Motivos para resistir à Amazon

Lançamento da Editora Elefante desvela as práticas predatórias da megaverejista, além de elencar maneiras de se contrapor à sua superexploração. Sorteamos dois exemplares entre quem apoia nosso jornalismo

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“O que a Amazon mais quer de você são seus dados”, nela, você não é o cliente, é na verdade o produto.

Superexploração do trabalho, irresponsabilidade ambiental, isenções fiscais, violações de privacidade, coleta e uso intensivo e nebuloso de dados pessoais, relações escusas com o poder público e obscena concentração de renda são alguns dos ingredientes que compõem a receita de uma das maiores empresas do mundo: a Amazon.

Nessa lista, faltou ainda um dos principais componentes: o sofrimento humano, que se relaciona com o primeiro: a superexploração do trabalho, visto nas inúmeras acusações à companhia, que vão desde trabalho escravo à invasão de privacidade para vigilância do trabalho – e até mesmo a casos repulsivos como forçar trabalhadores a urinar em garrafas apenas para que não “percam tempo” indo ao banheiro.

Ensejando denunciar os efeitos nocivos da companhia e propor maneiras de resistências e contraposição, o poeta Danny Caine traçou algumas linhas que deram origem ao livro Como resistir à Amazon e por quê: a luta por economias locais, proteção de dados, trabalho justo, livrarias independentes e um futuro impulsionado por pessoas.

A obra, lançada esse ano, foi traduzida e publicada no Brasil pela nossa parceira Editora Elefante.

Outras Palavras e Editora Elefante irão sortear 2 exemplares de Como resistir à Amazon e por quê: a luta por economias locais, proteção de dados, trabalho justo, livrarias independentes e um futuro impulsionado por pessoas, de Danny Caine, entre quem apoia nosso jornalismo de profundidade e de perspectiva pós-capitalista. O sorteio estará aberto para inscrições até a segunda-feira do dia 2/10, às 14h. Os membros da rede Outros Quinhentos receberão o formulário de participação via e-mail no boletim enviado para quem contribui. Cadastre-se em nosso Apoia.se para ter acesso!


“Enquadrei este livro em torno da Amazon porque ela é a mais poderosa, eficaz e implacável praticante de um novo tipo de comércio, mas muitas outras estão tentando aprender com o manual da Amazon. Este novo comércio é mais do que uma empresa que vende muitos livros — é uma reavaliação fundamental de como encaramos os termos de privacidade. De como entendemos o papel de uma empresa na sociedade. Dos limites do poder de uma única empresa. Do nosso ambiente. Em alguns aspectos, do que significa ser humano. O pensamento da Amazon representa uma mudança no estilo de vida e, se você me perguntar, é uma mudança contra a qual vale a pena resistir. Acredito profundamente na ideia de que ser humano significa mais do que ser uma fonte de dados com a qual as empresas podem te vender coisas. Ser humano é algo que não pode ser medido em cliques, dados ou dinheiro. Devemos resistir às empresas que querem derrubar essas formas de ser humano.”


Hoje em dia, é praticamente impossível acessar a internet sem passar pelos servidores da Amazon. Os dez maiores usuários da Amazon Web Services (AWS) são Netflix, Twitch, LinkedIn, Facebook, Turner Broadcasting, BBC, Baidu, ESPN, Adobe e Twitter. Além disso, nessa conta também entram outros grandes negócios como Walt Disney Company, Unilever, Johnson & Johnson, Pfizer, Canon, General Electrics, Sony, Nokia, Mcdonald’s, Reddit e muitas outras mais… Há ainda casos mais espantosos como o jornal britânico The Guardian, a Faculdade de Medicina de Harvard e até mesmo a Nasa.

Pensando nisso – e na fatia do mundo que a Amazon concentra –, Danny levanta em seu livro, em um capítulo muito interessante, a questão dos trustes e de como parece necessário reinventar o pensamento antitruste para lidar melhor com o caso da megavarejista. Além disso, ressalta a importância da atuação do Estado nesse movimento, afirmação que nos lembra a fala de Morozov quando veio ao Brasil, no começo do mês de setembro, e deixou bem explícito a importância do Estado na criação de alternativas ao domínio das gigantes empresas de tecnologia.

