Filmes mostram o impacto demolidor do extrativismo

Vista como solução para a retomada econômica, a indústria extrativista só promove degradação. Um festival de cinema oferece revisão cinematográfica do que há no ar sobre o tema, no mundo. São quase 100 títulos – para ver enquanto há tempo

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Global Extraction Film Festival 2021
Programa completo: https://www.caribbeancreativity.nl/
Trailer do Festival: https://vimeo.com/592260148
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Por Esther Figueroa* | Tradução Inês Castilho

Em abril de 2020, em razão da pandemia de covid-19, a maioria dos países determinou que sua população permanecesse em casa e fechou suas fronteiras. Aviões foram estacionados, e locais normalmente superlotados estavam agora desertos de gente, com animais curiosos vagando pelos centros urbanos e retornando praias, litorais e cursos d’água que outrora foram seu habitat. O ar estava milagrosamente limpo e residentes em Delhi podiam ver os Himalaias pela primeira vez em gerações. Essas repentinas mudanças levaram a falas sobre o Portal Covid-19, por meio do qual viajaríamos e sairíamos transformados do outro lado, nunca iríamos Retornar ao Normal porque o Normal era o Problema, e Reconstruiríamos Melhor, e Reconstruiríamos Mais Verde… Havia um monte de compartilhamentos de fotos da natureza-em-recuperação e memes de vamos-aproveitar-essa-oportunidade-de-mudança.

Originária do Caribe, contudo, eu sabia que não se sai de nenhuma catástrofe sem a alavancagem do capitalismo abutre, que os governos assumiriam mais dívidas por causa da pandemia, o que levaria a tomadas de decisão ainda mais desesperadas – e o mesmo ocorreria com seus cidadãos, que perderam o emprego já precário e mal pago.

Sabia que o poder emergencial concedido a governos e governantes significaria que as estruturas jurídicas que fornecem um verniz de proteção ao ambiente e grupos de pessoas, já aterrorizadas por estruturas coloniais, poderiam ser dispensadas, eliminadas ou reescritas sem a participação da população e nenhuma oposição seria permitida.

A Ilha de Antígua já havia usado como desculpa o Furacão Irma de Categoria Cinco, de 2017, para remover os residentes de Barbuda por meio de deslocamentos forçados e, em seguida, anular a lei consuetudinária de propriedade coletiva das terras de Barbuda para permitir a construção de moradias privadas de luxo.

Sabia também que a indústria extrativista seria promovida como solução para o “crescimento” econômico, nas tentativas de recuperação econômica. Dessa forma, o FMI e o Banco Mundial, a quem os países imediatamente recorreram em busca de ajuda, têm promovido o extrativismo como sendo bom para as nações “em desenvolvimento”, enquanto fazem pronunciamentos brilhantes sobre financiar somente as melhores práticas que protegem o ambiente e os cidadãos vulneráveis.

E foi o empréstimo do Banco Mundial que facilitou à Guiana tornar-se o último local de grande produção de petróleo, e também endividou o governo da Guiana antes mesmo de receber um só dólar de royalties. Com a interrupção na produção global e nas cadeias de suprimento, muitos minerais, metais e produtos dependentes do extrativismo estão com preços nas alturas, e a indústria extrativista se expande em velocidade febril. A Amazônia brasileira está sendo desmatada com as taxas mais altas em uma década.

O primeiro Festival de Filmes sobre o Extrativismo Global, lançado em parceria com Emiel Martens (Caribbean Creativity), veio contrapor-se à narrativa de 2020 de que a Covid-19 estava salvando o planeta, e chamar atenção para os impactos demolidores da indústria extrativista, em todo o mundo, e para as comunidades que se defendem bravamente contra a aniquilação, enquanto criam futuros possíveis. O primeiro GEFF foi levado ao ar online de 16 a 20 de julho de 2020.

O Festival retornou agora, de 9 a 12 de setembro, novamente online e gratuitamente em todo o mundo, desta vez com 150 documentários e curtas de mais de 40 países, apresentados em 4 programas: 1. Perspectivas Globais, com 27 docs de longa e curta-metragem tratando de questões como crise climática, água, alimento, energia, mineração, turismo excessivo e legado colonial; 2. Foco nas Américas, oferecendo mais de 100 docs de 30 países americanos, incluindo as Guianas, com filmes desde a Argentina até o Canadá, passando pelas Ilhas do Caribe; 3. Estudos Animais-Humanos, mais de 10 docs com foco no relacionamento entre humanos e animais e o impacto da indústria extrativista nos animais; 4. Apresentado pela Patagônia propõe 8 documentários e curtas-metragens produzidos pela Patagonia Films sobre pessoas que lutam por justiça ambiental e alimentar, para proteger os últimos lugares e espécies selvagens, para encontrar soluções baseadas na comunidade.

Os organizadores do GEFF2021 programaram principalmente filmes já disponibilizados ao público, em parte porque é mais fácil para um festival que não paga pela exibição nem controla o acesso aos filmes, mas também porque os filmes podem ser assistidos quando as pessoas têm tempo pra isso.

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