Documentário Narciso em férias radicaliza o “método Coutinho”: é todo Caetano, falando para a câmera, em cenário austero. Por meio de seu filtro pessoal, sua memória de cárcere na ditadura espelha sua arte – e também nossa história recente
No Cinefantasy, filmes vibrantes e assustadores. Entre eles, O cemitério das almas perdidas, de Rodrigo Aragão. Amaldiçoados, europeus levam atrocidades ao Novo Mundo — uma leitura com sangue e vísceras da formação social do Brasil
A 8 ½ Festa começa amanhã, totalmente online. Nos filmes selecionados, variedade, vigor e humor ladino, mas também sinais do tempo: a figura clássica da mamma se reconfigura e a crítica à burguesia dá lugar à defesa da filantropia
Em Dentro da minha pele, Toni Venturi, branco de classe média, se propõe a investigar a democracia racial — e a resistência negra. Pelo seu desconcerto e contradições, o privilégio branco revela-se — e é demolido por histórias dolorosas e insurgentes
Deerskin: estilo matador, de Quentin Dupieux, é insólito: em vazio existencial, um homem compra uma jaqueta — que ordena-lhe eliminar todas as outras do mundo. Na história surreal, lógicas precisas — e um narcisista que recusa-se a crescer
Em The hater, do polonês Jan Komasa, um jovem e seu trabalho de implodir, no submundo virtual, a reputação de empresas e políticos. Nessa rede de fake news e intolerância, o ressentimento é o motor — dos ódios virtuais à violência real
Estreia no streaming Macabro, instigante suspense policial de Marcos Prado — sem resvalar nos clichês do gênero. Baseado num caso real de assassinatos e necrofilia, filme mostra olhar agudo sobre o racismo, a política e a justiça dos “cidadãos de bem”
Em novo documentário, Maria Augusta Ramos mostra o fulgor coletivo da histórica greve da Caixa Econômica, em 1991 — em contraste com a hipercompetitividade de hoje. Tom não é de libelo, mas melancólico, frente ao vazio neoliberal
Chega ao streaming O último imperador (1987), de Bertolucci. Na Cidade Proibida, o faz-de-conta de um governante incapaz de amadurecer. Mas, como jardineiro-anônimo na China maoísta deixa de ser símbolo, para tornar-se humano
Em plataforma digital gratuita, uma preciosidade: De crápula a herói (1959), drama histórico de Rossellini, onde a trapaça é meio de sobrevivência — e até de luta política. A lição que Ennio Morricone nos deixa: a música pode ser luz na 7ª arte