A OMS anunciou um consenso e tudo indica que o tratado será adotado em maio. Ele será importante, mas não o acordo de que o mundo precisa: timidez das cláusulas, diluídas pelas grandes potências, poderá manter países em desenvolvimento vulneráveis
Na cúpula global em Cali, se debate uma proposta arriscada. Criação de banco de dados de material genético tenta atrair com discurso sobre vacinas e remédios, mas abre (ainda mais) margem para a pilhagem de recursos do Sul Global pelas grandes farmacêuticas
Em testes, eficácia do lenacapavir é 100% na prevenção e 94% no tratamento do HIV. Para programa da ONU, amplo acesso ao novo remédio pode acabar com a aids – mas empresa que o desenvolve quer vendê-lo a preço abusivo. Por que não, então, quebrar sua patente?
Desde o início, países ricos sabotaram a negociação do tratado, buscando torná-lo inócuo. Prazos corridos terminaram de inviabilizá-lo, por hora. Novas rodadas só terão sentido com objetivo claro para o texto: equidade e justiça na Saúde Global
Tratado poderia tornar a Saúde Global mais justa – mas países ricos resistem a incluir obrigação de apoiar os mais pobres, diz especialista. Prazo de negociação agora é curto: o mundo se submeterá a novos apartheids pandêmicos?
Tratado corre o risco de ser inócuo no combate às próximas emergências globais. Pior: a própria OMS parece chancelar o desperdício do instrumento. Especialistas que acompanham as negociações expõem seus entraves – e quem os causa