Itália: os mercados flertam com o fascismo

Uma coreografia à la Mussolini choca o mundo. Mas a primeira-ministra Meloni faz sucesso na União Europeia e na OTAN. E veste Armani

.

Tão grotesco quanto a manifestação foi o silêncio da governante. Na noite de domingo, em cena que viralizou nas redes, centenas de militantes fascistas, vestidos de negro, coreografaram o gesto – braço direito erguido acima do ombro – que marcava as cerimônias dirigidas por Benito Mussolini. Estavam em Roma, diante da antiga sede do MSI, partido neofascista do qual se originou o “Fratelli [Irmãos] d’Italia”, da primeira-ministra Giorgia Meloni. O gesto ultrajou o arco político italiano – inclusive parte da coalizão no governo. Meloni, contudo, calou-se.

Ainda mais perturbador é o acolhimento oferecido à primeira-ministra – no governo há 15 meses – nos círculos de poder e de riqueza da Europa e EUA. O passaporte foi comprado com gestos de boa vontade dirigidos às políticas hegemônicas no Ocidente. Meloni apoia firmemente a guerra da OTAN contra a Rússia. Visitou a Ucrânia. Encontrou-se e entendeu-se com Joe Biden. Retirou a Itália das “novas rotas da seda” [Belt and Road Initiative – BRI] lançadas por Pequim. O cientista político italiano Anthony Constantini nota que ela converteu o “pequeno nacionalismo” de políticos como Victor Orbán (Hungria) e políticos ou Marine Le Pen num “nacionalismo ocidental” – expresso, por exemplo, na perseguição os imigrantes africanos ou muçulmanos que tentam chegar à Itália.

Sagaz, a repórter Iara Vidal, da revista Fórum, chama atenção para outro detalhe: Meloni caracterizou-se por envergar, com frequência, roupas (em especial, ternos) criados pelo costureiro Giorgio Armani, que emulam masculinidade e a identificam com os líderes empresariais e o establishment, de maneira mais ampla. Aí, pode.

Leia Também: