Conhecimento Livre: os dez anos do Baixa Cultura

Em tempos de disputa acirrada pelo futuro da internet, um coletivo em Porto Alegre celebra uma década de luta cultural — informação, análises, laboratório, ciclos de filmes, livros e zines — contra os que querem controlar a difusão das ideias e da arte

Por Leonardo Foletto

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Conheça o Baixa Cultura em Porto Alegre, ou em seu site 

www.baixacultura.org

“A lógica industrial da cultura [dominante ao longo do século 20] se baseia num esquema feroz de controle autoral (o copyright), mais ou menos feroz a depender do volume de grana envolvido. Quando a tecnologia digital torna impossível esse controle, e aos lucros cada vez menores da indústria se equipara uma produção cultural descentralizada, diversificada e auto-gerenciada; quando a reação da indústria é uma dispendiosa campanha “contra a pirataria” por vezes redundando em leis ignorantes, é aí que é possível perceber: a sociedade é a grande concorrente da indústria.
Na produção cinematográfica nigeriana, ou na contra-indústria tecnobrega de Belém do Pará, ou no trabalho criativo e criminoso [viva!] do dj Danger Mouse, ou em centenas de experiências que o BaixaCultura pretende cobrir, o que está em jogo é um tipo de organização que segundo os critérios de avaliação das velhas leis e dos homens-de-preto da indústria já nasceu pirata, e o incrível apego que esses mesmos homens nutrem por um modelo de indústria que existe há apenas um século, contra um monte de outros séculos de produção artística.”
Assim começávamos o BaixaCultura, em setembro de 2008, então como um blog, tocado por Leonardo e Reuben da Cunha Rocha. Dez anos e muita coisa depois, cá estamos, vivos, como uma laboratório online de cultura livre, ainda com textos, ensaios e reportagens, mas também com oficinas, cursoszines/livros, ciclos de filmes (copy, right?) e uma tentativa de buscar sustentabilidade através do financiamento recorrente. Dá pra dizer: resistimos.
 
Na era em que tudo é registrado, onde parece tão fácil documentar, muito tem se perdido. Um paradoxo, ainda mais visível e paradoxal nos projetos, pessoas e instituições de cultura livre, remix, artivismo, hackers, contracultura, software livre, etc. Com alguma dose de sem-noçãozisse e outra de teimosia, cá estamos como um dos poucos projetos vivos que ainda documenta, (in)forma e produz cultura livre (e contra) cultura digital nesse distópico 2018. Celebremos?
Pois sim, celebramos! Fizemos da última semana de setembro de 2018 dias atípicos de resgate da memória e de celebração da existência. A partir da ideia de Sheila Uberti, nossa parceira de muitos projetos, organizamos três frentes:
HISTÓRIA ABERTA: ao longo da semana, todos os dias destacamos em nossas redes alguns dos 480 (!) posts produzidos desde 2008, sob a hashtag #baixacultura10anos. Foi uma forma de revisitar estes textos, dá-los a conhecer por algumas pessoas que não os conhecem e, também, compartilhar uma memória da cultura livre e (contra) cultura digital ao longo destes últimos 10 anos de intensas transformações no mundo digital.
HISTÓRIA COLETIVA: Convidamos leitor@s, alun@s, apoiador@s, colaborador@s, simpatizantes – a compartilhar algum momento, texto, depoimento, imagem, declaração de amor ou ódio, sobre a cultura livre destes últimos 10 anos, ligados ou não ao baixacultura. Quem usou hashtag #baixacultura10anos no twitter/facebook/instagram e outra redes nos ajudará a agregar depois o conteúdo em uma página e mostrar todas as postagens na…
PEQUEÑA JUNÇÃO BAIXACULTURAL: na sexta-feira, dia 28/9, às 18h, fizemos uma celebraçãozinha desses 10 anos numa videoconferência transmitida no nosso canal do YouTube, mostrando os momentos compartilhados pela tag #baixacultura10anos, tocando músicas livres, falando um pouco da cultura digital brasileira, da ressaca da internet, com alguns convidad@s presenciais em carbono (em Porto Alegre) e em silício (de outros lugares do Brasil e mundo, online). Rolou no Jardin’s do Chopp, gastrobar da Cidade Baixa, zona boêmia e gastronômica de Porto Alegre. O vídeo estará disponível em breve

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