Debates para uma nova comunicação abrem o l Fórum de Mídia Livre
Publicado 14/06/2008 às 21:39
Encontro reúne comunicadores de todo o país em busca de alternativas mais democráticas do fazer comunicação
(Por Carolina Gutierrez, Marília Arantes e Thaís Chita)
Notícias impressas nos saquinhos de pão e motoboys que criaram seu próprio jeito de fazer cobertura diária do que acontece na realidade dessa profissão são algumas experiências lembradas na abertura do l Fórum Mídia Livre, como maneiras de produzir informação de maneira independente. A partir de tais vivências, como poderemos identificar, reunir e compartilhar conhecimento? E não só, como ocupar, reformular e/ou reconstruir espaços contra-hegemônicos no campo da comunicação rumo a um processo democrático, educativo, em que a sociedade civil organizada se reconheça de fato?
O encontro, que acontece no Rio de Janeiro (RJ) até domingo (15), pretende ser um espaço para contribuir com a discussão de tudo isso, mas tem uma longa caminhada pela frente. Embora haja muitas ações cujo esforço de cada grupo seja até então o mais intenso combustível, a falta de políticas públicas, de financiamento, de outras formas de pensar, produzir e compartilhar mídia no mundo incentivaram a realização do Fórum.
Cinco eixos temáticos fizeram parte dos debates do dia das(os) 350 comunicadoras(es) vindos de diversas partes do país. As (des)conferências abordaram a Democratização da Publicidade Pública e dos Espaços na Mídia Pública, Políticas Públicas de Fortalecimento da Mídia Livre, Fazedores de Mídia, Formação para Mídia Livre e Mídias Colaborativas, Novas Mídias.
Na mesa de abertura, Ivana Bentes, pesquisadora da Escola de Comunicação da UFRJ, ao falar em pé, quebrando o formato tradicional de conferência, chamou a atenção para a importância de se preservar o consenso e o dissenso, para que a altermídia não se transforme em outra hegemonia. Para ela, a saída não é fazer uma Globo de esquerda nem fazer uma central única da Mídia Livre. “Precisamos preservar a descentralização, diversidade e horizontalidade”. Citando a concepção dos midiativistas italianos, lembrou: “Se você odeia a mídia, torne-se mídia.”
Na opinião de Renato Rovai, editor da Revista Fórum, a questão acerca de uma efetiva ação dentro de novos caminhos nos quais podemos facilmente nos perder, concentra-se na força de enfrentar a impossibilidade de mudança. “Como disse Galeano, o poder do império midiático é como um grande rinoceronte. Não se pode enfrentá-lo sendo pequeno, mas irritá-lo aos poucos como marimbondos.”
O coronelismo da imprensa torna a comunicação um bem escasso, cabendo às novas mídias propostas de enfrentamento. “É fundamental que o direito humano à comunicação passe pelo de acesso a ela. Para isso, é imprescindível a presença do governo por meio de políticas democráticas de comunicação: tornar rádios, TVs, cinema e internet em um bem público e comunitário”, afirmou Gustavo Barreto, do Consciência.Net. Barreto apontou a construção de uma rede de redes como um dos caminhos. Segundo ele, os conteúdos da mídia independente devem circular – haver trocas – para que se consiga destruir o oligopólio.
Para o assessor do Ministério da Cultura Cláudio Prado, no cenário de cultura digital, por exemplo, é necessário que as políticas públicas incentivem as rádios comunitárias, entre outras mídias livres. Isso possibilita a formação da contra-cultura dentro da própria cultura. “Lembrando que corações e mentes devem funcionar juntos, mais do que a simples assimilação de informação pelo ‘download’, precisamos nos ater ao ‘upload’, ou seja, a capacidade de produção colaborativa entre os diversos fazedores de mídia.”
O assunto sobre comunicação é genuinamente polêmico e, por isso, gera concordâncias com a mesma intensidade das discordâncias. A começar pelo nome: Mídia Livre. Para o jornalista Gilberto Maringoni, o conceito traduz a situação, por exemplo, da grande imprensa “que é livre porque faz o que quer”. “Desejo uma mídia democrática em que os processos de construção dela sejam concretamente efetivados de maneira compartilhada.”
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Caras Carolina, Marília e Thaís: muito admiro o Diplô e as iniciativas que igualmente constroem uma comunicação alternativa, contra-hegemônica. Mas, vamos lá, ver a crítica por dentro: Falar em pé é romper com formato tradicional de qualquer coisa? Menos… A Ivana chamou mesmo a atenção para o dissenso e o consenso, foi uma das melhores falas, na minha opinião, do encontro. Legal seu texto, que recupera a defesa “da contra-cultura dentro da própria cultura”. Mas no dia seguinte aq própria Ivana tratou de engrossar uma tendência, vista no encontro, de se tomar decisões homogeneizadoras, castradoras do dissenso. O Portal Único da Mídia Livre quase foi aprovado, ia ter um montão de chefetes, chefe disso, chefe daquilo, não passou por pouco. Ao invés de se defender práticas colaborativas e integradoras com a área da cultura, se aprovou a reivindicação de Pontos de Mídia. Então, cada um defende o seu: Ponto de Mídia, Ponto de Cultura, Ponto de Arte, Ponto de Teatro, Ponto de Jornal Impresso, cada um com seu pontim e seu aparelhim querendo mamar nas tetas, aquelas, do Estado. Encontros de mídia livre em cada Estado? Daqui a pouco teremos uma Confederação da Mídia Livre! Teve até frases do tipo mais tradicionais na política: “tem acordo nessa questão?” Haja acordo! Fora a discussão do tipo “disputar sediar o próximo encontro”! Nossa, que horror, disputa para ser a sede do que se propõe reticular, não hierárquico, colaborativo…Para quê? Se é para fazer igual outras entidades e iniciativas já fazem – cujo valor não se nega – não há por que se fazer algo assim…
(Acho que o texto não vai caber, mas tentemos enviar…)
Abraços cordiais, Bruno Fuser – Facom/UFJF