Agrotóxicos: a história de 1 milhão de envenenados

Professora da USP prepara “Geografia do Uso de Agrotóxicos no Brasil”; repercussão de entrevista mostra importância de um observatório do agronegócio no Brasil

Por Alceu Luís Castilho (@alceucastilho)

Entre 2007 e 2014, 25 mil pessoas foram atingidas pelo uso de agrotóxicos no Brasil. Intoxicadas. Dessas, 1186 morreram. Mas essa é apenas a ponta do iceberg, aponta a professora Larissa Mies Bombardi, do Departamento de Geografia da USP. Estima-se que, para cada caso notificado, ocorram outros 50. Em outras palavras, o país teve nesse período mais de 1 milhão de pessoas envenenadas por pesticidas.

Larissa finalizará neste semestre a “Geografia do Uso de Agrotóxicos no Brasil”. Com dados atualizados por Unidades da Federação, municípios, gênero, idade. De Olho nos Ruralistas – um observatório jornalístico sobre o agronegócio no Brasil – entrevistou a professora e detalhou esses dados, mapa a mapa.

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Os pontos escuros no mapa significam as regiões com maior número de casos. Alguma surpresa pela alta concentração nas regiões Sul e Sudeste? Ela se explica por um determinado modelo de apropriação do território e dos recursos naturais, que atende pelo nome de agronegócio.É nas áreas com produção de soja (como no Paraná), cana de açúcar (como em São Paulo), ou fruticulturas (caso de Ceará e Pernambuco) que se concentra boa parte dos casos de envenenamento por agrotóxicos. São venenos de fácil acesso: assim como as armas nos Estados Unidos.

Em texto no Outras Palavras, o jornalista João Peres resumiu na semana passada a entrevista concedida ao De Olho nos Ruralistas: “Um Atlas de nossa agricultura envenenada“.

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DE OLHO NOS RURALISTAS

A entrevista com Larissa faz parte de um programa-piloto do De Olho nos Ruralistas.  O projeto (do qual eu sou o editor) está em campanha de financiamento coletivo, a dez dias do fim da arrecadação. Prevê um programa de TV pela internet e um site com atualização diária: notícias, reportagens e artigos sobre o agronegócio e seus efeitos sociais e ambientais. Além de boletins diários – De Olho na Comida, De Olho no Ambiente, De Olho nos Conflitos, De Olho no Agronegócio e oficinas sobre questão agrária.

Em outro trecho do programa, Larissa Bombardi falou sobre os riscos da pulverização aérea de venenos contra a dengue (com os mesmos princípios ativos dos agrotóxicos) nas cidades: “Agrotóxicos: agora despejados sobre você“.

A repercussão desses trechos do programa mostra a importância de um observatório jornalístico sobre o agronegócio no Brasil. Para que esses e outros dados (sobre ambiente, sobre alimentação, sobre conflitos agrários) sejam esmiuçados, debatidos, atualizados – todos os dias. Sempre com a perspectiva de fiscalizar o poder político e econômico.

Entre os que republicaram os vídeos – ou os textos aqui no Outras Palavras – estão o Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST), o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), o Centro de Ciência do Sistema Terrestre do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, a Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais (Abong) e o canal Do Campo à Mesa, além de sites jornalísticos (Envolverde, Sul21) e dezenas de milhares de compartilhamentos nas redes sociais.

De Olho nos Ruralistas é apoiado por instituições como a Campanha Permanente Contra Agrotóxicos e Pela Vida, MST, MPA, Instituto Socioambiental e Greenpeace.

Para fazer doações ou conhecer melhor o projeto, clique aqui: http://bit.ly/1sCYNBQ

LEIA AMANHÃ:

A geografia do envenenamento de crianças por agrotóxicos no Brasil

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3 comentários para "Agrotóxicos: a história de 1 milhão de envenenados"

  1. Pedro Guesser disse:

    Bom dia.
    Bastante interessante a matéria com ressalvas para não tender para o ponto de vista ideológico. Hoje precisamos nos valer de todas as ferramentas possíveis e, principalmente disponíveis, para alimentarmos não só os brasileiros mas todos aqueles que de nos esperam esta resposta.
    O uso da ferramenta (agrotóxicos ) ou produtos fitossanitários, dependendo do ângulo de visão, se faz muito necessário visto que, sem a mesma estaríamos hoje malfadados a colheita de apenas 40% do que observamos. Seria voltar de mais de 200 milhões de toneladas de alimentos para algo em torno de 80 milhões. A agricultura orgânica seria muito bem vinda não fosse sua pequena expressão produtiva. Hoje apenas 5 kg por ano por habitante. Também é exagero gritar aos quatro ventos que consumimos ¨5 kg de agrotóxico por Habitante”. hoje, além da redução da quantidade recomendada por área, também é notório a redução da toxicidade dos produtos e, ainda ressaltar que além da grande maioria destes produtos serem utilizados em culturas que serão processadas( Milho, soja, cana, algodão), mais de 50% do material contido nas embalagens são veículos para facilitar seu funcionamento tais como adjuvantes espalhantes e redutores de Ph.
    No trabalho acima vimos um mapa que trata das intoxicações ao longo de 10 anos, pois bem, dos 1186 óbitos neste período bem demonstrado, mais de 50 % foram por suicídio. Em uma conta simples, 85 óbitos por ano. A tecnologia automobilística mata 50 mil por ano então, são necessários 500 anos de uso de defensivos agrícolas se quisermos fazer comparativos… Vale ressaltar, o grande problema esta na má utilização e falta de conhecimento de quem usa até por que, os custos inerentes aos mesmos direcionam para um uso racional…

  2. Pedro Guesser disse:

    Bom dia.
    Bastante interessante a matéria com ressalvas para não tender para o ponto de vista ideológico. Hoje precisamos nos valer de todas as ferramentas possíveis e, principalmente disponíveis, para alimentarmos não só os brasileiros mas todos aqueles que de nos esperam esta resposta.
    O uso da ferramenta (agrotóxicos ) ou produtos fitossanitários, dependendo do ângulo de visão, se faz muito necessário visto que, sem a mesma estaríamos hoje malfadados a colheita de apenas 40% do que observamos. Seria voltar de mais de 200 milhões de toneladas de alimentos para algo em torno de 80 milhões. A agricultura orgânica seria muito bem vinda não fosse sua pequena expressão produtiva. Hoje apenas 5 kg por ano por habitante. Também é exagero gritar aos quatro ventos que consumimos ¨5 kg de agrotóxico por Habitante”. hoje, além da redução da quantidade recomendada por área, também é notório a redução da toxicidade dos produtos e, ainda ressaltar que além da grande maioria destes produtos serem utilizados em culturas que serão processadas( Milho, soja, cana, algodão), mais de 50% do material contido nas embalagens são veículos para facilitar seu funcionamento tais como adjuvantes espalhantes e redutores de Ph.
    No trabalho acima vimos um mapa que trata das intoxicações ao longo de 10 anos, pois bem, dos 1186 óbitos neste período bem demonstrado, mais de 50 % foram por suicídio. Em uma conta simples, 85 óbitos por ano. A tecnologia automobilística mata 50 mil por ano então, são necessários 500 anos de uso de defensivos agrícolas se quisermos fazer comparativos… Vale ressaltar, o grande problema esta na má utilização e falta de conhecimento de quem usa até por que, os custos inerentes aos mesmos direcionam para um uso racional…

  3. Marcio Ramos disse:

    Muito bom. Iniciativa valiosa. Para combater o agrotóxico precisamos de cultura agropecuária orgânica e familiar. Aqui na Paraíba temos bons exemplos. Força na luta!!!

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