SP sem água, 28/10 — Passado e futuro da crise
Publicado 29/10/2014 às 18:14
Como governo paulista agravou problema, ao evitar racionamento. Por que mais produtos químicos estão sendo misturados à água. Os riscos de “El Niño” produzir mega-seca, em 2015
Por Camila Pavanelli de Lorenzi
O boletim de hoje está organizado em três seções: passado, presente e futuro. A gravidade da crise exige que olhemos para tudo ao mesmo tempo: o passado, para tentarmos aprender com os erros e evitar sua repetição; o presente, para tentarmos entender o que está acontecendo agora; e o futuro, para tentarmos voltar a ter água um dia. Toscamente falando, é isso. Vamos lá:
Passado:
– ONGs como a ISA e o Idec afirmam que o governo estadual e a Sabesp erraram na administração do Sistema Cantareira, mantendo inalterada a captação de água durante a seca que se abateu sobre a região na estação chuvosa, de outubro a fevereiro (http://bit.ly/1teNyfG). Além disso, as ONGs acusam o poder público de se omitir e esconder informações.
– O que seria essa omissão de informações? É preciso contar a história desde o princípio: com base na Lei de Acesso à Informação, o Idec solicitou à Sabesp em setembro a divulgação do mapa de diminuição de pressão noturna na distribuição de água. A empresa simplesmente não enviou o material requisitado. O Idec, então, acionou o MP e o Procon em 20/10 para que a Lei de Acesso à Informação fosse cumprida: o acesso ao mapa poderia mostrar aos consumidores os locais onde a diminuição de pressão poderia ocasionar problemas no abastecimento (http://bit.ly/1wkzdgs).
– Esta não foi a primeira intervenção do Idec na crise hídrica. O Instituto informa que, em 21/04, o governo do estado planejava multar os consumidores que aumentassem o consumo de água. Acontece que o Código de Defesa do Consumidor estipula que o fornecedor de produtos e serviços só pode elevar o preço com justa causa – e a medida governamental não dizia que “justa causa” era essa, já que o governo recusava-se a decretar racionamento. Quando o Idec anunciou que a medida era ilegal, o governo estadual desistiu da proposta. Preferiu não ter de decretar racionamento no estado (http://bit.ly/1wkzdgs).
Presente:
– Mas a ação movida pelo Idec com base na Lei de Acesso à Informação deu resultado: a Sabesp foi obrigada judicialmente a divulgar o mapa da redução de pressão (http://bit.ly/ZWgsoZ). Para o Idec, esta é a primeira vez em que a empresa reconhece publicamente que algumas regiões da cidade de São Paulo têm enfrentado problemas no abastecimento.
– Discordo desta afirmação do Idec. Afinal, a Sabesp divulgou o mapa porque foi obrigada judicialmente – e afirma que ele não serve como indicativo de onde pode vir a faltar água (http://bit.ly/ZwgsoZ). Oficialmente, eu diria que o posicionamento da Sabesp não mudou: segundo a empresa, há problemas de abastecimento sim, mas eles são “pontuais” e não sistemáticos (http://bit.ly/136AQ8W).
– Com relação à situação atual do Sistema Cantareira, um especialista em recursos hídricos afirmou que a transferência entre os reservatórios do Sistema (coisa que vem sendo feita atualmente) torna mais difícil o tratamento da água e exige que mais produtos químicos sejam usados (http://glo.bo/1wLexBY).
– Em Itu, as pessoas fazem fila à noite para pegar água da bica (http://glo.bo/1xCmTZn). Coloquei esta notícia na seção “presente” por motivos óbvios: é isso que está acontecendo em Itu agora. Mas isso pode ser também o futuro da cidade de São Paulo: se em Itu, que tem aproximadamente 160 mil habitantes, os caminhões-pipa não estão dando conta de abastecer a cidade, o que será da Grande São Paulo e suas 8 milhões e 800 mil pessoas? Talvez a “piada” do diretor da Sabesp – as “férias coletivas” para a grande São Paulo caso não chova (http://bit.ly/1wl1O8O) – seja mais séria do que gostaríamos.
– Enquanto isso, a Sabesp continua investindo em campanhas de combate ao desperdício voltadas ao consumidor residencial (http://on.fb.me/1tCjhr0). Naturalmente, é preciso que todos economizem, mas eu gostaria de saber que medidas a Sabesp está tomando em relação aos grandes consumidores. Não encontrei dados referentes especificamente a São Paulo, mas descobri que, segundo a ANA, a agricultura é responsável por 70% do consumo de água no país e a indústria por 7% (http://bit.ly/1sC2ejK) – e, como lembra Rasputin Thuin (http://bit.ly/1Dt6it1), até março deste ano a Sabesp dava descontos para grandes consumidores (http://bit.ly/1ryxEHv).
– Em suma: sim, vamos convencer o Seu José a lavar a calçada com balde em vez de esguicho. Mas podemos pensar também no que iremos cobrar das indústrias e do agronegócio? Não é só que é hipócrita cobrar economia do consumidor residencial enquanto até março se incentivava o desperdício por parte dos grandes consumidores. É também terrivelmente ineficaz – inclusive para os grandes consumidores, que, como vimos (http://bit.ly/1tXGK8f), também já enfrentam a falta d’água.
Futuro:
– Amanhã às 9h, será transmitido pela internet um evento da Aliança pela Água – uma coalizão de ONGs que propõe medidas de curto, médio e longo prazo para enfrentar a crise (http://bit.ly/1tCjomh).
– É bom mesmo pensarmos em medidas para todos os prazos, pois a seca em São Paulo deve continuar em 2015. Devido às mudanças climáticas, tem sido difícil compreender o comportamento do El Niño; mas, se o fenômeno ocorrer no fim deste ano – há 70% de chances de que isso ocorra –, e se tiver o mesmo efeito que teve em 1997 e 1998, haverá “uma imensa seca no mundo”, nas palavras de um pesquisador da Organização Mundial de Metereologia (http://bit.ly/1wEhGjr).
E esse foi o boletim de hoje. Pode entrar em pânico, que amanhã tem mais.
Eu acho que não teve racionamento até outubro em alguns bairros, não somente devido às eleições, mas também por causa da COPA.
Não é apenas em SP que falta água… e daqui 2 anos tem as Olímpiadas.. as construções gastam muita água e os hóspedes que virão também. É preciso que o governo planeje ter água para nós e todo o turismo que um evento deste porte deve trazer ao país… SOCORRO !!! QUERO ÁGUA !!!
O problema é que a Sabesp está mais preocupada em dar lucro para os acionistas americanos do que prestar serviço adequado. Além disto é a tarifa mais cara do país. Água não deveria ser para dar lucro. Sobra dinheiro para dar para o Instito Fernando Henrique mas falta para fazer o que precisa.