Poesia visual, nos vídeos sobre saraus da periferia

Três documentários começam a desvendar (com pouco dinheiro, mas muita densidade e emoção) mundos da literatura periférica em São Paulo

Cena da gravação de “Periferia Palavra Viva”, sobre o Sarau Elo da Corrente

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Por Antonio Eleílson Leite, editor da coluna Leteratura Periférica

O Sarau Elo da Corrente está comemorando cinco anos de atividade. É mais um “safra 2007” da periferia paulistana. No início do mês, Michel Yakinie e Raquel Almeida realizaram uma edição especial de aniversário. São o casal que, entre outros poetas e ativistas, criou o evento, no Jardim Monte Alegre, (em Pirituba, região norte da cidade). Pouco antes, no final de junho, eles já haviam lançado, no vizinho Centro Cultural da Juventude (em Vila Nova Cachoeirinha), um presente às culturas periféricas. Apresentaram o belo vídeo Sarau Elo da Corrente: Periferia Palavra Viva,registro visual da trajetória deste que é um dos principais eventos poéticos não só da periferia, mas de toda a cidade de São Paulo.

O vídeo, que tem direção coletiva (além do casal, Divino Silva e Edu Godoy) faz jus à grandeza deste sarau – bem mais que um recital, todas as quintas-feiras, no Bar do Claudio Santista. Antes de realizarem o encontro semanal, Michel e Raquel faziam um programa na rádio comunitária do bairro e participavam de outros agitos, numa quebrada que já tinha uma cena forte no hip hop. Foi por aquelas bandas que surgiu o grupo de Rap RZO – Rapaziada da Zona Oeste. Por este grupo passaram Helião, Sandrão, Nega Li e os falecidos Sabotage e Dina Di. É muita responsa, portanto, fincar uma bandeira em um terreno marcado pelo talento de músicos tão respeitados. Mas a fruta nunca cai longe do pé. Os poetas do Elo souberam respeitar a tradição do Lado Oeste e mantêm com dignidade, e muita criatividade, um movimento cultural de periferia que já se tornou um clássico.

Poesia em vídeo

A iniciativa do Sarau Elo da Corrente junta-se a outras duas experiências de registro, em documentário, da saga de saraus poéticos de periferia. Um é da Cooperifa: ela teve sua história contada no vídeo Povo Lindo, Povo Inteligente, de Sergio Gagliardi e Maurício Falcão – uma produção da DGT Filmes, de 2007, outra joia da coroa periférica daquele histórico ano. A outra experiência é do Sarau Pavio da Cultura, de Suzano, criado pela Associação Literatura no Brasil, sob a liderança do poeta, escritor e programador cultural “Sacolinha”, ou Ademiro Alvez. O pessoal de Suzano fez sua produção com o apoio da prefeitura local no ano de 2010 quando comemoravam seu quinto ano de atividade.

Vale analisar os três trabalhos, para construir uma visão um pouco mais ampla da experiência de um sarau na quebrada. Ela deve ser contextualizada na cena literária da periferia paulistana que já produziu mais de cem livros [1], pelo menos dois CDs (um da Cooperifa, sempre pioneira, lançado em 2006 e um da Associação Literatura no Brasil, de 2011) e agora começa a formar uma videoteca. A importância que o movimento literário da periferia dá ao registro de suas experiências já é um dado de enorme relevância. Talvez este apego à preservação da memória deva-se à relação dos poetas e escritores com os livros, suporte consagrado para eternizar a criação artística. O poema que sai da boca do poeta no microfone do sarau vai para as páginas do livro, depois para o registro fonográfico em CD e ganha imagem na lente das câmeras de vídeo. É o bom e velho leia o livro, veja o filme e ouça o CD.

Povo lindo, povo inteligente!

Comecemos pelo início: o Sarau da Cooperifa. O documentário Povo Lindo, Povo Inteligente (trailler acima) tomou como título a saudação inicial do poeta Sergio Vaz aos participantes do sarau que todas as quartas-feiras acontece no Bar do Zé Batidão (no Jardim Guarujá, periferia Sul de São Paulo). O bordão do poeta não é apenas um chamado de boas vindas. É uma loa, um mantra. Vaz apenas entoa, o povo é que faz o alarido e com isso o ambiente fica permeado de excitação. A avidez por poesia começa a tomar conta das pessoas que ali se aglomeram e uma catarse se instala no boteco de quebrada.

