Edmilson Costa: "depositar esperanças numa volta de Lula é um erro grave"
Publicado 10/05/2017 às 15:50
“A aposta deve ser feita na luta de massas, na mudança da correlação de forças, na derrubada do governo, com a colocação dos corruptos na cadeia”
Por Edmilson Costa*
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Outras Palavras está indagando, a pessoas que pensam e lutam por Outro Brasil, que estratégias permitirão resgatar o país da crise (Leia a questão completa aqui e veja todas as respostas dos entrevistados aqui).
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A Justiça no Brasil tem lado e, na grande maioria das vezes, esteve ao lado dos poderosos. No caso específico de Curitiba, entendemos que o juiz Sergio Moro age de forma parcial. Enquanto o Michel Temer, grande parte de seus ministros e parcela expressiva da Câmara e do Senado, estão envolvidos com a corrupção, o juiz monta esse espetáculo midiático como se Lula fosse o único responsável pela corrupção no Brasil. Por que não realiza o mesmo espetáculo com Aécio Neves, os ministros de Temer e os parlamentares corruptos? Para os amigos a justiça, para os inimigos, a lei.
Vivemos uma das mais graves crises de nossa história. Combina uma das maiores recessões desde a década de 30, uma crise social com mais de 14 milhões de desempregados, uma crise política profunda, o fim de um longo ciclo que se iniciou em 1978, com a greve da Scania, e fechou com o impeachment e a abertura de um novo ciclo que se iniciou embrionariamente com as jornadas de junho de 2013. O fim desse ciclo marcou também a derrota da política de conciliação de classes e a emergência de um governo puro sangue da burguesia e do imperialismo, que vem realizando um brutal ataque contra os trabalhadores, a juventude e o povo pobre dos bairros. Em contrapartida, há um enorme descontentamento e indignação na grande maioria da população contra esse governo, que se manifesta nas ruas, estádios de futebol, shows artísticos e que se condensou na greve geral de 28 de abril. Portanto, há um processo de lutas sociais em marcha e o centro de nossos esforços deverá continuar no sentido da organização e mobilização dos trabalhadores, da juventude e do povo pobre dos bairros, até a queda do governo usurpador. Isso significar ampliar as lutas nas ruas, nos locais de trabalho, moradia e estudo. O resultado das lutas que realizarmos em 2017 terá um papel fundamental no futuro do País. Portanto, depositar esperanças nas eleições de 2018 ou numa volta de Lula à presidência é um erro grave. Os 13 anos de governo petistas já nos ensinaram o que não devemos repetir. Um eventual governo Lula seria ainda pior que o realizado no passado, com mais frustrações para os trabalhadores e a juventude. A aposta deve ser feita na luta de massas, na mudança da correlação de forças, na derrubada do governo, com a colocação dos corruptos na cadeia, confisco de seus bens e a conquista de um governo que baseado nos interesses populares.
*Economista, professor universitário e secretário geral do PCB
“Por que não realiza o mesmo espetáculo com Aécio Neves, os ministros de Temer e os parlamentares corruptos? Para os amigos a justiça, para os inimigos, a lei.”
Concordo com várias das suas colocações. Mas essa colocação é muito infeliz, na medida em que tais pessoas só podem ser julgadas pelo STF. A justiça federal NÃO pode julgar essas pessoas, pois possuem foro privilegiado. Logicamente então, não se pode fazer essa comparação!
“Vivemos uma das mais graves crises de nossa história. Combina uma das maiores recessões desde a década de 30, uma crise social com mais de 14 milhões de desempregados, uma crise política profunda, o fim de um longo ciclo que se iniciou em 1978, com a greve da Scania, e fechou com o impeachment e a abertura de um novo ciclo que se iniciou embrionariamente com as jornadas de junho de 2013.”; a se construir na plataforma democrática (a vontade direta expressa pelo povo) e que aproveite a institucionalidade posta (o Orden. Júridico parcialmente esculpído pela CF/99), desarmando a execrável legislação partidária-eleitoral vigente e purificando o processo segundo a vontade popular, com isto criando uma norma eleitoral encaixável no modelo de base de autêntica Democrácia, somente com eleições gerais com candidaturas livres e com poder constituinte revisional (previsto na CF/88 a partir de seus princípios pétreos). É momento pré revolucionário para que a nação, que descrê, desconfia de todos os partidos e seus líderes políticos, ilegitima o governo e o Estado, decida entre todos cidadão em condições de igualdade com o democrático exercício da expressão de vontade e voto, votar e ser eleito, propondo-se a governar ou escolher quem haverá de governar. Evidente que para que haja eleições gerais necessário que se construa um projeto normativo, de reengenharia técnica política e de participação dos cidadãos na base democrática, tarefa à intelligentsia brasileira e que exige à arquitetura normativa o plebscito -> eleições gerais -> referendo. A norma eleitoral democrática é ampla em disciplinamento, desde o Judiciário (Eleitoral) com sua urna eletrônica até a isonomia do eventual universo de candidatos. Tarefa nada fácil; tarefa da intelligentsia nacional democrática (espelhada no conceito de que Democracia é o governo do povo, pelo povo para o povo e com o povo em geral. Todos. Na Democracia todas as ideias são conhecidas, debatidas e excluídas da plataforma democrática, ou seja, diminuindo algumas ou até anulando outras por predominância do consenso (harbemasiano) Ademais, a se ver uma sociedade dividida em minorias (Junho 2013 e os mais de 1/3 de votos de protesto; igual se dando em todos os demais países, v.g., na França, recentemente). Enfim, (…) A proposta inconsciente e inconsequente ou a falta de especificidade do grito de eleições diretas (já), simplesmente, e sem anulação das regras postas, pode servir aos propósitos de legitimação do status quo, o que cedo ou tarde conduzirá a nação à 2a. via, o conflito violento de classes ou ao completo subjulgo da sociedade. Portanto, ao pensar e agir como conquista ou costrução primeiro da base democrática..
A corrupção endêmica neste Brasil do sistema político chamado presidencialismo de coalizão é uma tipologia generalizada de crime. A lambuzação com o “puder”. Assim não é um perfil que se pode atribuir a este ou aquele partido político. Herança cultural das capitanias hereditárias. A esquerda na America Latina na verdade esconde uma tendência ao caudilhismo. Ler: “O socialismo do século XXI”. Marco Aurélio Garcia,