A Itália se levanta contra o genocídio em Gaza
País registrou sua maior mobilização social dos últimos anos, que levou 500 mil às ruas e greve geral em setores chave. Protestos exigem o reconhecimento do Estado palestino. Símbolo do movimento, portuários bloquearam transporte de armas a Israel
Publicado 23/09/2025 às 17:44

Por Janaína César, no Opera Mundi
Mais de 65 cidades da Itália registraram uma de suas maiores mobilizações sociais dos últimos anos nesta segunda-feira (22/09). Uma greve geral de 24 horas, convocada por sindicatos e organizações sociais, paralisou setores chave do país, incluindo transportes, educação, saúde e administração pública.
O ato, que teve como foco a solidariedade ao povo palestino, exigiu o fim do genocídio perpetrado por Israel em Gaza, a suspensão da venda de armas ao Exército israelense e o reconhecimento do Estado da Palestina pelo governo italiano.
“Hoje, 500 mil pessoas compareceram às manifestações. Todos os principais portos da Itália foram bloqueados, 90% do transporte público parou e 50% das ferrovias, escolas e universidades foram fechadas. E tudo graças ao que começou nesta cidade e isto é apenas o começo”, disse Francesco Staccioli, da direção da União sindical de base (USB), uma das organizadoras da greve.
A data da greve coincidiu com um movimento internacional: diversos países apresentaram formalmente às Nações Unidas o reconhecimento do Estado palestino, seguindo os passos do Reino Unido, Austrália e Canadá. Enquanto isso, a Itália, sob o governo ultraconservador de Giorgia Meloni, mantém-se alinhada a Israel e aos Estados Unidos, aprofundando seu isolamento diante de críticas internas e externas.

Os protestos tomaram as ruas de norte a sul do país e, em algumas cidades, os atos foram marcados por confrontos com a polícia.
Em Roma, capital do país, centenas de manifestantes ocuparam a Estação Termini, empunhando bandeiras palestinas. A tensão foi mais acentuada em Milão, onde a polícia chegou a fechar os acessos à estação central, mas os bloqueios foram derrubados pelos manifestantes, que tomaram o local e enfrentaram repressão.
Cenas semelhantes se repetiram em Nápoles, onde outra estação ferroviária foi ocupada, e em Veneza, onde o bloqueio do porto gerou confrontos.
A mobilização também paralisou a logística nacional. Em Bolonha, ativistas ocuparam a principal estrada da cidade, bloqueando o tráfego por horas. Nos portos de Gênova, Trieste e Veneza, estivadores interromperam completamente as operações.

Os trabalhadores portuários tiveram um papel central na mobilização. Foram os primeiros a adotar o lema “blocchiamo tutto” (“bloqueemos tudo”), que se tornou o símbolo do movimento. Além de arrecadarem toneladas de alimentos para Gaza, os portuários de Gênova enviaram um veleiro para se juntar à Flotilha da Liberdade.
Na sexta-feira (19/09), em Ravenna, os trabalhadores impediram a partida de dois contêineres de explosivos com destino a Israel, em uma ação direta que contou com apoio local e destacou os portos italianos como epicentros da resistência.
A greve mobilizou muito além das categorias tradicionais, reunindo bombeiros, funcionários administrativos e dezenas de associações culturais e sociais. Para os organizadores, foi uma “mobilização sem precedentes”. Além de pedir um cessar-fogo imediato em Gaza, os manifestantes direcionaram críticas ao governo Meloni, acusando de cumplicidade com a política militar israelense e de priorizar gastos bélicos.
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