Moscou, 30 anos depois da URSS

Passeio pela cidade, em busca da presença soviética. Ela aparece na vasta rede de metrôs (projetados como “palácios do povo”). Insinua-se nos museus, parques e centros esportivos. E resiste na “cidade-máquina”, que resiste à especulação…

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Aquele Natal foi mesmo atípico. Quatro dias antes, depois de meses de impasse, 11 das 15 repúblicas componentes da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) tinham assinado a criação da Comunidade dos Estados Independentes (CEI) – cujo primeiro esboço saiu na reunião de Brest, em Belarus, em 8 de dezembro, com um comunicado em conjunto dos três presidentes das chamadas “repúblicas eslavas” (Belarus, Ucrânia e Rússia). E, na noite fria de 26 de dezembro de 1991, a bandeira da URSS deixou de tremular no Palácio do Kremlin, depois que o Parlamento soviético aprovara oficialmente a sua dissolução na sessão convocada extraordinariamente para aquela tarde. Política e economicamente, era o fim de um longo período caracterizado pela simbiose entre força militar, estratégia geopolítica e planificação econômica estatal, que desde a criação oficial da URSS, em 30 de dezembro de 19221, teimava em desafiar os oligopólios capitalistas, o sistema financeiro e a burguesia internacional.

Simbolicamente, a foice e o martelo estavam sendo substituídos pela águia bicéfala – uma cabeça no Ocidente e outra no Oriente, o símbolo-mor do império czarista, como determinado por Pedro, o Grande, no século XVIII. Para muitos analistas, este evento demarcou a entrada na globalização – dirigida, agora, por uma única superpotência. Ou o “fim da História”, um dos maiores equívocos já cometidos do ponto de vista intelectual. Mas, de fato, a “cortina de ferro” anunciada por Wilson Churchill em Fulton, nos Estados Unidos, em março de 1946, dissipara-se. Assim como a Guerra Fria, expressão cunhada pelo publicitário Herbert Swope para o político estadunidense Bernard Baruch – que a havia empregado pela primeira vez em abril de 1947.

Mas, 30 anos após a dissolução da URSS, e do consequente esfacelamento do Pacto de Varsóvia, será que existe alguma herança soviética em Moscou, capital e centro geopolítico e econômico do antigo bloco internacional comunista? Ou a famosa imagem da abertura da primeira loja do McDonald’s na cidade, em 1991, foi capaz de ofuscar décadas do constructo soviético? O fato é que qualquer viajante mais atento pode notar que a herança soviética está por todos os lugares da paisagem moscovita, a cidade mais populosa de toda a Europa (cerca de 12 milhões de habitantes), que respira história por todos os seus flancos. Uma viagem no tempo que cindiu corações e mentes em todo o planeta.

Lênin repousa no coração da cidade

“LÊNIN” (ou ЛЄНИН). Simples assim. No alfabeto cirílico, o mausoléu do grande líder da Revolução Bolchevique de 1917 dessa forma recebe os visitantes. Após a sua morte, em janeiro de 1924, os bolcheviques decidiram embalsar o seu corpo e colocá-lo em um mausoléu de madeira temporário até a decisão, tomada em 1929, da construção de um mais vistoso, de granito (projeto do arquiteto Aleksei Shchusev), a ser erguido na Praça Vermelha, adjacente à muralha do Kremlin (FOTO 1). Em 1933, o novo espaço foi oficialmente inaugurado, um sinal de respeito pela história e determinação do principal líder revolucionário do levante bolchevique que acabou se convertendo em peregrinação pela população local e turistas de todas as partes do mundo, apesar das longas filas – faça sol, chuva ou nevasca.

O corpo de Josef Stálin, que o sucedeu no comando da URSS até a sua morte, em março de 1953, chegou a ficar sete anos na mesma câmara mortuária do novo mausoléu, mas retirado depois da revelação de seus crimes políticos. O comunicado oficial assim foi divulgado: “A traição de Stálin ao legado de Lênin, o abuso de poder por ele empreendido, a repressão em massa contra cidadãos soviéticos honestos torna inaceitável manter o caixão que contém seu corpo no mausoléu de Lênin.”2 A ideia da construção de uma necrópole monumental para os líderes soviéticos também caiu por terra. Na calada da noite, o corpo de Stálin foi transferido para uma sepultura ao lado da muralha do Kremlin – e o seu nome retirado da entrada do mausoléu. A múmia de Lênin, entretanto, segue em exposição pública até hoje (houve alguns períodos de interdição), sob forte aparato de segurança. Das 10h às 13h, exceto segundas e sextas.

1 – Mausoléu de Lênin na Praça Vermelha / Autor: Daniel M. Huertas (14 jul. 2018).

O complexo sistema metroviário: “palácios para o povo”

No último quartel do século XIX, o governo czarista anunciou a ideia da construção de um sistema metroviário em Moscou, e até houve a discussão de um projeto em 1902. Poucos anos depois, as obras não avançaram mais de 200 metros. Faltavam técnica, material e mão-de-obra especializados. Mas Stálin, ao retomar o plano de um transporte público subterrâneo sobre trilhos como uma necessidade iminente do crescimento urbano de Moscou, resolveu ousar: as estações deveriam ser verdadeiras obras de arte, ou “palácios para o povo”. Um lugar no qual o trabalhador se sentisse valorizado, digno de sua condição de cidadão e partícipe do projeto socialista. Antes e depois de um dia de trabalho, haveria de extrapolar a simples ideia de um deslocamento físico. Decorados por revestimentos de mármore e granito, lustres garbosos, vitrais, afrescos e mosaicos coloridos, esculturas de porcelana, estátuas e placas de bronze, a entrada e o interior das estações foram concebidos para transmitir uma sensação de grandeza e leveza ao mesmo tempo, em vários estilos arquitetônicos3.

As obras foram iniciadas em dezembro de 1931, incluídas no 1º Plano Quinquenal (1928-33) stalinista. Foram convocados operários de toda a União Soviética, auxiliados por soldados do Exército Vermelho e cerca de 3 mil membros da União da Juventude Comunista (Komsomôl) – homenageada no nome da estação Komsomôlskaya, uma das mais vistosas de todo o sistema. O material de construção veio de várias partes do país, mas as técnicas construtivas foram importadas de engenheiros estadunidenses que haviam participado da construção do metrô de Chicago e Nova York. Em 15 de maio de 1935 foi inaugurado o primeiro trecho, de 11,2 km, com 13 estações, sob supervisão e gestão da Empresa Estatal Unitária da Cidade de Moscou. Em 1939 já eram 22, atendendo cerca de 1 milhão de passageiros.

Os melhores artistas e arquitetos da União Soviética foram convocados para transformar as estações do metrô em “palácios para o povo” – nada menos do que 44 são tombadas como patrimônio histórico-cultural nacional. Muitas delas são temáticas, alusivas a esportes, vitórias militares, ex-repúblicas soviéticas, estilo de vida soviético, trabalho, sempre repletas de obras de arte(FOTOS 2-11). Mesmo durante a Segunda Guerra Mundial (chamada pelos russos de “Grande Guerra Patriótica”), o sistema não deixou de ser expandido, com a construção de sete estações em pleno esforço de guerra. Entretanto, as estações foram estrategicamente transformadas em abrigos antibomba – algumas serviram para o uso de bibliotecas, lojas e salões. A estação Mayakóvskaya tornou-se quartel-general das Forças de Defesa Antiaérea, palco do discurso de Stálin, em 1941, para generais e partidários no aniversário da Revolução de Outubro. Kirovskaya (hoje Tchistye Prúdy) foi o banker do generalato durante todo o conflito.

