"Quando Deus chora": apelo de uma pastora evangélica

“Não é possível que pessoas que se consideram cristãs apoiem um projeto de governo que propaga a violência indiscriminada e o armamento da população como método de “segurança pública”

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Por Lusmarina Campos Garcia 

Uma das narrativas do evangelho retrata Jesus expressando um profundo lamento ao olhar para a cidade de Jerusalém e dizer: “Jerusalém, Jerusalém! que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados, quantas vezes quis eu reunir teus filhos como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das asas, mas não o quisestes” (Mateus 13:31-35).

A violência do povo de Jerusalém feriu o coração de Jesus. Ele ensinava a paz e a não violência. Uma vez Jesus disse aos seus discípulos e às suas discípulas: “Bem-aventurados os pacificadores porque dos tais é o Reino dos Céus”. E outra vez, quando os soldados vieram prendê-lo e Pedro tirou a espada e cortou a orelha de um soldado, Jesus o repreendeu e ordenou-lhe que guardasse a espada. Atos de violência não são admissíveis no seguimento a Jesus. Quem o segue, precisa optar pela paz.

Assim sendo, não é possível que as pessoas que se consideram cristãs apoiem um projeto de governo e escolham à Presidência da República um candidato que propaga a violência indiscriminada e o armamento da população como método de segurança pública. Jesus nos convoca para a paz, não para a guerra; ele nos chama para o amor, não para o ódio.

Achar engraçado que se pergunte a uma criança se ela já sabe atirar ou ensiná-la a fazer um gesto de disparo com as mãos, é destinar nossos filhos e filhas à degeneração psicológica compulsória.

Concordar com a frase: “bandido bom é bandido morto” é retirar de nós mesmos a chance de sermos acolhidos no Reino de Deus. No relato bíblico sobre o juízo final (Mateus 25.31-46), as pessoas que entram no Reino são aquelas que exercitam a misericórdia. Uma das maneiras de exercitar a misericórdia, de acordo com o texto, é visitar quem está na prisão. Para uma pessoa de fé que acredita que aqueles que estão presos são bandidos, o mínimo que ela pode fazer é adotar o critério de Jesus, e ir visitá-los; não matá-los e nem antecipar a sua morte.

Aplaudir as palavras pronunciadas pelo então deputado federal que ofereceu a um torturador o seu voto favorável ao impeachment da Presidenta Dilma Rousseff é submergir na impiedade, é abandonar os parâmetros da humanidade, é desdenhar da criação de Deus. Jesus foi torturado; morreu depois de ser exposto a um processo de tortura. A tortura é cruel. A tortura feita a Jesus e a qualquer outra pessoa não é justificável. Não há nada de engraçado nisso. O que há é muita desumanidade. Quem aplaude a tortura perpetrada contra qualquer pessoa torna-se um escarnecedor, seja na época de Cristo ou hoje.

Todo tipo de violência fere o coração de Deus. Imagino que Deus esteja chorando ao olhar para o Brasil e ver que há filhas e filhos seus dando ouvidos a um propagador de atrocidades que, em seu nome, faz aquilo que Jesus jamais faria.

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