com facilidade. Contra Bolsonaro, Lula marca 54% e ele 32%.

A rejeição de Bolsonaro continua alta (63%), enquanto a de Lula é a mais baixa entre os nomes conhecidos (42%).

A pesquisa investigou ainda qual a chance de haver um voto estratégico entre eleitores que preferem um candidato que não seja nem Bolsonaro, nem Lula. Os resultados são bem interessantes! 34% dos eleitores da terceira via topariam votar em Lula caso ele tivesse chance de vencer no 1º turno. Ou seja, Lula poderia crescer mais 8 pontos (34% de 25% que preferem a vitória do nem-nem).

Se Bolsonaro estiver ganhando vantagem, 23% dos eleitores do nem-nem topariam votar nele no primeiro turno para evitar a vitória de Lula. Ou seja, nessa movimentação estratégica Bolsonaro pode crescer mais 6 pontos (23% de 25% que preferem a vitória do nem-nem).

Guerra de narrativas

Destaco aqui a guerra de narrativas entre as campanhas. A pesquisa traz dados muito interessantes para mostrar como Bolsonaro e Lula conseguiram, cada um a seu modo, vencer a batalha dos discursos – cada um em seu campo. Enquanto a preocupação com a pandemia de covid-19 despenca, saindo de 67% em fevereiro/22 para 44% em março/22, Bolsonaro vai consolidando alguns argumentos importantes que lhe podem conferir vantagem narrativa na disputa deste ano…

Onde Bolsonaro acertou? 76% dos eleitores concordam que a pandemia foi tão grande que qualquer presidente teria dificuldade de enfrentá-la e 54% dos eleitores concordam que Bolsonaro acertou ao lutar contra o isolamento, que só atrapalhou a economia…

Onde Bolsonaro errou? 76% dos eleitores concordam que o Brasil tinha condições de se sair melhor na pandemia se o Bolsonaro não tivesse feito campanha contra a vacina e 63% discordam que Bolsonaro estava certo ao minimizar a força da pandemia.

Lula também tem vantagens e desvantagens na disputa de narrativas. Para 58% dos eleitores, Lula fez um governo ótimo ou bom quando foi presidente, mas quase metade (46%) acredita que ele foi condenado corretamente nos processos da Lava Jato. Esse seja talvez o maior problema que Lula tenha para fazer campanha hoje.

Ao fim e ao cabo, Lula consegue apoio da maior parte do eleitorado que acredita que foi tudo uma armação contra ele.

Quem ganhar a guerra das narrativas, deve ganhar a eleição.

Observação: A pesquisa foi realizada entre 10 e 13 de março por meio de duas mil entrevistas domiciliares em 120 municípios nas cinco regiões do país. A margem de erro estimada é de 2 pontos percentuais com 95% de nível de confiabilidade. A pesquisa está registrada no TSE sob o número BR-06693/2022.

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3 comentários para "Eleições: o que a nova pesquisa revela"

  1. luci disse:

    que seja assim

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