Equador: golpistas parecem isolados, mas sequestraram presidente
Publicado 30/09/2010 às 19:51
O passo a passo da tentativa de golpe, nas twitagens desta tarde e noite
Continua incerta e muito preocupante a situação em Quito, onde setores das Forças Armadas aproveitaram-se de uma greve policial selvagem e tentarar afastar o presidente Lúcio Gutierrez por meio de um golpe de Estado. A cobertura da mídia é muito precária. A melhor forma de acompanhar o desenvolvimento dos fatos é via twitter — onde, contudo, falta precisão. Algumas informações mais seguras são:
>Incerta no início da manhã, a tentativa de golpe foi ficando clara ao longo do dia. O coronel Lúcio Gutierrez, ex-presidente do país com influência entre as forças armadas, pediu abertamente a renúncia do presidente e a convocação de novas eleições.
> O estopim para a sublevação de parte dos militares foi uma greve selvagem da polícia, em todo o país. Os policiais levantaram-se contra uma reforma administrativa que reduz alguns de seus direitos — vistos pelo governo como privilégios. A greve resultou em abandono completo do policiamento das cidades e em motins, ao menos em Quito e Guayaquil. Na capital, ainda pela manhã, os grevistas tomaram de assalto o principal quartel policial da cidade e puseram fogo em pneus.
> Estranhamente, o presidente Rafael Correa foi ao quartel dialogar com os amotinados. Falou a eles a partir de um balcão. Em meio a tumulto, exaltou-se. “Se quiserem montar barracas, se quiserem deixar os cidadãos indefesos, se quiserem trair a missão da polícia, podem ir em frente. Mas o governo fará o que precisa ser feito”. Ao retirar-se, foi agredido com uma bomba de gás lacrimogênio (ver vídeo). Estava desacompanhado, naquele momento, de segurança minimamente compatível com a situação. Foi conduzido ao Hospital Policial.
> Ao mesmo tempo, dois outros acontecimentos ampliaram o clima de ruptura da democracia. Cerca de 150 militares bloquearam completamente a rodovia que liga a capital ao aeroporto, isolando-o a ponto de forçar o cancelamento de todos os vôos. E um grupo de policiais amotinados invadiu a Assembleia Nacional, detendo e ferindo alguns parlamentares. Foi a esta altura que o coronel Gutiérrez deu suas declarações golpistas.
> A intentona militar, porém, pareceu isolada. Milhares de pessoas foram às ruas, em defesa do presidente. Declararam apoio a ele o conjunto do governo, todos os chefes militares, a associação empresarial mais importante. O governo decretou estado de Emergência e assumiu o controle de todas as emissoras de TV. No plano internacional, a tentativa de golpe foi condenada imediatamente não apenas pelos governos de esquerda (Brasil, Argentina, Bolívia, Venezuela e outros) como por Colômbia e Peru. O presidente peruano, Alan Garcia, chegou a dizer que os fatos revelavam a tentativa de “volta dos gorilas”.
> A situação teria se normalizado se não fosse por um fato essencial. Tropas policiais amotinadas sequestraram o presidente, no próprio hotel em que se encontrava. Correa denunciou o fato por telefone, a seu colega Hugo Chávez. Afirmou que estava bem, mas não podia voltar ao palácio.
> Por volta do meio dia, uma multidão dirigiu-se à sede do governo. Ao saber da situação do chefe de Estado, rumou para o Hospital Policial. Foi, porém, reprimida pela polícia que mantém Corrêa sequestrado. Policiais usaram bombas de gás lacrimogênio e tiros para o ar. Uma pessoa teria morrido.
> O impasse já dura horas, com idas e vindas. As últimas informações, às 19h45, são de que os policiais já não dispõem de bombas e estão atirando pedras à multidão.
Abaixo, os twits publicados ao longo das últimas horas, com links importantes para acompanhar a situação: