Como pensavam as mulheres da Revolução Russa

Não só Kollontai e Krupskaya: dezenas de pensadoras e militantes foram decisivas no histórico levante de 1917 na Rússia. Coletânea da Boitempo reúne artigos, panfletos e ensaios das lutadoras que abalaram o mundo. Sortearemos 3 exemplares

Em quem sua mente chega quando você pensa em quem fez a Revolução Russa? Muito possivelmente, em Vladimir Lênin. Também em Josef Stálin (ou, a depender do gosto do freguês, Leon Trotsky). Ou mesmo, claro, nas grandes massas do povo russo, reunidas em greves e passeatas. Caso pense em mulheres, talvez chegue aos rostos de Nadezhda Krupskaya e Alexandra Kollontai. Uma coletânea da Boitempo Editorial com mais de 40 artigos, panfletos e ensaios de mulheres que contribuíram decisivamente com os eventos de 1917 pode ampliar largamente o quanto você conhece das pensadoras, organizadoras e militantes que fizeram a revolução na Rússia.

A revolução das mulheres – emancipação feminina na Rússia Soviética é um volume organizado pela pesquisadora Graziela Schneider Urso, doutora em Literatura e Cultura Russa pela USP. A maioria dos textos escolhidos para a obra estavam inéditos em português e foram vertidos diretamente do russo por uma equipe especial de tradutoras. Cronologicamente, eles abarcam o tempo da luta contra o czarismo, os dias cruciais da Revolução e da Guerra Civil e também os primeiros passos da construção do socialismo na União Soviética.

A revolução na Rússia tem como traço marcante a grande presença das mulheres em sua linha de frente. O próprio ponto de partida da Revolução de Fevereiro, primeiro ato do processo revolucionário russo, foi uma passeata das trabalhadoras de Petrogrado contra a fome e a opressão czarista realizada no dia 8 de março de 1917. 

Além disso, algumas das principais conquistas da Revolução tiveram como norte a correção de históricas desigualdades de gênero: foram legalizados o voto feminino, o divórcio, o aborto e a homossexualidade. A igualdade jurídica foi instituída, e o Estado socialista se dedicou a expandir o acesso das mulheres à educação e saúde e a coletivizar o trabalho doméstico e o cuidado com as crianças. 

A própria data do 8 de março enquanto Dia Internacional de Luta da Mulher Trabalhadora, comemorado por toda parte com manifestações, só se consolida no mundo a partir das iniciativas das russas na Conferência Internacional das Mulheres Comunistas de 1921. Antes, sua história havia começado em 1910, quando uma decisão da Conferência Internacional de Mulheres Socialistas convocou as mulheres a irem para as ruas.

Mais que beneficiárias dessas políticas, as mulheres foram suas formuladoras. Nadezhda Krupskaya, ligada às atividades dos marxistas russos desde 1894 (e, secundariamente, esposa de Lênin), se pôs à frente da construção da nova educação soviética e dos princípios pedagógicos que a regeram. No Comissariado do Povo para a Educação, universalizou o acesso às creches, bibliotecas e escolas para adultos – bem como escreveu dezenas de textos que balizaram a aplicação de uma pedagogia emancipadora. Não se restringindo a essa pauta, Krupskaya foi uma hábil organizadora bolchevique: seus textos sobre as questões da juventude, da religião, do Oriente e das mulheres operárias estão incluídos na coletânea da Boitempo.

Inessa Armand e Alexandra Kollontai também dedicaram décadas de suas vidas à luta pela revolução. Juntas, fundaram o Zhetnodel, seção feminina do Partido Comunista, e editaram sua revista mensal, a Kommunistka. A revista era voltada para as mulheres trabalhadoras e seus problemas, tema também da maioria de suas intervenções reunidas em A revolução das mulheres

Outras Palavras e Boitempo Editorial sortearão três exemplares de A revolução das mulheres – emancipação feminina na Rússia Soviética, antologia organizada por Graziela Schneider Urso, entre os apoiadores do nosso jornalismo. O formulário de participação será enviado por e-mail e as inscrições serão aceitas até a próxima quinta-feira, 23/3, às 14h. Quem é Outros Quinhentos tem 20% de desconto no site da editora.

Alexandra Kollontai atingiu grande prestígio, que dura até hoje, por se posicionar firmemente pela construção de uma nova moral sexual na sociedade socialista e também por entrar em polêmicas teóricas com segmentos mais recuados do movimento revolucionário (sejam as feministas burguesas ou comunistas de moral obsoleta). Para Kollontai, era preciso ter claro que instituições como a família e o casamento, em sua configuração burguesa, eram meras sobrevivências da velha sociedade – e que não era preciso ter medo de trabalhar para superá-las.