Só essa sacada dos diretores já daria à obra um grande trunfo. Mas o vídeo não para por aí. O roteiro baseia-se no depoimento de vários de seus integrantes, todos de vida simples, trajetórias pessoais que não sugerem, à primeira vista, que esses cidadãos sejam poetas nas noites de quarta-feira. Os personagens são um taxista, Jairo; uma secretária, Rose; um operário, Sales; um aposentado, Sr. Lourival; um professor de educação física, Marcio Batista e um funileiro, Casulo. Partindo de seu local de trabalho ou morada, cada um deles chega ao sarau como se ali fosse um templo no qual se encontram com algum tipo de divindade. Energizam-se pela poesia e amizade que reina no local e seguem suas vidas com uma dose de felicidade que dura os sete dias que os separam do próximo encontro. Esse é o núcleo do filme de 50 minutos. Mas não acabou.

A narrativa do Sergio Vaz permeia toda a obra. Ele conta a história do sarau, que a época comemorava seu sexto aniversário. Fundador da Cooperifa, junto com o poeta e jornalista Marco Pezão, Vaz narra, com fluência poética, como tudo começou. Surgida como festa cultural de múltiplas linguagens, numa antiga fábrica em Taboão da Serra (município da Grande São Paulo que faz divisa com a periferia Sul da capital), a Cooperifa (que não é uma cooperativa) passou a ocupar, já na forma de sarau, um bar de nome Garajão na mesma cidade. Por lá ficou durante dois anos, até que foram despejados, boteco foi vendido sem que os poetas fossem previamente avisados. Com a permissão do clichê, há males que vêm para o bem. Rumaram para o Bar do Zé Batidão, no Piraporinha (periferia Sul de São Paulo), onde estão até hoje.

Aquele boteco havia sido do pai do Sergio Vaz durante muitos anos. A negociação foi fácil para que os poetas tomassem as dependências do local para seus encontros semanais. Zé Batidão acolheu a turma da Cooperifa e o sucesso do Sarau alavancou seu comércio. É interessante observar, no vídeo, o bar antes da reforma. Povo Lindo, Povo Inteligente termina com o Poesia no Ar. Creio que foi a primeira edição desta iniciativa feita pela Cooperifa. Consiste na soltura de centenas de balões, com poesias presas por um barbante. “Há tantas balas perdidas por aí; a gente resolveu soltar balões com poesia”, explica o poeta Sergio Vaz. Um belo gran finale para um grande filme. Mas a Cooperifa não tem este documentário como seu, nem poderia ser. A obra é da DGT. Talvez Sergio Vaz e seus companheiros façam um vídeo próprio, já que há muito registro de imagens arquivado. Espero que sim, mas o documentário de Gagliarde e Falcão é um trabalho precioso, que merece sempre ser lembrado com honras.

O Pavio pega fogo

O documentário Pavio da Cultura – 5 Anos é um vídeo feito em 2010 pela Ateliê de Imagens com direção de Carlos Magno. Foi realizado pela Associação Literatura no Brasil, com financiamento da Prefeitura de Suzano. Registro de 35 minutos, está dividido em três partes: um clipe com depoimentos e sequência de imagens; um slideshow com fotos da comemoração dos cinco anos do sarau e um compacto com imagens do recital realizado no mesmo evento. Tudo muito simples, sem muitos recursos de captação de imagem e uma edição bastante convencional. Mas o resultado é bem interessante, tanto como registro, como produto para fruição.

Diferente do vídeo sobre a Cooperifa, que tem uma marca autoral e imagens captadas em HD, o Pavio da Cultura parece ter como única preocupação o registro. O sarau que ali se desenrola acontece como qualquer outra edição do recital, com a diferença de contar com vários convidados e atrações artísticas para além da poesia. Não há um cenário especial, luzes, nem ordenamento do público. Este espalha-se por vários cantos do Centro Cultural de Suzano, onde o evento acontece, numa noite de sábado. Nada disso, porém, tira a grandeza da obra. Ao contrário, a aparente negligência cênica confere ao documentário até um certo charme de vídeo caseiro.

Desfilam pelo slide de fotos muitos dos petas presentes ao evento e outros que não estiveram no dia, mas deram o ar de sua graça ao longo dos cinco anos de existência do sarau. Elizandra Souza, poeta e jornalista, comparece. Assim como o poeta Sergio Vaz, tendo nas mãos a edição independente de seu livro antológico, Colecionador de Pedras – exemplar raro, vendido a peso de ouro na rede de sebos Estante Virtual. Rodrigo Ciríaco é outro que aparece nas fotos, de uma época em que apenas despontava como grande escritor hoje reconhecido depois de dois livros publicados. Certamente, um importante registro.

O núcleo principal do filme é a parte com as falas dos principais protagonistas, devidamente legendados, com depoimentos muito emocionados sobre o quanto o sarau é importante para suas vidas. Chama atenção a fala da Dona Elizabete, uma senhora que diz ter superado enfermidades depois de passar a frequentar o sarau. Os recitais de poesia na periferia são assim, encontros carregados de sensibilidade e encantamento, capazes de curar e mudar a vida das pessoas – sejam velhos, jovens ou crianças. Bem que o Criolo canta no verso da canção Subirosdoistiozim: “Leva no Sarau, salva essa alma aí…”.

O que mais gostei no documentário, porém é o recital. Vale a pena. São cerca de vinte poetas de estilos muito diferentes. O filme peca por não ter legendas com os nomes dos poetas e de seus poemas. Começa com o Hugo Paz, que tem dois livros publicados: Poesias da Verdade e Rastros de Palavra. Depois vem um senhor, cujo poema é uma ode à sogra. Isso mesmo, sem gozação, o cara adora a mãe de sua esposa, a ponto de, ao menos na poesia, colocar em dúvida se gosta mais da sogra ou da filha. Na sequência, um músico cheio de suingue, canta um coco, saudando São Paulo, acompanhado pelo auxílio luxuoso do pandeiro de Sacolinha.

E assim sucedem-se as apresentações, uma melhor que a outra. Senti-me no sarau. Assinalo as melhores performances. Primeiro lugar, imbatível: Francis Gomes. Esse poeta e cordelista é um show à parte. No filme, ele não declama: interpreta um cordel no qual conta a saga de um cearense e seu irmão na noite carioca. Metem-se numa balada com um monte de gringos, confundem-se no inglês, entram em enrascadas homéricas, decidindo voltar para a terra natal no primeiro ônibus com destino ao Ceará. Segundo lugar, com louvor: Marco Pezão com seu poema Mina da Periferia. Ele mesmo – o poeta do Taboão que fundou a Cooperifa junto com Sergio Vaz – aparece no sarau de aniversário do Pavio da Cultura. Terceiro lugar, com distinção: Sacolinha, declamando um poema que julgo ser de sua lavra, tendo ao fundo uma linda melodia tirada de um violão muito bem tocado por um músico que não digo quem é, por falta da informação.

A Associação Literatura no Brasil – que mantém do Sarau e é também Ponto de Cultura e organizadora de festivais e concursos literários, entre outras iniciativas – fez este documentário com muita dignidade, presenteando-nos com um belo registro do Sarau Pavio da Cultura. Mas em termos de vídeo, esta obra fica muito aquém de uma outra fita por ela produzida no ano de 2009 de título Vídeo Literatura – Projeto Experimental. Filmado e editado pelo NCA – Núcleo de Comunicação Alternativa, este vídeo, é uma pequena obra-prima. São oito poetas declamando seus versos num cenário bacana, com imagens externas bem enquadradas e editadas, um primor. Vale a pena ver. É poesia para os olhos.

Palavra Viva

O vídeo do Elo da Corrente é um documentário de 15 minutos apenas, feito pelos próprios poetas do sarau, como já se disse. Uma obra feita com muito esmero, sensibilidade e boa qualidade de imagem. Coisa de gente grande. As fotos de Sonia Biscahain são preciosas. Um belo filme, que mostra o recital semanal e os projetos paralelos, contados por seus principais protagonistas, especialmente Michel, Raquel e Edu Godoy. Numa edição bem equilibrada, intercala as declamações com falas e imagens externas.