Durante o período soviético, o sistema recebeu 149 estações e 231 km de trilhos (respectivamente, 53,5% e 51,1% do total atual), como ilustra o quadro abaixo:

PeríodoEstaçõesLinhasExtensão (em km)
Josef Stálin (1935-53)39454
Geórgiy Malenkov (1953)546,9
Nikita Kruschov (1953-64)24237,9
Leonid Brêjnev (1964-82)48375,5
Yúri Andrópov (1982-84)8019,4
Konstantin Tchernenko (1984-85)304,5
Mikháil Gorbatchov (1985-91)22032,8
URSS (1935-91)14913231
Federação Russa (1991-2019)1292221
Total geral127815452
Fonte: Museu do Metrô de Moscou.

Obs.: 1. Dados de novembro de 2021, incluindo estações e extensão das linhas do monotrilho e do Círculo Central de Moscou. Apenas para fins comparativos, o metrô de São Paulo, inaugurado em 1974, possui 6 linhas, 75 estações e 102,6 km de extensão.

Em 2012, a prefeitura anunciou o atual ciclo de expansão, com meta prevista de ampliação de 50% da malha em oito anos, fato que significa a construção de 70 novas estações, 42 km de novas linhas e expansão de 83 km de linhas existentes. Custo oficial: 100 bilhões de rublos (cerca de R$ 6,5 bilhões à época) por ano4. Assim, o segundo sistema metroviário mais movimentado do mundo, com cerca de 9 milhões de passageiros por dia (atrás apenas de Tóquio), pularia para 452 km de trilhos e 252 estações. Em 2019, com a inclusão ao sistema do Círculo Central de Moscou (MCC), grande linha circular do trem de superfície (de 69 km) iniciada nos anos 1980, chegou a 269 estações. Em tempo: a primeira linha circular do sistema, que conecta todas as demais, foi inaugurada totalmente na longínqua década de 1950.

10 – Entrada da estação Sportivnaya | Autor: Daniel M. Huertas (02 jul. 2018)
11 – Entrada da estação Krasnopresnenskaya | Autor: Daniel M. Huertas (03 jul. 2018)

Escultura “operário e camponesa”: sensação da Exposição Universal de 1937

Concebido pela escultora Vera Mukhina para celebrar a solidariedade entre o proletariado e o campesinato, o monumento “operário e camponesa”, ou “operário e mulher kolkoziana”, foi desmontado em 65 peças e levado em 28 vagões de trem para adornar o pavilhão da URSS na Exposição Universal de Paris, de 1937. Com 24 metros de altura e forjado em 80 toneladas de aço inoxidável, levou 11 dias para ser novamente montado no topo do pavilhão – e, por ironia do destino, ficou frente a frente com o pavilhão da Alemanha nazista, com uma águia segurando uma suástica, durante o evento realizado no bulevar em frente à Torre Eiffel. Considerada uma obra paradigmática do realismo socialista soviético, quase ficou em Paris, tal o desejo manifestado pela população local diante de sua beleza e imponência. O simbolismo de dois trabalhadores com seus instrumentos de trabalho (a foice e o martelo) em atitude de força, otimismo no futuro e orgulho, emoldurados pela ideia de movimento com a luz refletida nas placas de aço, causaram grande impacto. Mas os dirigentes soviéticos resolveram levá-la de volta a Moscou, com o objetivo de celebrar o 20º aniversário da Revolução Bolchevique. Novamente desmontada em pedaços e danificada ao longo do trajeto, necessitou de alguns reparos antes de ser definitivamente instalada em um pedestal de 10 metros na movimentada Prospekt Mira.

Em meados dos anos 1970, já havia sido constatada a necessidade de uma grande restauração, adiada por causa da falta de recursos. Apenas em 2003 a obra foi totalmente desmontada em 17 partes para ser submetida a uma restauração digna de sua magnitude. O governo resolveu restituir o projeto original do pavilhão russo de 1937 (de autoria do arquiteto Boris Iofan), com 34 metros de altura, para albergar o monumento em seu topo, a partir de 2009 (FOTOS 12-13). Nada mais justo para um dos símbolos de orgulho da URSS (foi estampado em selos, cunhado como moeda comemorativa e virou o emblema do Mosfilm, antiga empresa cinematográfica estatal da URSS), e que tanto extasiou grande parte daqueles que estiveram na exposição de 1937.

12 – Monumento no topo da réplica do pavilhão soviético de 1937 | Autor: Daniel M. Huertas (16 jul. 2018)
13 – Detalhe da foice e do martelo / Autor: Daniel M. Huertas (16 jul. 2018)

Concepção e implantação da Exposição de Realizações Econômicas da URSS (VDNHk)

Uma área inóspita de 136 hectares na periferia nordeste da cidade (próxima ao Parque Ostankino), então ocupada por ciganos e floresta, foi escolhida, em 1935, para sediar a Exposição Agropecuária da União (VSHV, em cirílico), uma espécie de efeito-demonstração de 100 dias para buscar comprovar a eficiência das fazendas coletivas (kolkozes). A inauguração, marcada para celebrar o 20º aniversário da Revolução Bolchevique, em 1937, foi adiada para 1º de agosto de 1939, com 52 pavilhões e 200 edifícios erguidos ao longo do terreno. A cerimônia inaugural contou com cerca de 10 mil pessoas, mas 3,5 milhões de visitantes estiveram no evento nos primeiros 85 dias. “Ali, os destinos das pessoas eram transformados: elas chegavam na qualidade de simples operários, mas deixavam o lugar como vencedores de concursos e detentores de condecorações que rapidamente faziam carreira nas suas regiões”5.

Gradativamente, o parque de exposições foi se tornando um espaço turístico e de lazer, que durou até 1º de julho de 1941, por causa da entrada da URSS na Segunda Guerra Mundial. Os pavilhões foram desativados, o gado, evacuado, e alguns funcionários se alistaram na milícia popular. Em 1942, serviu de palco para treinamento de unidades militares. Com o fim do conflito mundial, o Conselho de Ministros decidiu reabilitar a antiga exposição, o que ocorreu de fato apenas em 1954, mas com um acréscimo de 71 hectares à área original. Vários pavilhões foram reconstruídos e outros novos erguidos. Uma nova entrada principal foi implantada, com um arco triunfal de cinco vãos, obra do arquiteto Innokenty Melchakov. Acima dele foi posta uma escultura com um tratorista e uma mulher kolkoziana carregando um feixe de trigo. Outro destaque foi a construção da fonte “Amizade entre os povos”, que simboliza a diversidade étnica da URSS com 16 estátuas banhadas de ouro de moças com trajes típicos. No centro da fonte, há a representação de três grandes lavouras: trigo, girassol e cânhamo.

Em 1959, um fato inusitado: na estratégia da “coexistência pacífica” da Guerra Fria, Estados Unidos e União Soviética assinaram um acordo de troca mútua e simultânea de exposições, durante seis semanas. Uma no Coliseu de Nova York e outra no complexo do VSHV. Assim, a ideia original destinada à atividade agropecuária foi deslocada para uma mostra de bens de consumo, mas o presidente estadunidense Richard Nixon, que percorreu toda a área em uma limusine aberta, não se surpreendeu com o que viu.

