Cinderela ainda vende ilusões

130218-cinderela

.

Antropóloga constata: filme de Disney continua estimulando nas garotas desejos de “ser princesa” e atitudes de passividade e espera. Estudo propõe estimular outros referenciais

Por Gabriela Leite

“Olha tia, eu rodo que nem a Princesa”, foi o que disse uma criança à pesquisadora Michele Escoura, durante seu estudo sobre a influência das personagens da Disney na formação do conceito de feminilidade. Girando entre Princesas: performances e contornos do gênero foi um estudo de mestrado no Departamento de Antropologia da FFLCH, USP, descrito aqui na Agência USP de Notícias. A ideia para a pesquisa surgiu a partir da percepção de como a personagem Cinderela continua a ter grande apelo sobre meninas ainda pequenas, mais de 60 anos após o lançamento de seu filme. Michele foi a campo e falou com crianças de três escolas — duas públicas e uma particular — para compreender de que forma as Princesas da Disney formam a concepção de homem e mulher no imaginário infantil.

Seguindo teorias de gênero, a pesquisadora conversou com crianças, exibiu filmes com elas e analisou seus desenhos, produtos e brincadeiras. Percebeu que existe muito claramente uma diferenciação — e até uma cobrança — entre o que é ser homem e mulher. E a influência dos objetos com a marca das personagens da Disney tem grande importância para a afirmação da personalidade das meninas. Para as crianças também parece ser claro o que define ser princesa: ser elegante, ter um marido, roupas bonitas, uma corôa e glamour, o que mostra como as produções também exercem uma influência estética muito forte.

Também nota-se uma diferença de compreensão da linguagem cinematográfica, quando se comparam as crianças com maior e menor poder aquisitivo. As primeiras, por terem mais contato com o cinema, conseguem acompanhar melhor o roteiro do filme. Já nas escolas públicas, nota-se uma discriminação mais intensa contra quem não tem objetos das Princesas — isso as deslegitimaria como uma. Michele acredita que é necessário que haja outros referenciais a serem apresentados às crianças para que sua noção de feminino e masculino se expanda e não se baseie apenas em filmes e produtos.

Leia Também:

3 comentários para "Cinderela ainda vende ilusões"

  1. Felipe G. E Silva disse:

    Quem estudou "marquetingue" sabe como manipular as crianças. Elas são as Unidades de Decisão de Compra da família, são suplentes de venda. Os cientistas usam Piaget e outros pesquisadores para trabalhar a SEDUÇÃO. Um horror! As empresas querem uma criança fiel ao produto, subordinadas "livremente" ao mundo da mercadoria. São crianças que aborrecem os pais, compulsivas. Esta é a liberdade do capital, transforma tudo em mercadoria, até a saúde é uma mercadoria. Educação etc… Democracia de mercado!. Coisificação do ser humano, O País – Fast- Food é um bom livro.

  2. Telmo Sdio disse:

    Dever social: de formação da nova geração que cada vez mais deixamos, com o escopo da autoformação, excelente conceito, mais que vai sendo mal direcionado.

  3. Angela Gomes disse:

    Antropóloga constata: o filme Cinderela continua estimulando nas garotas desejos de “ser princesa” e atitudes de passividade e espera. Estudo propõe estimular outros referenciais…

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *