Irlanda: Igreja teme enfrentar seus fantasmas

 

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Mais escândalos de pedofilia envolvem bispos católicos. Insistência em abafar os casos gera atrito com governo e sociedade

Por Luís F. C. Nagao

Certas frases ficam marcadas. Paulo Maluf declarou, certa vez: “quer estuprar, estupra. Mas não mata.” Já a Igreja Católica parece, às vezes, ser norteada por um dito popular: “O que os olhos não veem o coração não sente.” Mais um escândalo de abuso sexual, desta vez em solo irlandês, ocorre no seu interior.

Um terceiro relatório sobre abusos sexuais contra crianças, no país, foi lançado em 13 de julho. Desta vez, foram investigados atos praticados na diocese de Cloyne, perto da cidade de Cork. A investigação foi solicitada pelo governo irlandês. As suspeitas começaram quando o ex-bispo John Magee (na foto) tergiversava e adiou exame de casos de pederastia em sua diocese a um órgão de supervisão de sua Igreja.

O conteúdo do relatório revela reclamações contra 19 clérigos, que abusaram de 40 crianças na diocese durante os anos de 1996 a 2009. A insuficiências das políticas que a Igreja Católica adotou em relação ao problema, em 1996, tornou-se clara. Já havia histórico de condescendência. Em 1997, uma carta do Vaticano indicava sérias reservas à política de alguns bispos, que exigiam a denúncia de abusadores à polícia.

Como se não bastasse, uma carta deste ano, redigida por outros bispos, tentou minimizar as normas do país acerca de abusos infantis. Dessa vez, a indignação ecoou na própria Irlanda, que tem forte tradição católica. A própria Santa Sé foi atacada e acusada de minar os marcos de proteção infantil. O ministro do Exterior, Eamon Gilmore, sugeriu que o Vaticano passou dos limites. O da Justiça, Alan Shatter, disse ter pronto projeto de lei para exigir que os padres sejam processados, caso não falem sobre crimes relatados em confessionário.

No dia 3/9, em declaração oficial, o Vaticano, considerou infundadas as acusações. Na defensiva, reconheceu omissões dos bispos irlandeses. Assegurou que não pretende interferir na legislação e na autoridade civil do país. Uma visita de Benedicto XVI à Irlanda, no próximo ano, não está descartada.

Mesmo assim, o primeiro-ministro Enda Kenny reafirmou sua posição sobre o caso. Segundo ele, “cada organização, seja religiosa ou qualquer outra, terá que entender que a lei do país será aplicada aqui.” O premiê julga que a população sente-se frustrada e enraivecida com a repetição, pela igreja, de práticas há muito repudiadas pela maioria.

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3 comentários para "Irlanda: Igreja teme enfrentar seus fantasmas"

  1. Hugo Bastos Lima Verde disse:

    Poe estas e outras que passei a crer em deus e não nas religiões, a igreja católica tem muito o que explicar, seu comportamento na idade média quando matou queimado na fogueira milhares sob a acusação de bruxaria, a venda de indulgências, na segunda guerra apoiando a alemanha em suas ações terríveis e os frequentes escândalos sexuais, os evangélicos também não ficam atrás repetem a venda de indulgências que foi a razão de sua fundação na revolta de frei Calvino e Lutero, e vendem hoje cristo no quilo ou na grama na sua famigerada teoria da prosperidade na qual quem prospera mesmo são os pastores que transformam cristo em Banco de investimento.

  2. Murilo Dias César disse:

    Muito bom e esclarecedor o texto, revelando os crimes de pedofilia cometidos por membros do clero irlandês e, por outro lado, revelando também a hipocrisia dos altos mandatários da ICAR – Igreja Católica Apostólica Romana.
    Há, pelo menos, um aspecto positivo: a posição das autoridades governamentais irlandesas, que insistem em levar adiante e até aos tribunais os casos de pedofilia no clero irlandês.

  3. Christiano Whitaker disse:

    Eja lá o que for, creio extremamente improvável que a Igreja concorde em revelar segredos de confessionário.

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