A partir desse episódio, surgiu uma nova ideia oriunda do Conselho de Ministros, que acabou se tornando uma das maiores e fascinantes vitrines da URSS: a Exposição de Realizações Econômicas da URSS (VDNHk, em russo), que contou com fartos investimentos em transporte, alojamento e alimentação das delegações que a visitariam. O país se transformaria “em um campeonato em que se buscavam recordes na indústria e na agricultura”, com distribuição de prêmios e recompensas que funcionariam como um sistema “melhor do que qualquer propaganda”6. Em 1963, a agricultura deu lugar à ciência e à atividade industrial, com pavilhões alusivos à eletrotécnica, química, saúde, física, metalurgia, tecnologia da computação, entre tantos outros. Três anos depois, um pavilhão foi reservado para a Exposição Internacional de Máquinas Agrícolas. No ano seguinte, cinquentenário da Revolução de Outubro, foi a vez da construção dos pavilhões da indústria do gás, de bens de consumo e o da URSS, trazido diretamente da Exposição Universal de Montreal.

Nos anos 1970, o VDNHk albergou diversos eventos internacionais e nacionais, como o Festival Internacional da Juventude e congressos científicos e tecnológicos, além da exposição sobre os 60 anos do cinema soviético e a inauguração do oceanário. Em 1988, a crise econômica que antecedeu a derrocada soviética fez o Estado suspender os repasses para a sua manutenção e gestão, e a administração do complexo se viu obrigada a buscar outras formas de financiamento, dando início ao arrendamento de pavilhões (alguns viraram armazéns) e outras áreas úteis. Em 1992, o complexo foi renomeado para Centro de Exposições de toda a Rússia (VVTs), quando ocorreu o fechamento de praticamente todos os eventos – à exceção dos dedicados à agropecuária. Na primeira década do século XXI, restaram apenas o parque de diversões e os pavilhões de intercâmbio comercial com os países surgidos com a dissolução da antiga URSS. Dois pavilhões foram destruídos por um incêndio.

A situação começou a melhorar em 2009, quando três pavilhões passaram a receber mostras e exposições novamente, e houve a inauguração de um pavilhão multimídia (MosExpo) com todas as credenciais de um espaço moderno. Congressos, eventos e cursos voltaram à cena. Após quase ser desativado totalmente, em prol da construção de um condomínio residencial, algo próximo da época áurea do VDNHk ressurgiu em 2013, quando o governo de Vladimir Putin entregou o complexo para a Prefeitura de Moscou. Após consulta popular, 90% dos votantes escolheram o nome antigo. O recomeço foi iniciado em 2014, com um árduo trabalho de emergência nos pavilhões e uma grande operação de limpeza em todo o complexo. Surgiram novos espaços e atrações para o público. A segunda etapa ocorreu a partir de 2017, com uma reconstrução em grande escala do complexo e melhoramentos no piso. A infraestrutura elétrica, hidráulica e de comunicações foi completamente incrementada, e as 14 fontes receberam operações de restauração. Tudo foi executado em estrita conformidade com o projeto de 1954 (FOTO 14).

A exploração do complexo foi concedida à iniciativa privada, mas a entrada é gratuita. Em 2019, houve a celebração do 80º aniversário da exposição, com a inauguração de novos espaços e a reinauguração de antigos (FOTOS 15-20). O complexo alberga museus, exposições, oceanário (Moskvarium), áreas de lazer, cafés e restaurantes, shows, concertos e, durante o inverno, um dos melhores ringues de patinação da cidade. Atualmente é uma das principais atrações de Moscou, seja para a população local, seja para os turistas.

14 – Maquete do projeto de 1954 (sem data) / Fonte: <https://media.vdnh.ru/works/5963> Acesso em: 25 nov. 2021.
15 – Pórtico de entrada do complexo / Autor: Daniel M. Huertas (16 jul. 2018)
16 – Pavilhão central / Autor: Daniel M. Huertas (16 jul. 2018)
17 – Estátua de Lênin em frente ao pavilhão central / Autor: Daniel M. Huertas (16 jul. 2018)
18 – Icônica fonte “Amizade entre os Povos” / Autor: Daniel M. Huertas (16 jul. 2018)
19 – Pavilhão Kosmos, temático da indústria aeroespacial, e uma cópia do foguete Vostok-1 / Autor: Daniel M. Huertas (16 jul. 2018)
20 – Estátua de bronze na entrada do pavilhão da Ucrânia / Autor: Daniel M. Huertas (16 jul. 2018)
21 – Anexo do antigo pavilhão da Ucrânia / Autor: Daniel M. Huertas (16 jul. 2018)
22 – Detalhe de pavilhão em reforma / Autor: Daniel M. Huertas (16 jul. 2018)

Arranha-céus monumentais para ilustrar a primeira grande expansão urbana do pós-guerra

No final da década de 1940, Stálin não admitia a ideia de que Moscou não ostentava arranha-céus do porte de Nova York e Chicago. Era preciso romper as alturas, elevando o simbolismo do regime – e da vitória na Segunda Guerra – aos limites do céu. Concebidos como verdadeiros ícones do progresso socialista, os sete arranha-céus construídos entre 1947 (quando da emissão de um decreto de autorização pelo Conselho dos Ministros) e 1954, ao longo do Anel dos Jardins (segundo cinturão ao redor do centro, artéria nevrálgica para a expansão urbana de Moscou no pós-guerra), deixaram a sua marca com a chamada arquitetura stalinista. Também conhecida como classicismo monumental, trata-se de uma espécie de mistura de barroco soviético com estilo gótico caracterizada por estrutura em cascata (como um bolo de muitas camadas), abóbadas altas, grandes vãos abertos, uma torre, uso constante de mármore na decoração e amplos lobbies na entrada.

Obras monumentais, luxuosas e imponentes (o prédio mais baixo tem 136 metros de altura), ornamentadas pela famosa estrela soviética no topo (com uma única exceção) e com seu próprio bunker subterrâneo. De fato, são uma marca registrada e onipresente na paisagem moscovita, conhecidas no exterior por “Sete Irmãs” – e por “arranha-ceús de Stálin” pelos russos.

1- Antigo Hotel Leningrado (136 metros de altura): atual Hotel Hilton Leningradskaya (FOTO 23);

2- Edifício de uso misto na Krasnye Vorota (138 metros de altura): antiga sede do Ministério da Construção de Transportes, em conjunto com 270 apartamentos residenciais instalados nas duas alas laterais (FOTOS 24-26);

3- Praça Kudrinskaya (156 metros de altura): uso residencial (FOTOS 27-29);

4- Sede do Ministério dos Assuntos Exteriores (172 metros de altura): o único sem a estrela no topo (FOTOS 30-32);

5- Edifício do cais Koteniltcheskaya (176 metros de altura): uso residencial, com 700 apartamentos e o tradicional cinema Illuzion (reaberto em 2018) à disposição da intelligentsia (FOTO 33);

6- Antigo Hotel Ukraina (206 metros de altura): desde 2010, após ser reformado, alberga o Radisson Royal Hotel (FOTOS 34-35);

7- Edifício principal da Universidade Estatal de Moscou (240 metros de altura).

Dois arranha-céus planejados não foram construídos – o Palácio dos Sovietes (o projeto previa 420 metros de altura e uma enorme estátua de Lênin no topo) e o Edifício Administrativo Zariadie (que acabou dando lugar ao Hotel Rossiya, de 1964, mais tarde demolido para ceder espaço ao moderno Parque Zariadie) –, mas, já no século XXI, um outro foi inaugurado no mesmo estilo arquitetônico, com um dos metros quadrados mais caros da cidade – e 150 metros de altura. Goste-se ou não desses monumentos, é impossível ficar indiferente a eles, tamanha a amplitude que alcançam no horizonte de Moscou, literalmente abraçando as construções que estiverem ao seu redor.

23 – Antigo Hotel Leningrado / Autor: Daniel M. Huertas (03 jul. 2018)
24 – Edifício na Krasnye Vorota / Autor: Daniel M. Huertas (03 jul. 2018)

25 – Entrada do edifício na Krasnye Vorota / Autor: Daniel M. Huertas (03 jul. 2018)
26 – Edifício na Krasnye Vorota com o brasão de armas da antiga URSS/ Autor: Daniel M. Huertas (03 jul. 2018)
27 – Edifício na Praça Kudrinskaya / Autor: Daniel M. Huertas (03 jul. 2018)
28 – Detalhes do edifício na Praça Kudrinskaya
29 (abaixo) – Entrada do edifício na Praça Kudrinskaya / Autor: Daniel M. Huertas (03 jul. 2018)
30 – Cúpula do Ministério dos Assuntos Exteriores / Autor: Daniel M. Huertas (03 jul. 2018)
31 – Entrada do Ministério dos Assuntos Exteriores / Autor: Daniel M. Huertas (03 jul. 2018)
32 – Fachada central do Ministério dos Assuntos Exteriores / Autor: Daniel M. Huertas (03 jul. 2018)
33 – Edifício do cais Koteniltcheskaya / Autor: Daniel M. Huertas (05 jul. 2018)
34 – Antigo Hotel Ukraina / Autor: Daniel M. Huertas (02 jul. 2018)
35 – Ala lateral do antigo Hotel Ukraina / Autor: Daniel M. Huertas (02 jul. 2018)

Corrida espacial: para o alto e avante

A corrida espacial com os Estados Unidos também animou os corações e mentes durante a Guerra Fria. Símbolos de poder tecnológico e militar, todos os aspectos ligados à conquista do espaço foram meticulosamente planejados pelos dirigentes soviéticos como representação de uma era na qual o futuro estaria reservado para a glória do progresso socialista. Em 1946, Stálin já havia assinado a decisão de construir um foguete, fornecendo todas as condições a Serguei Korolev, líder do programa. Em 1952, um decreto de Stálin, em consonância com a ordem geral da Força Aérea, criou um grupo de assistentes militares para testes na base do Instituto de Pesquisa Científica para a Medicina da Aviação (NIIAM, na sigla em russo). A seleção era rigorosíssima – foram aceitos apenas 25 militares entre 5 mil habilitados à posição de pré-cosmonautas – e os pesquisadores desse órgão secreto seriam futuros acadêmicos.

Em agosto de 1957, o primeiro foguete intercontinental do mundo, o P-7, foi testado com sucesso. Em 4 de outubro de 1957, o movimento inicial mais audacioso da competição foi obra soviética, com o lançamento exitoso do Sputnik, o primeiro satélite artificial a gravitar no espaço sideral. A façanha levou angústia aos EUA (pelo temor da capacidade do rival em criar e utilizar mísseis balísticos de longo alcance) e forçou os estadunidenses a empreender novas ações para se equiparar ao poderio espacial soviético – a criação da Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço (Nasa, na sigla em inglês) foi a principal delas, em 1958.

O Sputnik, visível com binóculos antes da alvorada e logo após o poente, viajou até um ponto 940 km distante da Terra, com perigeu (ponto da órbita mais próximo do astro em torno do qual gravita) de 230 km, transmitindo sinais de rádio fortes o suficiente para serem captados por operadores de rádio amadores. “Ele passou sobre a América do Norte diversas vezes por dia, e os cidadãos norte-americanos com acesso a tais equipamentos puderam ouvir a nave espacial soviética zunindo sobre suas cabeças”7. O satélite continuou enviando sinais de rádio por 22 dias (a despeito de suas três baterias terem sido projetadas para durar duas semanas) e queimou na atmosfera em 4 de janeiro de 1958, após ter orbitado 1.400 vezes ao redor da Terra. Menos de um mês depois do lançamento do Sputnik, em 3 de novembro de 1957, a cadela Laika foi o primeiro animal a viajar para o espaço, servindo de cobaia para futuros cosmonautas, a bordo da nave Sputnik-2 – mas acabou morrendo entre cinco e sete horas após o lançamento, bem antes do esperado.

Mas o apogeu do programa espacial soviético não tardou. Em 12 de abril de 1961, Iuri Alexeievitch Gagarin, então com 27 anos, tornou-se o primeiro ser humano a viajar para o espaço a bordo da nave Vostok-1, num voo de 108 minutos que realizou apenas uma órbita ao redor da Terra. No final dos anos 1950, havia iniciado a sua carreira como piloto militar, posteriormente escolhido para protagonizar uma missão espacial entre 3 mil candidatos – reduzidos a 20, e por último, a seis, no estágio final da rigorosa preparação, na Cidade das Estrelas, sede do Centro Estatal de Pesquisa Científica, Provas e Preparação de Cosmonautas. A agência de notícias TASS anunciava ao mundo o feito histórico e multidões saíram às ruas em várias partes do planeta para celebrá-lo. Os jornais foram vendidos em tempo recorde. Na URSS, foi visto como uma prova da recuperação e do avanço do país depois de uma guerra que aniquilara cerca de 25% de sua população na geração anterior.

Dois dias depois do pouso seguro em solo soviético, Gagarin foi levado de avião a Moscou e recebido oficialmente por Khruschov. Uma multidão aglomerava-se dentro e fora das dependências do aeroporto Vnukovo. Naquele 14 de abril foi decretado feriado nacional e houve uma carreata gigantesca na capital soviética. Os telhados dos edifícios da Leninsky Prospekt ficaram amontoados, pois todos queriam ver o novo herói nacional. Helicópteros lançavam panfletos de saudação ao cosmonauta. Na Praça Vermelha, outra multidão o aguardava na recepção oficial oferecida pelos dirigentes soviéticos.

Após desfrutar de um merecido descanso, Gagarin excursionou por toda a URSS, dando palestras, autógrafos e participando de várias reuniões. E, logo em seguida, a turnê (ou “Missão da Paz”) foi estendida para 30 países em dois anos, incluindo Cuba, Japão, México, Bulgária, Brasil, Grã-Bretanha (tomou café da manhã no Palácio de Buckingham com a Rainha Elizabeth II), Noruega, Índia e França, entre outros. Em 29 de julho de 1961, Gagarin desembarcou em Brasília, onde foi agraciado pelo presidente Jânio Quadros, no Palácio do Planalto, com a Ordem do Mérito Aeronáutico. Depois seguiu para o Rio de Janeiro, recepcionado no Galeão por cerca de 60 sindicatos e uma multidão. Também foi recebido na sede da União Nacional dos Estudantes (UNE), na Praia do Flamengo, e no Sindicato dos Metalúrgicos. Em São Paulo, apresentou uma palestra para 2 mil pessoas no Ginásio do Ibirapuera. Um decreto presidencial de 3 de agosto daquele ano criou o Grupo de Organização da Comissão Nacional de Atividades Espaciais (GOCNAE), que seria o embrião do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). O Brasil não mantinha relações diplomáticas com a URSS, mas a visita do cosmonauta soviético contribuiu para o reatamento, oficializado reciprocamente em dezembro de 19618.