O filme começa com o dono do bar, o Claudio Santista. Há aqui uma curiosa semelhança com o dono do bar que serve de sede para a Cooperifa; o Zé Batidão também é torcedor do Santos Futebol Clube. Não me parece um acaso. No Santos, joga-se o futebol arte. Seus torcedores são habituados a apreciar poesia, ao ver seu time do coração em campo. Michel logo conta que, na primeira edição do Sarau, foi lançado seu livro Desencontro, uma coletânea de contos onde o jovem autor já demonstra talento para a ficção. Tenho o livro em meu acervo, outra raridade “safra 2007”.

O Sarau de Pirituba é muito musical e nordestino. Há sempre uma canção de saudação com muita percussão. O refrão diz: “Tambor, vai buscar quem mora longe…” Logo vêm os cordelistas, Zé Correia e João do Nascimento. A uma beleza de seus versos merece transcrição, para deleite do leitor:

“(…) e consagrado sou eu

na terra vivo criando

eu tenho filhos sem ter mãe

eu tenho filhos do além

hoje mesmo eu dei a luz

para a alma de ninguém”.

Ao lado dos nordestinos, há a ala dos afrodescendentes, que dá uma pegada mais soul ao sarau. O vínculo à tradição afrobrasileira e suas lutas fica acentuado com o registro de uma homenagem. O vídeo registra como o Elo da Corrente e o Sarau da Brasa (da vizinha Brasilândia) celebraram Carlos Assunção, poeta negro que estava esquecido em Franca, interior de São Paulo. Contemporâneo de Solano Trindade, membro da Frente Negra Brasileira, Assunção esteve em ambos os saraus para lançar, em 2010, uma coletânea de seus poemas. Um grande feito.

O vídeo aborda as várias iniciativas do Elo da Corrente, como o evento Abolindo a Escravidão no Brasil. Realizado sempre na semana do 13 de Maio, questiona o ato formal assinado pela Princesa Isabel em 1888. Outro projeto importante envolve as crianças. Chama-se Festa dos Ibejês. Realizada desde 2009, esta iniciativa tem caráter educativo e promove o gosto pela leitura e outras artes junto aos pequenos da comunidade. É o Elo da Corrente formando as próximas gerações.

Periferia Palavra Viva conta também com a participação soteropolitana do poeta e professor de literatura Nelson Maca. Gravado em Salvador, em pleno Pelourinho, este depoimento é primoroso. Nele, Maca, um habituê dos saraus periféricos paulistanos quando passa pela cidade, discorre sobre Fela Kuti, músico nigeriano, morto na década de 1980, criador do hoje badalado Afrobeat. Maca organiza o Felas Day no Brasil e enaltece o escritor Carlos Moore, autor da biografia de Fela Kuti, Uma Vida Puta, recentemente lançada no Brasil.

O vídeo do Elo da Corrente certamente influenciará outros saraus e movimentos cultuais a fazerem seus registros audiovisuais. Tributário de experiências passadas, como as abordadas aqui, Periferia Palavra Ativa, soube extrair ensinamentos e fez um documentário em curta metragem na media; bola num canto, goleiro no outro. Assim, a gente consegue trazer para dentro de casa, um pouco da magia de um belo sarau e seus projetos culturais e educativos. É poesia para se ouvir, ver e sentir.

[1] A pesquisadora Erica Peçanha, em sua tese de doutorado É Tudo Nosso – Produção Cultural na Periferia de Sao Paulo, catalogou 76 livros. Tenho em meu acervo 87 obras independentes e vários títulos me escaparam.

 

Antonio Eleilson Leite é historiador, programador cultural e coordenador do Programa de Cultura da ONG Ação Educativa

 

Edições anteriores da coluna:

Vai, Coríntia, ser Corínthians no mundo

O campeão é como a periferia paulistana. Cansada de guerra, sabe defender-se. Vai ao ataque, mas não abre a guarda

11 de Julho de 2012

Sarau do Binho e a resistência cultural pós-mitos

Crônica do poeta sem bar. Ou como culturas das periferias já não dependem dos botecos, nem de mistificações da classe média…

5 de Junho de 2012

Quinze anos de literatura e resistência

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15 de Maio de 2012

Literaturas da periferia: o desafio da estética

Como Cultura ressignificou, em dez anos, os subúrbios. Por que movimento precisa mostrar que sua importância vai muito além do social

16 de Abril de 2012

O Ex-excluído: manifesto de um poeta suburbano

Livro de Germano Gonçalves revela escrita visceral e urgente de autor que, influenciado por Raul e Leminski, canta periferia pré-hip-pop

5 de março de 2012

> Leia também as 35 edições de Cultura Periférica, a seção que Antonio Eleilson Leite publicou, entre outubro de 2007 e dezembro de 2008, no Caderno Brasil do Le Monde Diplomatique.

Jardim Santo André na Galeria Vermelho

Um espaço badalado das artes de São Paulo reproduz os grafites que estão mudando a paisagem de um dos bairros mais violentos do ABC. Retrato de um país secularmente desigual — onde, no entanto, a periferia cobra seus direitos, e se expressa cada vez mais por meio da criação simbólica

22 de dezembro de 2008

 

A nova arte da Cooperifa

Ela veio para ficar. A primeira Mostra Cultural da Cooperifa reunirá guerreiros e guerreiras fortemente armados com canetas, cadernos e livros. Trava-se uma luta incansável contra a ignorância,mediocridade, conformismo, tristeza e as pobrezas material e espiritual que insistem em saquear a quebrada

14 de novembro de 2008

Na Primavera, a leitura supera o marketing

Alternativa à Bienal, mostra de editoras independentes relembra que livros são, acima de tudo, espaço para idéias, inteligência e utopia. Evento abre espaço para iniciativas que não se submetem ao mercado, e combina exposição de obras com programação cultural – onde tem espaço a arte periférica

27 de setembro de 2008

Linha de Passe: um gol de letra e um gol-contra

Em seu novo filme, Walter Salles e Daniela Thomas constroem uma história brasileira que debate, com profundidade e sutileza, a existência e os dramas humanos. Mas o cacoete de associar periferia a infelicidade dá à obra um tom de chavão e frustra a própria intenção de esperança do diretor

22 de setembro de 2008

Cooperifa: leia o livro, veja o filme e ouça o disco

Série de obras artísticas celebra os saraus que ajudaram a construir o conceito de cultura periférica — e o mundo de iniciativas que está surgindo a partir deles. Trabalhos ressaltam opinião da jornalista Eliane Brum: “A Cooperifa é um abalo sísmico a partir de uma esquina de quebrada”

11 de setembro de 2008

Na Bienal do Livro, um roteiro alternativo

Debate sobre literatura periférica e um punhado de editoras, universitárias e semi-artesanais, valem a visita. Aí persiste o encanto de uma feira que foi indispensável — mas chega aos 40 anos um tanto decadente e deselegante. Talvez por apostar no gigantismo, e se render à lógica de mercado

22 de agosto de 2008

Gilberto Gil: LadoA e LadoB

Único artista a dirigir o ministério da Cultura até hoje, ele foi também o primeiro ministro a traçar políticas públicas efetivas para a produção simbólica. Valorizou a diversidade e a autonomia. Faltou assegurar recursos condizentes, e evitar que fossem canalizados para o marketing empresarial

6 de agosto de 2008

O Hip Hop nunca foi tão pop

Vinte e cinco anos depois de despontar no Brasil, a cultura hip-hop está bombando como nunca. Ligou-se ao showbizz, mas é capaz de manter, mesmo assim, seus princípios e essência. É claramente periférica. Dez eventos a celebram, a partir deste fim de semana, em São Paulo

26 de julho de 2008

“Meu bairro era pobre, mas ficava bem bonito metido num luar”

Mídia tradicional multiplica referências a Machado e a Rosa, rendendo-lhes homenagens previsíveis e banais. Coluna destaca outro centenário: o de Solano Trindade. Poeta, dramaturgo, ator e artista plástico, ele cantou a dignidade, as lutas, amores e dores dos negros e dos que vivem do trabalho

8 de julho de 2008

Um passo à frente e você já não está mais no mesmo lugar

Escola Pernambucana de Circo organiza, em festa, seu centro de arte-educação. Ao invés de adotar postura “profissionalizante”, iniciativa busca emancipar. Por isso, aposta na qualidade artística, técnica e cultural de seu trabalho, e foge do conceito de “arte para pobre”

17 de junho de 2008

Plano Nacional de Cultura: realidade ou ficção?

Ministério lança documento ousado, que estabelece, pela primeira vez, política cultural para o país. Dúvida: a iniciativa será capaz de driblar a falta de recursos e a cegueira histórica do Estado em relação à produção simbólica? Coluna convida os leitores a debate e mobilização sobre o tema

7 de junho de 2008

Semeando asas na quebrada paulistana

De como a trupe teatral Pombas Urbanas, criada por um peruano, chegou a mudar o nome do Brasil, trocou os palcos pelas ruas, sofreu a perda trágica de seu criador mas reviveu, animada pela gente forte da periferia — para onde regressou e de onde não pretende se afastar

2 de junho de 2008

Humildade, dignidade e proceder

Agenda da Periferia completa um ano de publicação. Como diria Sergio Vaz, não praticamos jornalismo — “jogamos futebol de várzea no papel”. Fazê-la é exercício de persistência, crença e doação. O maior sinal de êxito é o respeito que o projeto adquriu no movimento cultural das quebradas

24 de maio de 2008

A revolução cultural dos motoboys

Um evento em São Paulo, um site inusitado e dois filmes ajudam a revelar a vida e cultura destes personagens de nossas metrópoles. Sempre oprimidos, por vezes violentos, eles vivem quase todos na periferia, são a própria metáfora do caos urbano e estão construindo uma cultura peculiar

17 de maio de 2008

Manos e Minas no horário nobre

Estréia na TV Cultura programa que aborda cena cultural da periferia com criatividade, sem espetacularização e a partir do olhar dos artistas do subúrbio. Iniciativa lembra o históricoFábrica do Som, mas revela que universo social da juventunde já não é dominado pelos brancos, nem pela classe média

10 de maio de 2008

Pequenas revoluções

Em São Paulo, mais de cem projetos culturais passam a ter financiamento público, por meio do VAI. Quase sempre propostos por jovens, e a partir das quebradas, eles revelam as raízes e o amadurecimento rápido da arte nas periferias. Também indicam uma interessante preferência pela literatura

3 de maio de 2008

A periferia na Virada e a virada da periferia

Em São Paulo, a arte vibrante das quebradas dribla o preconceito e aparece com força num dos maiores eventos culturais do país. Roteiro para o hip-hop, rap, DJs, bambas, rodas de samba, rock, punk e festivais independentes. Idéias para que uma iniciativa inovadora perdure e supere limites

26 de abril de 2008

Retratos da São Paulo indígena

Em torno de 1.500 guaranis, reunidos em quatro aldeias, habitam a maior cidade do país. A grande maioria dos que defendem os povos indígenas, na metrópole, jamais teve contato com eles. Estão na perferia, que vêem como lugar sagrado.

20 de abril de 2008

Cultura, consciência e transformação

A cada dia fica mais claro que a produção simbólica articula comunidades, produz movimento, desperta rebeldias e inventa futuros. Mas a relação entre cultura e transformação social é muito mais profunda que a vã filosofia dos que se apressam a “politizar as rodas de samba”…

12 de abril de 2008

É tudo nosso!

Quase ausente em É tudo Verdade, audiovisual produzido nas periferias brasileiras reúne obras densas, criativas e inovadoras. Festival alternativo exibe, em São Paulo, parte destes filmes e vídeos, que já começam a ser recolhidos num acervo específico

5 de abril de 2008

Arte de rua, democracia e protesto

São Paulo saúda, a partir de 27/3, o grafite. Surgido nos anos 70, e adotado pela periferia no rastro do movimento hip-hop, ele tornou-se parte da paisagem e da vida cultural da cidade. As celebrações terão colorido, humor e barulho: contra a prefeitura, que resolveu reprimir os grafiteiros

28 de março de 2008

As festas deles e as nossas

Num texto preconceituoso, jornal de São Paulo “denuncia” agito na periferia e revela: para parte da elite, papel dos pobres é trabalhar pesado. Duas festas são, no feriado, opção para quem quer celebrar direito de todos ao ócio, à cultura, à criação e aos prazeres da mente e do corpo

21 de março de 2008

Arte independente também se produz

Às margens da represa de Guarapiranga, Varal Cultural é grande mostra de arte da metrópole. Organizado todos os meses, revela rapaziada que é crítica, autogestionária, cooperativista e solidária — mas acredita em seu trabalho e não aceita receber migalhas por ele

15 de março de 2008

Nas quebradas, toca Raul

Um bairro da Zona Sul de São Paulo vive a 1ª Mostra Cultural Arte dos Hippies. Na periferia, a pregação do amor e liberdade faz sentido. É lá que Raul Seixas continua bombando em shows imaginários, animando coros regados a vinho barato nas portas do metrô, evocando memórias e tramando futuros

8 de março de 2008

No mundo da cultura, o centro está em toda parte

Estamos dispostos a discutir a cultura dos subúrbios; indagar se ela, além de afirmação política, está produzindo inovações estéticas. Mas não aceitamos fazê-lo a partir de uma visão hierarquizada de cultura: popular-erudita, alta-baixa. Alguns espetáculos em cartaz ajudam a abrir o bom debate

23 de fevereiro de 2008

Do tambor ao toca-discos

No momento de maior prestígio dos DJs, evento hip-hop comandado por Erry-G resgata o elo entre as pick-ups, a batida Dub da Jamaica e a percussão africana. Apresentação ressalta importância dos discos de vinil e a luta para manter única fábrica brasileira que os produz

16 de fevereiro de 2008

Pirapora, onde pulsa o samba paulista

Aqui, romeiros e sambistas, devotos e profanos lançaram sementes para o carnaval de rua, num fenômeno que entusiasmou Mário de Andrade. Aqui, o samba dos mestres (como Osvaldinho da Cuíca) vibra, e animará quatro dias de folia. Aqui, a 45 minutos do centro da metrópole

2 de fevereiro de 2008

São Paulo, 454: a periferia toma conta

Em vez de voltar ao Mercadão, conheça este ano, na festa da cidade, Espaço Maloca, Biblioteca Suburbano Convicto, Buteco do Timaia. Delicie-se no Panelafro, Saboeiro, Bar do Binho. Ignorada pela mídia, a parte de Sampa onde estão 63% dos habitantes é um mundo cultural rico, diverso e vibrante

24 de janeiro de 2008

Faça você mesmo!

Por meio da cultura, jovens das periferias brasileiras fazem uma revolução. Um panorama da produção independente nas quebradas das metrópoles: como a arte criada fora da indústria cultural subverte a mercantilização e controle do conhecimento, marca do capitalismo

14 de janeiro de 2008

2007: a profecia se fez como previsto

Há uma década, os Racionais lançavam Sobrevivendo no Inferno, seu CD-Manifesto. O rap vale mais que uma metralhadora. Os quatro pretos periféricos demarcaram um território, mostrando que as quebradas são capazes de inverter o jogo, e o ácido da poesia pode corroer o sistema

29 de dezembro de 2007

No meio de uma gente tão modesta

Milhares de pessoas reúnem-se todas as semanas nas quebradas, em torno das rodas de samba. Filho da dor, mas pai do prazer, o ritmo é o manto simbólico que anima as comunidades a valorizar o que são, multiplica pertencimentos e sugere ser livre como uma pipa nos céus da perifa

30 de novembro de 2007

A dor e a delícia de ser negro

Dia da Consciência Negra desencadeia, em São Paulo, semana completa de manifestações artísticas. Nosso roteiro destaca parte da programação, que se repete em muitas outras cidades e volta a realçar emergência, diversidade e brilho da cultura periférica

19 de novembro de 2007

Onde mora a poesia

Invariavelmente realizados em botecos, os saraus da periferia são despojados de requintes. Mas são muito rigorosos quanto aos rituais de pertencimento e ao acolhimento. Enganam-se aqueles que vêem esses encontros como algo furtivo e desprovido de rigores

13 de novembro de 2007

Todos os dias da Semana

Programação completa da Semana de Arte Moderna da Periferia

2 de novembro de 2007

O biscoito fino das quebradas

Semana de Arte Moderna da Periferia começa dia 4, em São Paulo. Programa desmente estereótipos que reduzem favela a violência, e revela produção cultural refinada, não-panfletária, capaz questionar a injustiça com a arma aguda da criação

2 de novembro de 2007

A arte que liberta não pode vir da mão que escraviza

Vem aí Semana de Arte Moderna da Periferia. Iniciativa recupera radicalidade de 1922 e da Tropicália, mas afirma, além disso, Brasil que já não se espelha nas elites, nem aceita ser subalterno a elas. Diplô abre coluna quinzenal sobre cultura periférica

17 de outubro de 2007

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