Infelizmente, o que vemos em diversos lugares é na realidade a subserviência do poder público à razão predatória neoliberal, tendo em vista o fato de que, em várias partes do globo, governos fazem questão de escancarar as portas para a superexploração da mão-de-obra, além de fornecerem “uma montanha de incentivos fiscais e benefícios governamentais”, artimanhas que ajudaram a Amazon a chegar onde está. Esse fato leva um capítulo inteiro no livro de Danny.

O escrito, portanto, não se limita a esboçar o danoso papel desempenhado pela Amazon no mercado editorial. Danny busca aprofundar questões que vão desde a indústria do livro à estrutura e rede de entregas, infrações, escândalos, invasão de privacidade e problemas gerais da Amazon. Há também um capítulo dedicado às relações duvidosas do governo com a empresa de tecnologia. E, por fim, são elencadas diversas maneiras de resistir à exploração empreendida pela companhia, além de indicações de leituras mais aprofundadas no tema.

O autor nos convida a não agir somente contra à megavarejista, mas também e, principalmente, em favor das pequenas empresas, que, ao contrário da Amazon, quando fazem uma venda a mais ou a menos sentem uma grande “diferença entre um dia rentável e um dia não rentável”. Pequenas livrarias, por exemplo, não podem e nem têm condições de aplicar os descontos obscenos promovidos pela Amazon.


“Não se trata apenas de livrarias. Trata-se de lojas de ferragens e restaurantes e bares e impostos e o meio ambiente e os correios e os sindicatos e a privacidade e o governo e a gestão local. Resistir à Amazon é maior do que as livrarias.”


Sendo assim, resistir à Amazon é também proteger as comunidades, os territórios, o modo de vida local e o próprio sentido humano de troca. Essa empresa vem construindo uma estrutura própria que foge às regras e colocando em risco trabalhadores, meio ambiente e até mesmo outras empresas.

Para finalizar, mas voltando à lista de ingredientes do começo do texto, mais precisamente no componente: sofrimento humano, é sempre bom lembrar que Jeff Bezos, o dono da Amazon, foi uma das pessoas que mais enriqueceu enquanto milhões de pessoas morriam durante a pandemia de Covid-19.

Outro exemplo de sofrimento humano está no envolvimento da Amazon no apertheid israelense. Ahmad Ibsais, palestino-americano e estudante de direito, denunciou o caso esse ano. Desde 2014, a empresa tem feito um investimento bilionário em assentamentos ilegais e tecnologias de vigilância que servem ao massacre de milhares de palestinos. O intuito é compilar perfis biométricos e classificações de segurança de todos que residem na Cisjordânia.

Não podemos permitir que a Amazon reescreva as regras da economia e muito menos que pese a balança para o lado das opressões, do massacre e do imperialismo. Alternativas para isso não estão em falta!


Sobre Danny Caine
Danny Caine é dono da Raven Book Store em Lawrence, Kansas, Estados Unidos. Autor dos livros de poesia Continental Breakfast, El Dorado Freddy’s e Flavortown, Caine foi tema de reportagens no jornal The New York Times e na revista The New Yorker, e apontado como livreiro do ano pela Midwest Independent Booksellers Association em 2019. Dentro e fora da internet, é um defensor apaixonado das livrarias de rua independentes. Poemas, zines e outros textos de sua autoria estão disponíveis em dannycaine.com.


Em parceria com Editora Elefante, Outras Palavras irá sortear 2 exemplares de Como resistir à Amazon e por quê: a luta por economias locais, proteção de dados, trabalho justo, livrarias independentes e um futuro impulsionado por pessoas, de Danny Caine, entre quem apoia nosso jornalismo de profundidade e de perspectiva pós-capitalista. O sorteio estará aberto para inscrições até a segunda-feira do dia 2/10, às 14h. Os membros da rede Outros Quinhentos receberão o formulário de participação via e-mail no boletim enviado para quem contribui. Cadastre-se em nosso Apoia.se para ter acesso!

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