O que Egito e Tunísia dizem sobre Irã

Revolução árabe bem-sucedida em Tunísia e Egito contesta narrativa histórica do governo do Irã, e pode ajudar reorganização dos oposicionistas iranianos.

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Por Pouya Alimagham, do Informed Comment | Tradução: Bruno Cava

Tem havido muito debate sobre se as recentes revoluções na Tunísia e Egito, especialmente a última, vão produzir um sistema semelhante àquele nascido da Revolução Islâmica no Irã, em 1979. Contudo, ao focar nesta que é, de fato, uma questão importante, dois pontos cruciais passam despercebidos. A velocidade com que essas duas revoluções aconteceram dizem-nos alguma coisa sobre a durabilidade do regime no Irã; ao mesmo tempo que contestam a narrativa da Revolução Islâmica sobre o discurso revolucionário no Oriente Médio.

Nitidamente, o regime egípcio — com todo o apoio regional e internacional, décadas de construção institucional e massivo aparato de segurança — colapsou depois de enfrentar somente 18 dias de um movimento de protesto, todavia incansável e articulado, que não admitiria qualquer compromisso menor do que a expulsão de Mubarak.

A inabilidade do governo egípcio em sobreviver ao movimento de protesto contrasta com a contínua manutenção do poder pelo governo iraniano. Depois de 12 de junho, durante a eleição presidencial de 2009, grandes frações da sociedade iraniana moldaram a campanha eleitoral de Mousavi como um protesto popular que cresceu rapidamente e alcançou cerca de três milhões de pessoas só em Teerã, três dias depois do anúncio dos resultados. A velocidade com que floresceram os protestos provocou o Líder Supremo Ali Khamanei a ordenar a repressão uma semana depois. Através do uso de coerçãop em massa e acionamento de seus próprios grupos de apoio, um número considerável, o regime sistematicamente recuperou o controle das ruas, depois de meses de manifestações intermitentes. A eficácia com que o regime exerceu a sua vontade nos manifestantes e sua habilidade de mobilizar centenas de milhares de simpatizantes significam a sua habilidade de subsistir em face de ameaças explosivas e prolongadas à autoridade.

Que um governo relativamente isolado como do Irã foi capaz de acalmar tão prolongada tempestade, durando oito meses no total, enquanto o regime poderoso do Egito, que desfrutava de suporte regional e internacional, em especial dos EUA, caiu depois de apenas 18 dias atesta a durabilidade do governo iraniano. Este é um ponto importante que merece consideração, quando se calcula como promover uma mudança não-violenta e democrática no Irã.

Quer dizer, marchas e demonstrações sozinhas não serão suficientes para uma mudança pacífica do regime no Irã. Enquanto a oposição iraniana tenta reavivar seu próprio movimento ao aproveitar o ímpeto das revoluções no Egito e Tunísia, a sua estratégia não deveria limitar-se à atividade nas ruas, como ocorreu no passado, mas expandi-la numa abordagem mais ampla, incluindo greves, acampamentos na Praça da Libertação do próprio Irã e, mais importante, estocar apoios das forças armadas do Irã — tudo isso que foram táticas vitais ao sucesso do Egito.

Além de solapar a capacidade da Revolução Islãmica em durar, e sublinhar a necessidade de uma estratégia mais ampla à ação não-violenta no Irã, as revoluções na Tunísia e Egito também apresentam um desafio ideológico ao discurso iraniano sobre a revolução. Especificamente, essas recentes revoluções trazem dúvida sobre a narrativa do regime que a Revolução Islâmica é o único caminho pelo qual é possível derrubar ditadores profundamente estabelecidos na região e com patrocínio estrangeiro. Até então, a Revolução Iraniana de 1979 tinha sido a única revolução popular no Oriente Médio. A Revolução Egípcia de 1952 e a Iraquiana de 1958 não foram revoluções no sentido tradicional, mas golpes militares com respaldo popular contra monarcas odiados. Como o único país a orquestrar uma revolução popular, o governo iraniano argumentou que a revolução é possível no Oriente Médio somente nos moldes do Revivalismo Islâmico [NT. Para mais a respeito: http://pt.wikipedia.org/wiki/Revivalismo], colocando essa história como testamento para a contenção [dos protestos]. Argumentando que somente a crença do povo no Islã como ideologia conferiu força ao movimento revolucionário para derrubar o regime pró-ocidente do Xá, tal narrativa da Revolução Iraniana marginaliza outros fatores e grupos que contribuíram à emergência e sucesso revolucionários.

Embora permaneça incerta qual direção será afinal tomada, simplesmente por emergir de moldes seculares e nacionalistas, o triunfo atual das revoluções tunisiana e egípcia fornecem uma alternativa à teoria da revolução do governo iraniano. Assim, elas inadvertidamente destacam-se do escopo da Revolução Islâmica, que o governo iraniano há tempos é especialista. Noutras palavras, a Revolução Islâmica não pode mais reclamar ser o único caminho à revolução. Essa contestação ao discurso do governo iraniano sobre a revolução explica por que as autoridades no Irã, conquanto não convincentemente, tentam representar as revoluções recentes no Egito e Tunísia como parte de um Despertar Islâmico alargado.

Portanto, além das discussões repisadas sobre a improbabilidade dessas revoluções seguirem numa trajetória similar à do Irã em 1979, os dois pontos relacionados à durabilidade do regime iraniano e a contestação colocada à narrativa revolucionária demandam atenção, pelo insight crucial que oferecem aos observadores iranianos. A rapidez com que as ditaduras no Egito e Tunísia caíram ergue-se em contraste brilhante à sobrevivência do governo do Irã depois do tumulto pós-eleição em 2009 — um ponto crítico que precisa ser considerado quando se elaboram estratégias sobre como promover uma mudança democrática não-violenta no Irã.

Concomitantemente, essas revoluções recentes trazem à baila uma alternativa que desafia a narrativa do governo iraniano sobre a revolução, revelando que a revolução não precisa ser necessariamente islamista, de maneira a obter a vitória sobre um regime autoritário aparentemente invencível.

Pouya Alimagham é estudante Ph.D. na Universidade de Michigan, edita o blogue iPouya e é colunista do Informed Comment, mantido por Juan Cole.

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3 comentários para "O que Egito e Tunísia dizem sobre Irã"

  1. Sturt silva disse:

    Perai ,mas temos que entender que a revolução do Egito e da Tunisia derrubou foi ditadores fantoches.Cadê as reformas radicais que toda revolução traz?
    Ou seja,essas ditaduras aliados ao ocidente só cairam por que a manutenção delas,com algumas conseções democraticas e libertárias,ocorreram…
    Já no Irã ou agora na Líbia além dessas tentar manter os regimes elas tem que enfrentar as oposições que muitas vez são pro e finaciados pelo imperialismo.Por que não derrubar o presidente do Irã e colocar outro no poder?
    No Irão tem que afetar o coração do sitema,ou seja toda aquela estrutura feudal enquanto no Egito tem que se enfrentar todo sistema e quem é o sitema lá?

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