Soldados de Israel, operação de propaganda?

Presença inútil em Brumadinho é ação preventiva: Tel-Aviv teme avanço de campanha internacional de boicotes, devido às atrocidades cometidas na Palestina, e financia, no mundo todo, “publicidade oculta”

Manifestação por Boicote, Desinvestimento e Sanções na Noruega. Tel-Aviv vê crescimento da campanha contra ocupação da Palestina, e tenta gerar simpatias — inclusive criando factóides
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Rapidamente, a presença do exército israelense no Brasil, com o suposto propósito de “ajudar no resgate” de Brumadinho, está se revelando uma farsa. Ouvido segunda-feira (28/1) sobre a efetividade do “auxílio”, o tenente-coronel Eduardo Angelo (dos Bombeiros), comandante da operação, respondeu, claro e enfático: os equipamentos que trouxeram “não são efetivos para este tipo de desastre” (…) “pegam corpos quentes, e todos os corpos [na região] estão frios” (…) “nenhum [dos equipamentos] se aplica”. Os soldados de Israel apenas “servem como mão de obra”.

O previsível fracasso suscita uma questão. Por que Israel se empenharia em transportar – num voo de 15 mil quilômetros, com todos os custos e complicações de logística e segurança associadas – um grupo de soldados que pode, no máximo, fazer o mesmo que seus correspondentes brasileiros? A explicação mais plausível é: trata-se de uma operação de propaganda internacional, viável graças à cumplicidade do governo brasileiro.

Dinheiro para comprar simpatias: Uma matéria no jornal Middle East Eye, publicada há cerca de um ano, ajuda a compreender. Israel, mostra o texto, está crescentemente preocupada com o movimento BDS – Boicote, Desinvestimento e Sanções. A iniciativa busca incentivar, em todo o mundo, ações da sociedade civil que pressionem Tel-Aviv a encerrar a ocupação da Palestina e as violências dela decorrentes. Em seu site, é possível encontrar múltiplos relatos de ações de sucesso – diversas, de difrentes escalas e em muitos países,

Para tentar neutralizá-la, Israel recorre a dois métodos. O mais banal é a perseguição. Em janeiro de 2018, por exemplo, uma resolução governamental proibiu a entrada em território israelense de qualquer pessoa apontada como participantes do BDS. Não há trâmite judicial: basta uma ordem do ministério do Interior para vetar a entrada. Estão banidos, inclusive, os membros da rede Jewish Voice for Peace – que se orgulham de ser judeus…

Um segundo lado da operação é a compra de consciências. A organização israelense Seventh Eye descobriu que o ministério de Assuntos Estratégicos destinou 100 milhões de dólares para financiar, no exterior, “propaganda oculta” favorável a Israel e contrária ao BDS. Inclui-se, entre os itens financiáveis, “comprar” cobertura dócil nas mídias locais.

Tão sujos quanto os praticantes do apartheid? O texto frisa: muitos cidadãos de Israel percebem que os ânimos em relação a eles estão mudando, quando viajam. As atrocidades cometidas na ocupação da Palestina são tantas que as cobranças crescem – nos câmpus universitários, por exemplo. O temor é que, aos poucos, a situação saia de controle, e os israelenses no exterior sejam tão alvo de questionamentos quanto eram os sul-africanos, nos tempos do apartheid.

O financiamento ajuda a explicar por que a mídia brasileira foi tão condescendente com os soldados israelenses que vieram “ajudar” Brumadinho. Felizmente, havia um coronel sem papas na língua.

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