A URSS havia acertado na estratégia de soft power e na escolha de seu novo embaixador de escala mundial, mesmo sem ter recebido convite dos EUA. Afinal, a imagem do comunismo estava desgastada pelas revelações dos crimes de Stálin cinco anos antes e necessitava ser arejada com conquistas científicas e um novo discurso. Imediatamente, o cosmonauta também foi transformado no mais emblemático ícone da propaganda soviética, que inundou o país com pôsteres (FOTOS 36-42) e objetos alusivos (selos, moedas, camisetas, cadernos, flâmulas, bonecos, porcelanas, broches etc) ao feito de 1961. Para celebrar o 1º aniversário de seu voo, Gagarin fez um pronunciamento oficial em 1962 exaltando o programa espacial soviético e a busca pela paz, que agora estaria entronizada nos desígnios do regime:

“(…)
O voo da espaçonave soviética Vostok-1 não apenas deu início a uma nova era na exploração espacial. Também enviou uma mensagem de paz e mostrou a benevolência dos povos de nossa pátria que está construindo o comunismo para com todos os povos da Terra.
(…)
O povo soviético é pela paz, tanto na Terra quanto no espaço. Isso foi enfatizado, mais de uma vez, na carta de Nikita Serguêievitch Khruschov ao presidente dos Estados Unidos, Kennedy, no que tange à exploração e uso do espaço. Todas as nações expressaram apoio às propostas claras e concisas feitas pelo líder soviético, porque sua implementação abriria caminho para cessar a onerosa e inútil corrida armamentista, bem como canalizar os esforços conjuntos de ambas as superpotências em direção a novos avanços científicos na exploração espacial.

(…)

Que haja paz!”9

Diante da magnitude da conquista, Moscou necessitava de um espaço fixo para eternizá-la. Assim surgiu a ideia da criação de um monumento e um museu dedicados à cosmonáutica, um dos setores mais avançados do socialismo real. Em 1964 foi inaugurado o Monumento aos Conquistadores do Espaço, até hoje o segundo mais alto da Rússia, com 107 metros (FOTO 43). Fiel ao modernismo soviético, retrata um foguete em decolagem em um ângulo de 77 graus assentado em uma estrutura de 250 toneladas de aço. A sua base abriga o Museu da Cosmonáutica, um dos mais visitados de Moscou, que começou as ser construído em 1967.

Depois de sua amplificação como lenda, os dirigentes soviéticos decidiram desligar Gagarin do programa espacial, pois temiam perder a reputação obtida se algo acontecesse com ele. O cosmonauta voltou às atividades militares aeronáuticas após um período depressivo e com alguns problemas pessoais. Mas veio a falecer inesperadamente em 27 de março de 1968, aos 34 anos, em um acidente aéreo a cerca de 130 quilômetros de Moscou, quando pilotava um caça MIG-15, em voo de treinamento, na companhia do instrutor Vladimir Serioguin. Apesar de ter recebido um funeral digno de chefe de Estado – seus restos mortais foram enterrados na necrópole da muralha do Kremlin, adjacente ao Mausoléu de Lênin –, as circunstâncias do acidente nunca foram devidamente esclarecidas10.

Cabe ressaltar que, mesmo com o avanço sistemático de seu programa espacial, a URSS não enviou nenhum cosmonauta para a Lua11, façanha que coube à expedição estadunidense Apollo 11, em 20 de julho de 1969. Interessante que Neil Armstrong, o primeiro homem a pisar em solo lunático, visitou a URSS no ano seguinte, por ocasião da 13ª Sessão do Comitê Internacional de Pesquisa Espacial, em Leningrado (atual São Petersburgo), onde delegados de 30 países se reuniram para ouvir a sua palestra. Após uma passagem por Novosibirsk, na Sibéria, para visitar a casa onde viveu e trabalhou o cientista Iuri Kondratiuk (autor dos cálculos utilizados pela Nasa no programa Apollo), voou para Moscou. Em meio à extensa agenda, fez questão de depositar flores no túmulo de Gagarin, na Praça Vermelha, e de conhecer a sua viúva, Valentina, e a do cosmonauta Vladimir Komarov, o primeiro homem a morrer no espaço.

A visita de Armstrong foi fundamental para o incremento das relações entre as duas superpotências em plena Guerra Fria e abriu caminho para o primeiro voo espacial tripulado experimental soviético-estadunidense, o Soyuz-Apollo, em 1975. Mas o mito criado em torno da figura de Gagarin nunca desapareceu do imaginário coletivo soviético. Tanto que em 1980 foi erguida em uma praça da Leninsky Prospekt uma estátua de titânio (mesmo material utilizado na fuselagem das naves espaciais), com 42,5 metros de altura, na qual Gagarin literalmente está em posição de ascensão para a estratosfera. Um monumento imponente que procurou transmitir vigor, confiança e determinação, qualidades de um momento único na história soviética.

Em 1981, na celebração do 20º aniversário do voo de Gagarin, foi aberto ao público o Museu da Cosmonáutica. A instituição oferece uma boa retrospectiva do envolvimento científico soviético com a exploração espacial, mostrando artefatos tecnológicos, propaganda, réplicas de foguetes e satélites e os programas de exploração da Lua e do Sistema Solar e os programas internacionais de pesquisa espacial. A cápsula original utilizada no voo de Gagarin é um dos destaques do acervo, que contém ainda a relação (com foto e dados básicos) de todos os cosmonautas do mundo. Em tempo: a primeira mulher cosmonauta do mundo, Valentina Terechkova, também foi obra do programa espacial soviético.

43 – Monumento aos Conquistadores do Espaço / Autor: Daniel M. Huertas (16 jul. 2018)

O sorriso de Misha para o mundo: entrelaçamento entre o Plano Diretor de 1971 e os Jogos Olímpicos de 1980

O boicote do bloco ocidental liderado pelos Estados Unidos à Olimpíada de Moscou – que se tornou a primeira realizada em um país socialista – talvez tenha sido um dos últimos grandes lances da Guerra Fria. Mas a ausência de 64 países (que também incluiu, além dos EUA, Canadá, Argentina, Chile, Turquia, Alemanha Ocidental, Japão e Indonésia, entre outros), tendo como justificativa a invasão soviética no Afeganistão, em 1979, não diminuiu o ânimo dos dirigentes soviéticos pela realização de um grande evento12. O Plano Diretor de Moscou de 1971 já havia previsto a implantação de vários centros esportivos por toda a cidade, fato que havia contribuído para a realização de vários eventos esportivos de nível nacional e internacional – como, por exemplo, os Jogos Estudantis Mundiais de Verão de 1973 e a Spartakiade13 de 1975. A escolha das Olimpíadas pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) em 1974, desbancando Los Angeles, apenas acelerou a implantação de complexos esportivos ou de instalações individuais já previstas.