Enfatizando a superioridade da emancipação política e social das soviéticas em relação aos direitos formais adquiridos pelas mulheres do Ocidente, Kollontai escreveu em 1946 que “é um fato conhecido que a União Soviética alcançou êxitos excepcionais ao trazer as mulheres para a construção ativa do Estado. Essa verdade não é questionada nem por nossos inimigos. A mulher soviética é uma cidadã plena e igual de nosso país”.

Já Inessa Armand se destacou no tempo da dura ilegalidade das atividades dos opositores do czarismo. Foi uma das principais militantes a organizar a atuação clandestina dos bolcheviques e teve grande proximidade pessoal com Lênin. Seu falecimento em 1921, quando nem mesmo a guerra civil havia se concluído, levou a grandes homenagens do partido e do Estado socialista.

“Isto é o que a Revolução de Outubro deu às operárias e camponesas”. No fundo: “escola”, “biblioteca”, “casa”, “café”, “clube operário”, etc. Cartaz de 1920.

O próprio Pravda, principal jornal dos bolcheviques desde a atuação subterrânea até o poder de Estado, teve como primeira editora uma das militantes incluídas nesta coletânea. Pouco conhecida por aqui, Konkórdia Samóilova teve proeminência nos esforços de fundação do periódico, que buscava apresentar de forma legal as visões da organização que o impulsionava.

Com a consolidação da revolução, prevaleceram as posições das militantes bolcheviques, de visão marxista – mas, como se vê na coletânea, também eram difundidas em jornais e atividades públicas na Rússia as ideias de aristocratas liberais, suffragettes, socialistas camponesas e advogadas radicais sobre a jenski voprós (a questão da mulher, no dizer russo). São autoras como Anna Kalmánovitch, Maria Pokróvskaia, Ariadna Tirkóva-Williams e Olga Chapír, nenhuma delas publicada anteriormente no Brasil.

Através de seus textos, percebemos a diversidade de perspectivas que grassavam nos meios envolvidos com a luta pela emancipação feminina na Rússia de então. O valor histórico da coletânea cresce por ela apresentar um bom panorama dessa amplitude do campo de ideias, devidamente documentada nos escritos. Ao traçar um histórico da luta feminina na Rússia na apresentação da  obra, Graziela Schneider assinala que ela remonta à década de 1850, quando suas primeiras manifestações surgiram. 

Muitas opiniões distintas disputaram as convicções das mulheres russas do meio do século XIX até os anos 20 do século XX, e um pouco desse embate pode ser percebido com a leitura das páginas deste volume. No total, são 41 textos de 11 autoras diferentes no livro.

“Mulher emancipada: construa o socialismo”. Cartaz de 1926.

Útil e interessante para militantes, pesquisadores e também para qualquer pessoa que se interesse pela história da fusão entre a luta das mulheres e a luta por uma sociedade cujo objetivo é banir do mundo toda a exploração, A revolução das mulheres – emancipação feminina na Rússia soviética voltou recentemente ao catálogo da Boitempo Editorial e merece estar em todas as estantes.


Em parceria com a editora, sortearemos 3 exemplares de A revolução das mulheres – emancipação feminina na Rússia soviética, coletânea organizada por Graziela Schneider Urso, entre os apoiadores do nosso jornalismo.

O sorteio ficará aberto até a próxima quinta-feira, 23/3, às 14h. As inscrições devem ser realizadas no formulário que será enviado por e-mail para os leitores que colaboram com Outras Palavras. Se você ainda não contribui com o nosso jornalismo, acesse apoia.se/outraspalavras/ e escolha um plano!

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Um comentario para "Como pensavam as mulheres da Revolução Russa"

  1. José Mario Ferraz disse:

    De mártires, os cemitérios guardam infinitas ossadas sem que o sacrifício deles resultasse em outro proveito para a humanidade além de exemplos que não são seguidos uma vez que os seres humanos só seguem exemplos nada dignificantes, realidade materializada nas figuras mentalmente ridículas que por jogar bola, dirigir em altíssima velocidade, fingir ser cantor, declarar-se homossexual, mostrar bundas e peitos, todas estas vulgaridades são tidas pela sociedade humana como motivo para que tais pobres diabos galguem alta posição de famosos e celebridades milionárias.

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