Uma proposta radical para o "Minhocão"

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João Whitaker sugere eliminar elevado sem permitir aburguesamento do entorno. Para isso, solução pode ser transporte coletivo. Entrevista abre parceria entre “Outras Palavras” e site Candeia

Um vídeo do Coletivo Candeia

Uma dúvida espalha-se por São Paulo, no rastro do debate, cada vez mais intenso, sobre o futuro da metrópole. Que fazer com o “Minhocão”, a via elevada de 3,4 km. que se estende, como cicatriz, do Centro à Barra Funda, na Zona Oeste? Após anos de pressões dos que lutam pelo Direito à Cidade, a Câmara Municipal decidiu que ele será desativado. Os automóveis já não circularão a poucos palmos das janelas de apartamentos. Mas que destino terá a obra, batizada com nome de ditador (“Presidente” Costa e Silva)? As opiniões dividem-se. Demoli-lo? Convertê-lo em jardim suspenso? Em meio à polêmica, os partidários do atual modelo agitam-se e sugerem deixar tudo como está.

Vale a pena conhecer, na entrevista acima, uma ideia que desafia de modo radical o modelo de cidade associado ao “Minhocão”. Professor livre-docente na Faculdade de Arquitetura da USP, o arquiteto e urbanista João Whitaker quer eliminar o elevado promovendo ao mesmo tempo o transporte coletivo — e bloqueando a especulação imobiliária. Ele explica que o jardim suspenso promoveria o aburguesamento instantâneo do bairro; e a simples demolição deixaria sem alternativas milhares de pessoas que se servem da via.

Por que — pergunta Whitaker — não aproveitar o impulso que leva a cidade a se repensar e instalar, sobre os pilares estreitos do elevado, uma linha limpa e silenciosa de trens leves? Na entrevista, além de fundamentar a proposta, ele explica por que o “Minhocão” é símbolo da ascensão e queda de um modelo urbanístico e social. Como atendeu, durante décadas, à elite que podia possuir automóvel. De que modo foi possível submeter a maioria que sempre foi prejudicada por ele. Que estranho processo permitiu que, contraditoriamente, democratizasse o acesso à moradia no Centro da metrópole.

A entrevista com Whitaker é um trabalho do Candeia — um coletivo de jovens comunicadores que vivem na Zona Leste de São Paulo e veem o jornalismo como forma de questionar e transformar a sociedade. Sua primeira produção é DoisP um conjunto notável — e ainda pouco conhecido — de entrevistas em que exploram temas brasileiros de grande relevância.

Outras Palavras passará a publicar, a cada segunda-feira, uma nova entrevista do Candeia — e colaborará com o coletivo, oferecendo sugestões de pauta e apoio editorial. É um prazer estabelecer parcerias com quem associa, como nós, Comunicação a Pós-Capitalismo. Bom proveito!

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