O supracitado Plano Diretor dividiu a então capital soviética em oito zonas de planejamento, e todas elas deveriam contar com seus próprios centros sociais e recreativos, incluindo o acesso a práticas esportivas como elemento de educação física aos moradores locais. Para os Jogos Olímpicos, o Comitê Organizador decidiu pelo uso de instalações construídas ou a construir em seis das oito zonas, garantindo, assim, a racionalização prevista pelo plano e a garantia de seu legado visando o bem-estar e o lazer dos cidadãos. “Apenas as instalações mais essenciais foram construídas e apenas àquelas que não deveriam permanecer como monumentos à vaidade, mas que seriam de uso constante para o benefício da população soviética. Este conceito foi implementado com sucesso”, assim justificou o relatório entregue ao COI pelo Comitê Organizador14. Cerca de 500 engenheiros e arquitetos se engajaram na concepção e execução das obras civis, com a busca simultânea por padrões arquitetônicos modernos e econômicos. Os complexos esportivos foram distribuídos da seguinte forma:

  • Zona Central (Estádio Central Lênin): construído para as finais da Spartakiade de Verão de 1956, trata-se de um complexo esportivo (três ginásios, ringue de patinação, quadra de tênis, piscina e duas áreas de treino) servido por duas estações de metrô e remodelado para as Olimpíadas. Rebatizado de Arena Luzhniki, sofreu nova intervenção para sediar a final da Copa do Mundo de 2018, cujo projeto conciliou a estrutura original com a modernização de algumas áreas e a colocação de uma cobertura (FOTOS 44-45);
  • Zona Norte (proximidades da Prospekt Mir): maior complexo esportivo erguido em Moscou na década de 1970, com estádio coberto para 30 mil espectadores e piscina. Tornou-se o principal palco de shows da cidade;
  • Zona Noroeste (Avenida Leningrado e zona Khimi-Khovrino): abrange o complexo do Dynamo Central (dois estádios, dois campos de treinamento, ginásio de hóquei, quadra de tênis coberta e piscina), Estádio dos Jovens Pioneiros, Dynamo Palácio dos Esportes e Complexo do CSKA (estádio, 5 ginásios, piscina e quadra de tênis). Muitos desses espaços foram modernizados e continuam em atividade;
  • Zona Oeste (Krylatskoye): complexo com velódromo (no formato de uma borboleta), circuito ciclístico, canal de remo e canoagem e campo de arco e flecha. Em uso permanente;
  • Zona Leste (zona Sokolniki-Izmailovo): complexo com ginásio, piscina, estádio e campo de treino. Foi absorvido pela Universidade Estatal de Educação Física;
  • Zona Sul (Parque Florestal Bitza): complexo equestre com arena, hospital veterinário, estábulos, dois estádios e campo de treinamento. Em uso permanente.

Ademais, o evento proporcionou um vasto incremento na infraestrutura da cidade e de algumas instituições. O Centro Técnico de Televisão e a torre de transmissão, construídos em 1967 para a celebração do 50º aniversário da Revolução Bolchevique, recebeu dois novos prédios para se tornar o Complexo Olímpico de Rádio e Televisão (OTVRC), em Ostankino (FOTO 46). O prédio do Sistema Central de Computação (ACS), erguido adjacente ao Estádio Central Lênin, foi posteriormente transformado na sede do Comitê Olímpico Soviético (Russo na atualidade). Antes de albergar a Agência de Notícias Novosti, o majestoso edifício iniciado em 1976, no movimentado Anel do Jardim, foi o Centro de Imprensa, onde cerca de 3 mil jornalistas credenciados dispuseram de excelentes condições de trabalho. A Vila Olímpica ocupou um terreno de 107 hectares com um conjunto de 18 prédios residenciais de 16 andares cada e um complexo esportivo, cujo uso posteriormente foi destinado a 14.500 pessoas. Durante o evento, foi oferecida aos atletas uma vasta programação cultural nas dependências da vila, com apresentações de teatro, dança, balé, circo e concertos.

O Aeroporto Sheremetyevo ganhou um novo terminal, que atualmente serve grande parte das companhias aéreas europeias. Como os hotéis adjacentes à área central da cidade ficaram reservados às autoridades e aos profissionais envolvidos no evento, foi erguido um complexo turístico em Izmailovo (FOTO 47), de 9.810 leitos, para acomodar os turistas oriundos de todas as partes do mundo. O complexo se mantém ativo e, além dos hotéis, abriga bares, restaurantes, museus e o principal mercado de pulgas e antiguidades da cidade (FOTO 48) em um conjunto que reproduz um típico kremlin russo, com construções de arquitetura medieval. Destaque também para o erguimento do icônico Hotel Kosmos (FOTO 49), em 1979, com 25 andares forjados em uma estrutura semicircular, o primeiro da URSS a receber uma série de inovações (como sistema de aquecimento central, por exemplo). Até hoje o hotel mais visitado da Rússia, com oito salas de conferência e uma área para exibições de até 1.300 m2.

Segundo o relatório oficial do evento, dos 5.837.130 ingressos colocados à venda, 93,6% foram comercializados, dos quais 1.323.790 para estrangeiros de 78 países por intermédio de agências de turismo. Tudo foi organizado para o centro geopolítico do bloco comunista brilhar, mas, segundo a fotógrafa russa Anastasia Tsayder, muitos analistas acreditam que os custos com o evento (cerca de US$ 9 bilhões à época) contribuíram para o subsequente colapso financeiro da URSS15. “Se eu soubesse o que seriam os Jogos Olímpicos, nunca teria dado benção para receber o evento”, teria dito o chefe do governo soviético, Aleksei Kosiguin, ao presidente do COI, Micheal Killanin16.

Tsayder revisitou quase todos os locais do evento para fotografá-los 35 anos depois, pois queria “contar a história sobre as esperanças de uma utopia futurística encapsulada nesta arquitetura”, mas revelou que encontrou muitos locais ainda utilizados para propósitos esportivos, enquanto outros foram remodelados ou estavam meio abandonados17. O fato é que, pelo menos na paisagem, o sucesso das Olimpíadas de 1980 (apesar do boicote liderado pelos EUA) ainda pode ser encontrado em quase todas as partes da cidade. E, claro, o sorridente ursinho Misha foi popularizado em todo o planeta, tornando-se um dos mascotes olímpicos mais queridos e lembrados de todos os tempos (FOTO 50).

