No Brasil, Rosa Luxemburgo vive

Ideias da revolucionária alemã criaram raízes profundas no pensamento crítico nacional – é o que contam autores como Paul Singer, Michael Löwy, Isabel Loureiro e Paulo Arantes em livro da Fundação Rosa Luxemburgo. Sortearemos 1 exemplar

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Em sua fase antropofágica, Oswald de Andrade denominou esta prática de “deglutição”: devorar as ideias internacionais, reuni-las às tradições e condições históricas nacionais e, a partir daí, produzir algo de original – e revolucionário. Em livro editado pela Fundação Rosa Luxemburgo, é possível conhecer a recepção profundamente criadora que o pensamento da revolucionária alemã homônima teve no Brasil: “deglutido” e transformado em ferramenta da emancipação social dos brasileiros por importantes personagens da esquerda de várias décadas até hoje em dia.

A coletânea Socialismo ou barbárie – Rosa Luxemburgo no Brasil foi organizada por Isabel Loureiro, professora da Unesp que é a principal figura acadêmica do país a se dedicar ao estudo da vida e das ideias de Rosa. No volume, estão reunidas entrevistas realizadas com alguns dos intelectuais e militantes que deram corpo a uma linhagem marxista pautada pelas propostas luxemburguistas já há muito tempo, pelo menos desde os anos 50. Por um lado, os textos discutem a história da difusão dessas ideias – por outro, se dedicam a analisar os dilemas políticos do país a partir dessa ótica bastante rica.

No Brasil, essa história começa com a Liga Socialista Independente. A organização era pequena e praticamente restrita a São Paulo. Mas contou com quadros como os irmãos Emir e Eder Sader, Maurício Tragtenberg e os entrevistados Paul Singer e Michael Löwy. Singer, naquele momento, era um experimentado líder metalúrgico do antigo PSB, enquanto Löwy era um jovem em processo de ingressar na militância. 

Na LSI, eles foram pioneiros em pensar o Brasil com os instrumentos teóricos fornecidos por Rosa. Haviam conhecido sua obra através de textos na Vanguarda Socialista, jornal de Mário Pedrosa, e deram continuidade à sua divulgação em Ação Socialista, periódico publicado pela Liga. Seus depoimentos para o livro contam um pouco desses passos, que vão de meados dos anos 50 ao início dos anos 60, quando a LSI se dissolveu para participar da fundação da POLOP.

Outras Palavras e Fundação Rosa Luxemburgo sortearão um exemplar de Socialismo ou barbárie – Rosa Luxemburgo no Brasil, organizado por Isabel Loureiro, entre os apoiadores do nosso jornalismo. O formulário de participação será enviado por e-mail e as inscrições serão aceitas até a próxima quinta-feira, 9/2, às 14h.

Foi uma organização dissidente da mesma POLOP quem retomou o fio do marxismo de Rosa Luxemburgo por aqui: o Partido Operário Comunista (POC), onde militou a entrevistada Angela M. de Almeida. Junto de Isabel Loureiro, organizadora mas também entrevistada neste livro, ela promoveu nos anos 70 e 80 o surgimento de um olhar mais acadêmico no Brasil para o pensamento da antiga líder do SPD e da Liga Espartaquista. 

Loureiro se encontrou com Luxemburgo no mestrado, quando estudou a Vanguarda Socialista de Pedrosa, mas foi no doutorado que tanto ela quanto Almeida mergulharam na influência concreta das ideias da revolucionária de origem judia durante os embates políticos europeus das décadas de 20 e 30, da Rússia à Alemanha. Nas entrevistas desta coletânea, as pensadoras também dedicam parte de suas respostas à análise desse cenário histórico do início do século XX.

Com a redemocratização do país, as ideias da autora de Reforma e revolução encontraram espaço mais amplo para alcançar os movimentos sociais e se fundir às lutas do povo brasileiro. Gilmar Mauro, da direção nacional do MST, dá sua contribuição ao livro narrando esse aspecto. Traz, inclusive, uma informação curiosa: conta que conheceu Rosa em um curso de formação em Cuba, para onde foi enviado pelo movimento.

O professor Paulo Arantes conclui a sequência de entrevistas analisando os rumos da conjuntura nacional – e rememorando seu tempo de estudante de filosofia na USP, quando conhecer Rosa era “critério moral de radicalismo”, como ele explica.

No mês de março, comemoramos sempre a vida de Rosa Luxemburgo, nascida em 5 de março de 1871 na Polônia czarista. A “Rosa Vermelha” é, até hoje, fonte inesgotável de inspiração para a esquerda marxista: se, no livro, Paul Singer destaca a importância de A acumulação de capital para a formação de suas convicções políticas, cada um dos outros entrevistados do livro também dá seu testemunho do incentivo que o pensamento da militante polonesa lhes deu para desenvolverem ideias criativas e ousadas na luta por um mundo melhor.

No aniversário de 132 anos de Rosa, sortearemos 1 exemplar de Socialismo ou barbárie – Rosa Luxemburgo no Brasil, organizado por Isabel Loureiro, entre os leitores que colaboram mensalmente com o jornalismo de Outras Palavras.

O sorteio, organizado em parceria com a Fundação Rosa Luxemburgo, receberá inscrições no formulário enviado por e-mail aos membros da rede Outros Quinhentos, financiamento coletivo de Outras Palavras. Ele ficará aberto até a próxima quinta-feira, 6/4, às 14h. Colabore com nosso projeto de jornalismo de profundidade e pós-capitalismo e ganhe acesso aos sorteios, gratuidades e descontos oferecidos aos nossos leitores! Acesse apoia.se/outraspalavras e escolha um plano para participar.

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