Como os executivos se drogam

Ritalina, cocaína e outros PCEs. A mesma sociedade que proíbe psicotrópicos recreativos está estimulando outros, consumidos para exercer poder – e encarar a brutalidade do mundo empresarial

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A onda está sendo chamada de doping corporativo e alastra-se. 62,9% dos executivos que responderam a uma pesquisa do think-tank Bossa disseram vê-las como o “novo normal”; e 90% creem que alguém em sua empresa já recorre às “smart drugs”. São substâncias psicoativas – ritalina, cocaína e um vasto grupo de “estimulantes cognitivos farmacêuticos” (PCEs, em inglês) – que produzem atenção concentrada (“foco”) e aumentam os períodos de vigília atenta. Ouvida pelo Valor, Alessandra Lotufo, diretora da Bossa, alerta “o perigo é que elas produzem comportamentos valorizados”. Ou seja, num mundo empresarial cada vez mais competitivo, a obrigação de estar à frente dos outros (ou ser descartado) e a pressão por “entregas” só podem ser suportadas por aditivos químicos. Isso se dá mesmo entre executivos de ponta: 57% dos que responderam à pesquisa eram diretores ou membros de conselhos de empresas, 27% das quais com faturamento acima de R$ 20 bi. A matéria, assinada pela jornalista Stela Campos, também ouviu a pesquisadora Daniela Bauab, autora de uma dissertação sobre o tema na FGB. Ela aponta os efeitos colaterais, típicos da subjetividade neoliberal. Os executivos que entrevistou “dizem que [o uso] prejudica algumas análises estratégicas e o senso crítico, porque aumenta o foco e o ritmo de trabalho numa batida muito imediatista”.

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