44 – Vista geral da Arena Luzhniki com a cidade ao fundo / Autor: Daniel M. Huertas (09 jul. 2018)
45 – Estátua de Lênin na alameda de acesso à Arena Luzhniki / Autor: Daniel M. Huertas (11 jul. 2018)
46 – Complexo Olímpico de Rádio e Televisão (OTVRC) / Autor: Daniel M. Huertas (04 jul. 2018)
47 – Hotéis do complexo turístico de Izmailovo / Autor: Daniel M. Huertas (15 jul. 2018)
48 – Relíquias do tempo soviético no mercado de pulgas / Autor: Daniel M. Huertas (15 jul. 2018)
49 – Icônico Hotel Kosmos / Autor: Daniel M. Huertas (16 jul. 2018)
50 – Calendário de 1980 com símbolo olímpico e ursinho Misha / Autor: Daniel M. Huertas (15 jul. 2018)

Parque da Vitória, para celebrar o 40º aniversário do fim da “Grande Guerra Patriótica”

Quem tem um mínimo de conhecimento sobre a história russa (e soviética) sabe do significado especial que a vitória na Segunda Guerra Mundial ocupa no imaginário coletivo da sociedade. Tanto que os russos a denominam de “Grande Guerra Patriótica” e a relembram todos os anos em um desfile realizado pelas ruas de Moscou em 9 de maio – considerado o “Dia da Vitória”. Se o êxito contra o império comandado por Napoleão Bonaparte, no século XIX, já havia deixado a sua lembrança na paisagem moscovita com a versão russa do “Arco do Triunfo”, a brutal resistência e posterior investida diante da máquina nazista de Hitler merecia algo monumental. E assim surgiu a ideia da implantação do Parque da Vitória, que começou a ser construído em 1985, por ocasião do 40º aniversário do fim do conflito.

Originalmente, seria o local de instalação de um grande monumento à Mãe-Pátria, mas que acabou indo para a cidade de Volgogrado (antiga Stalingrado), onde ocorreu uma das batalhas mais decisivas da Segunda Guerra, mudando o seu curso com a derrota da frente oriental nazista18. O parque ostenta o majestoso Museu Central da Grande Guerra, construção semicircular com colunas brancas em série e uma cúpula no meio (FOTO 51), com exposição de maquetes, dioramas, mapas e armas da decisiva participação soviética. Para chegar ao museu, pela entrada principal, foi construída uma alameda em cinco níveis diferentes, cada qual referente aos cinco anos de participação soviética no conflito (1941-1945).

Entre a alameda e o museu uma pequena praça redonda alberga o Monumento da Vitória, o mais alto de toda a Rússia, com 1.418 metros – o mesmo número de dias que durou o conflito, que ceifou a vida de cerca de 27 milhões de soviéticos. Na verdade, trata-se de um conjunto que só foi inaugurado em 1995 para celebrar o 50º aniversário do fim da guerra. Em seu segmento inferior há uma estátua de São Jorge (padroeiro de Moscou) matando um dragão com a sua lança, símbolo da vitória sobre o nazifascismo. Logo atrás, o obelisco em forma de baioneta contém o nome das principais cidades soviéticas atingidas pela guerra. Nike, deusa grega da vitória, reluz próximo do topo, adornada por uma coroa dourada de louros em uma mão e dois anjos com trombetas douradas ao seu lado. O Memorial do Fogo Eterno, que lembra das vítimas da guerra, fica ao lado (FOTO 52). Há inúmeros outros memoriais alusivos ao conflito espalhados pelo parque, além da exposição ao ar livre de alguns equipamentos militares originais (tanques, aviões e peças de artilharia) e da Igreja de São Jorge.

51 – Museu Central da Grande Guerra
52 – Memorial do Fogo Eterno em primeiro plano. Ao fundo, a base do Monumento da Vitória e a Igreja de São Jorge / Autor: Daniel M. Huertas (02 jul. 2018)

Entre os espólios e as conquistas da URSS

Ao longo das ruas, avenidas, praças e bulevares de Moscou ainda podem ser encontrados outros exemplos remanescentes da era soviética. Vários elementos do chamado Programa de Transformação do Modo de Vida (Perestroika Byta), embalados sob o modelo arquitetônico e urbanístico construtivista – cujo caráter nuclear era a produção do espaço, ou seja, “a relação intrínseca entre o projeto arquitetônico e urbanístico e o projeto social total do socialismo posto àquela época”19 – ainda existem. Uma arquitetura modelada no conceito de condensador social, que “transformaria a natureza humana daqueles que vivem nele”20.

A lógica organizacional da “cidade-máquina” – modelo que “supostamente superaria a separação cidade-campo – deveria resolver o problema da concentração e da dispersão da produção/circulação/consumo de matéria e energia no território (…) através de um design espacial todo pensado em termos de ‘coeficientes de economia’”21. Com grande apelo entre as décadas de 1920 e 1940, foi caracterizado por três tipos de edificação: a casa-comuna, a fábrica-socialista e o clube-operário. Muitos ainda sobrevivem à ganância da especulação imobiliária que recaiu sobre Moscou a partir do século XXI, mas os típicos apartamentos comunais (kommunalkas) de inspiração construtivista – nos quais as famílias tinham cômodos privados, mas compartilhavam banheiro e cozinha – estão espalhados por todos os cantos, embora com alta densidade nas periferias da cidade. Foi a saída encontrada pelo regime para sanar com celeridade o déficit habitacional existente.

Com o colapso da era soviética, várias estátuas foram removidas de seus pedestais – muitas delas, inclusive, vandalizadas. Em 1992, um pedaço ao ar livre do Parque Gorky (inaugurado em 1928 como um centro de cultura e repouso), ao lado da Galeria Nova Tetryakov, foi escolhido para concentrar esse “espólio” da antiga URSS, recebendo cerca de mil esculturas que representavam lideranças do Partido Comunista, personalidades do período e heróis de guerra. Chamado de Parque de Esculturas Muzeon, mais conhecido como Parque dos Monumentos Caídos, tem como um dos destaques a estátua do chefe da Tcheka (criada em 1918, foi uma espécie de polícia secreta percursora da KGB), Félix Dzerjinsky, levada em 1991 da Praça Lubyanka, e um enorme brasão de armas da URSS feito em aço. Atualmente também congrega trabalhos contemporâneos e de artistas de vanguarda. Outros exemplares da era soviética latentes na paisagem moscovita são o Teatro do Exército Russo, construído em forma de estrela, e o luxuoso Hotel Sovietsky, erguido sob ordens de Stálin (seu filho passou a viver ali permanentemente), ambos nos anos 1940; a suntuosa estátua de granito de Karl Marx na praça defronte o Teatro Bolshoi; a sede da agência de notícias TASS e o Circo Estatal de Moscou (ou Circo Novo), erguido em 1973 e até hoje em plena atividade.

Trinta anos já se passaram desde a queda da URSS, mas, em dezembro de 2018, uma pesquisa realizada pelo instituto independente Centro Levada revelou que nada menos do que 66% dos russos se mostraram arrependidos com a extinção da URSS22. No balanço entre contradições, erros e acertos, os números sugerem que a percepção de boa parte da população sobre as principais conquistas do regime – férias e organização do tempo de trabalho, direitos das mulheres, saúde gratuita, acesso à educação e cultura, construção de habitação em massa, desenvolvimento tecnológico em algumas áreas e sensação de segurança – permanece positiva, como se fosse um antídoto contra a exploração do trabalho pelo capital, freando de alguma forma as típicas iniquidades geradas pela ferocidade do mercado capitalista.

O fato é que o mundo nunca mais foi o mesmo com o advento da primeira experiência real do socialismo, responsável pelo equilíbrio da balança do poder mundial no pós-guerra com a ideia central da construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Resta saber como o capitalismo, enquanto modo de organização majoritário desde então, vai lidar com a crescente desigualdade empiricamente observada em boa parte do mundo. O “globaritarismo” – ou a tirania do dinheiro e da informação, segundo o geógrafo Milton Santos – que se instalou no limiar do século XX parece cada vez mais desprezar os valores ligados à solidariedade, já que individualismo, consumismo e competitividade foram alçados à essência de um sistema que não se preocupa, do ponto de vista moral e filosófico, com a condição humana em seu sentido mais amplo. Mas tudo nessa vida tem limites.

_________

Notas:

1. O Tratado sobre a Criação da URSS, aprovado no 1º Congresso da União Soviética, foi assinado entre as repúblicas socialistas da Rússia, Transcaucásia, Ucrânia e Belarus. Em seguida, aderiram à URSS as seguintes repúblicas socialistas: Uzbequistão e Turcomenistão (1925); Tadjiquistão (1929); Cazaquistão, Quirguistão, Geórgia, Azerbaijão e Armênia (1936); Letônia, Lituânia, Estônia e Moldávia (1940).

2. EGOROV, Oleg. 3 múmias russas famosas (que vão muito além de Lênin!). Russia Beyond, 26 ago. 2018. Disponível em: <https://br.rbth.com/historia/81108-3-mumias-russas-famosas> Acesso em: 26 nov. 2021.

3. Metrô moscovita será expandido. Russia Beyond, 23 maio 2012. Disponível em: <https://br.rbth.com/articles/2012/05/13/metro_moscovita_sera_expandido_14549> Acesso em: 25 nov. 2021.

4. Para mais detalhes: KHANTSEVITCH, Olessia. A imperdível linha circular do metrô de Moscou. Russia Beyond, 25 jun. 2017. Disponível em: <https://br.rbth.com/arte/viagem/2017/06/24/a-imperdivel-linha-circular-do-metro-de-moscou_785762> Acesso em: 25 nov. 2021.

5. ROMENDIK, Dmitri. Templo da época da União Soviética espera recuperação. Russia Beyond, 26 abr. 2014. Disponível em:

<https://br.rbth.com/arte/2014/04/26/templo_da_epoca_da_uniao_sovietica_espera_recuperacao_25309> Acesso em: 25 nov. 2021.

6. Ibid.

7. ZAVIÁLOVA, Viktória. 7 curiosidades sobre o Sputnik, o primeiro satélite artificial da Terra. Russia Beyond, 04 out. 2017. Disponível em: <https://br.rbth.com/ciencia/79226-7-curiosidades-sobre-sputnik> Acesso em: 05 dez. 2021.

8. As relações foram suspensas novamente após o golpe de 1964.

9. PETROV, Nikita. Vídeo reúne imagens de discurso de Gagarin um ano após voo histórico: assista. Russia Beyond, 25 abr. 2021. Disponível em: <https://br.rbth.com/historia/85289-video-discurso-gagarin-um-ano-apos-voo> Acesso em: 05 dez. 2021.

10. Vide OGOROV, Oleg. A misteriosa morte prematura do cosmonauta Iuri Gagarin. Russia Beyond, 27 mar. 2019. Disponível em: <https://br.rbth.com/historia/82047-morte-gagarin> Acesso em: 05 dez. 2021.

11. Vide OGOROV, Oleg. Por que a URSS não enviou cosmonautas à Lua? Russia Beyond, 11 ago. 2017. Disponível em: <https://br.rbth.com/arte/historia/2017/08/11/por-que-a-urss-nao-enviou-cosmonautas-a-lua_820614> Acesso em: 05 dez. 2021.

12. No total, os Jogos contaram com 5.748 atletas que representaram 81 comitês olímpicos nacionais.

13. Por causa de seu complicado relacionamento internacional, a URSS só participou pela primeira vez de uma Olimpíada em 1952, em Helsinque, seja por boicote próprio, seja por omissão do COI. Dessa forma, o país resolveu organizar a sua própria versão do evento, denominada Spartakiade em reverência a Spartacus (Spartak, em russo), líder de uma grande rebelião de escravos contra o Império Romano. Para regulamentar o esporte entre o proletariado, também foi criada a versão soviética do COI: o Sportintern. Em 1924, Paris e Moscou recebiam, simultaneamente, o VIII Jogos Olímpicos da Era Moderna e a I Spartakiade, separando o evento proletário da prática burguesa. Na edição de 1928, o evento soviético superou o concorrente, em Amsterdã, em número de esportes (21 contra 14) e participantes (7.125 contra 2.883). Com o ingresso da URSS nos Jogos, a Spartakiade virou uma espécie de treino-teste para os atletas soviéticos a partir de 1956. Na edição de 1979, foram convidados atletas estrangeiros, mas deixou de existir com a queda do regime, em 1991.

14. ORGANISING COMMITTEE OF THE 1980 OLYMPIC GAMES IN MOSCOW (OCOG-80). Official report of the Organising Committee of the Games of the XXII Olympiad. Moscow: Fizcultura i Sport, 1981 (v.2 – Organisation), p.43.

15. Segundo o relatório oficial dos Jogos (p.524-25, volume 2), os gastos totais foram de 862,7 milhões de rublos (incluem construção e reformulação de instalações esportivas em Moscou, Leningrado, Tallinn, Minsk e Kiev; construção do Complexo Olímpico de Rádio e Televisão; gastos organizacionais de preparação e remessas de receitas para os comitês olímpicos nacionais pela implementação do programa econômico-financeiro) e as receitas totais atingiram 732,8 milhões (incluem loteria nacional; licenças na URSS e no exterior; programa de moedas comemorativas; direitos de televisionamento; aporte dos patrocinadores oficiais; produtos filatélicos; bilheteria; taxas dos competidores e outros). Portanto, um déficit de 129,9 milhões de rublos. O balanço contábil apontou a expectativa de obtenção de receita de 12 milhões de rublos em 1981 com selos, licenciamento de produtos, etc.

16. EGOROV, Boris. 10 fatos sobre os ÚNICOS Jogos Olímpicos da URSS na história. Russia Beyond, 20 jul. 2020. Disponível em: <https://br.rbth.com/historia/84134-10-fatos-olimpiadas-moscou> Acesso em: 1º dez. 2021.

17. MALLONEE. Laura. See what happened to the venues of the 1980 Moscow Olympics. Wired, 15 set. 2015. Disponível em: <https://www.wired.com/2015/09/anastasia-tsayder-summer-olympics/> Acesso em 20 nov. 2021.

18. Vide RAPOPORT, Esther. Viagem insólita à União Soviética (3). Outras Palavras, 10 jan. 2019. Disponível em: <https://outraspalavras.net/historia-e-memoria/viagem-insolita-a-uniao-sovietica-3/> Acesso em: 08 dez. 2021.

19. PACH, Rachel. Guia Rússia para o turismo do colapso, ou o espetáculo das ruínas construtivistas na Moscou especulada. São Paulo: Elefante, 2018, p.28.

20. Ibid, p.31.

21. Ibidem, p.32.

22. EGOROV, Oleg. Qual era a melhor coisa de viver na União Soviética? Russia Beyond, 12 dez. 2019. Disponível em: <https://br.rbth.com/estilo-de-vida/83212-melhor-coisa-viver-urss> Acesso em: 3 dez. 2021.

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2 comentários para "Moscou, 30 anos depois da URSS"

  1. Daniel Monteiro Huertas disse:

    A fonte desta referência foi encontrada no livro “JK: o artista do impossível”, de Claudio Bojunga (Ed. Objetiva, 2001).

  2. André Victória da Silva disse:

    Quem criou o termo Guerra Fria, não foi o colunista Walter Lippman?

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