Tem "heavy metal" na sopinha

Por vender produto "inseguro e perigoso", Nestlé indiana foi condenada a pagar multa de 350 milhões de dólares

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Na Índia, marca famosa envolve-se em escândalo por vender macarrão contaminado com chumbo. Caso não é isolado e permite questionar: há níveis “seguros” de substâncias contaminantes na comida?

Por Julicristie M. Oliveira*

Foi noticiado no The World Post que a Agência Reguladora de Segurança dos Alimentos Indiana detectou metal pesado — no caso, o chumbo — em amostra de macarrão instantâneo de uma marca bem famosa. De acordo com a agência, a quantidade de chumbo estava acima dos “níveis máximos permitidos”, o que configurou um grande escândalo e um processinho contra a grande marca.

A intoxicação por chumbo, dependendo da gravidade, pode causar neurotoxicidade, polineuropatia, encefalopatia, alterações comportamentais, dentre outras. E resolver esta questão não é tão simples assim, pois o chumbo fixa-se no tecido ósseo e é mobilizado constantemente, especialmente em mulheres na gestação. Um problemão!

Além disto, se o chumbo faz mal e outros metais pesados também, por que as regras de segurança dos alimentos permitem os tais “níveis máximos permitidos”? Quem garante que em certos lotes não haverá uma contaminação acima do permitido? E quem garante que o fato de estar abaixo do permitido é sinal de segurança total? A flexibilização das regras ajuda a indústria. Temos sérios problemas de rastreabilidade, pois mal sabemos de onde vem o que comemos. Estamos expostos constantemente a uma série de incertezas alimentares e as marcas investem pesado em propaganda para nos convencer que são altamente confiáveis.

Apesar deste escândalo nos ajudar no processo de reflexão sobre o sistema alimentar, me arrisco a dizer aqui que é apenas a pontinha do iceberg. Além de metais pesados, há muitas inadequações de rotulagem nos alimentos comercializados, inclusive no Brasil. Um grupo de alunas da faculdade onde sou professora, a Unicamp, fez uma série de pesquisas para os trabalhos de conclusão de curso e encontramos metais pesados em temperos prontos, mais carboidratos (farinha de trigo e açúcar) do que o indicado no rótulo de biscoito recheado, iogurte light com mais gordura do que o declarado na embalagem, só para resumir.

Diante deste rol de incertezas alimentares, eu convocaria os leitores a pegarem suas panelas. Vamos fazer um panelaço alternativo! Evitem os produtos industrializados, boicotem as grandes marcas, comprem alimentos minimamente processados e frescos, prefiram os produtores locais e façam um bom uso das panelas: cozinhem mais!

*Julicristie M. Oliveira é professora da FCA/Unicamp

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