Itália: o novo governo-Frankenstein e suas razões

Anti-sistema? Luigi di Maggio, líder da bancada do Movimento Cinco Estrelas

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Poderão um partido que se diz anti-sistema e outro xenófobo governar o país? Começa um experimento curioso

Porta-vozes de dois grupos políticos italianos — o Movimento Cinco Estrelas (MVL) e A Liga anunciaram ontem que apresntarão nas próximas horas, ao presidente do país, Sergio Mattarella, o nome do possível novo primeiro-ministro. MVL e Liga anunciaram na sexta-feira que haviam chegado a um acordo para governar a Itália. Têm em teoria, votos parlamentares para sustentar um gabinete bipartidário (na Itália, parlamentarista, forma o governo quem tem mais cadeiras na Câmara e Senado). Mas tanto o programa quanto a composição deste governo serão esdrúxulas — um experimento político inédito, em meio à crise global da democracia.

Formado há menos de dez anos, sob liderança do comediante Beppe Grillo, o MVL considera a si próprio como “anti-sistema” e cresceu, essencialmente, ao fazer a denúncia da decadência da democracia e das políticas de “austeridade”. Nas últimas eleições (em março), tornou-se, individualmente, a maior força política do país. Até agora, sempre havia rejeitado coalizões. Já a Liga descende da Liga Norte, um partido originalmente elitista, separatista e xenófobo. Há alguns anos, moderou seu discurso e tornou-se o partido mais importante de uma coalizão de centro-direita que inclui a Forza Italia, de Silvio Berlusconi.

Como juntar estas duas correntes sem criar um governo-Frankenstein, incapaz de se sustentar? MVL e Liga apostam num programa que inclui crítica ao euro; rejeição das medidas de “austeridade” determinadas pela União Europeia; retomada dos serviços públicos e dos gastos sociais — mas, ao mesmo tempo, restrições à entrada e aos direitos dos imigrantes. Há alguma chance de sucesso? O que se sabe, por enquanto, é que o novo governo está incomodando os burocratas europeus, incapazes de tolerar qualquer tipo de crítica a sua cartilha neoliberal.

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