Entre parologismos e sofismas, as falácias de Moro

Principais estudiosos brasileiros de Lógica recomendam livro que disseca sentença do juiz contra Lula, identificando erros primários de raciocínio e intenção deliberada de iludir

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Leia a íntegra do manifesto:

Está para ser lançado o livro Falácias de Moro: Análise Lógica da Sentença Condenatória de Luiz Inácio Lula da Silva, de autoria de Euclides Mance, filósofo, professor de Filosofia do Método Científico e de Lógica, ex-docente da Universidade Federal do Paraná e atualmente integrante da coordenação geral do Instituto de Filosofia da Libertação.

O livro, com 276 páginas, será lançado nos próximos dias pela Editora IFIBE, e já está disponível para acesso aqui.

180116-FaláciasBA Lógica é a ciência que estuda a relação de consequência entre proposições, respondendo, assim também, por teorias da argumentação correta nos domínios da linguagem comum e científica. Ciências particulares terão seus conceitos próprios e regras para seus empregos adequados; mas, assim como seus cálculos têm de ser feitos com as regras da aritmética, seus argumentos precisam espelhar relações de consequência válidas, caso contrário serão apenas  instrumentos de uma retórica carente de racionalidade.  Uma sentença jurídica que pretenda ser justa não pode ignorar, assim, os requisitos da inferência válida e correta,  seja ela de natureza abdutiva, indutiva ou dedutiva.

Em seu livro, o professor Mance apresenta uma análise lógica, bem feita, sobre raciocínios e argumentos utilizados pelo juiz Sérgio Moro no corpo da sentença por ele emitida, relativa ao processo em que o ex-presidente Lula figura como réu no caso do apartamento triplex do Guarujá. O filósofo estuda, detalhadamente, a longa sentença – que pretende  provar a culpa do réu e justificar sua condenação – mostrando que o emprego de diversas inferências falaciosas desqualifica as conclusões obtidas.

Nas Considerações Iniciais, o autor, de forma didática, apresenta a definição do conceito de falácia – erro de raciocínio, argumento sem  garantia formal de que a conclusão decorre das premissas; e apresenta algumas noções lógicas básicas, como a de condicional e bicondicional, discutindo quando uma condição é necessária, quando é suficiente, e quando é necessária e suficiente. O domínio do significado destas noções, entre outras, é fundamental, para quem pretende derivar corretamente conclusões a partir de hipóteses ou de premissas verdadeiras.

Mance lembra ainda que, quando cometida de forma involuntária, a falácia se classifica como ‘paralogismo’, mas quando implantada de forma proposital em um raciocínio, visando confundir o interlocutor, é dita um ‘sofisma’. Os sofistas eram professores e intelectuais itinerantes que frequentavam Atenas e outras cidades gregas na segunda metade do quinto século a.C., ensinando a arte de influenciar pessoas através da persuasão retórica. A partir daí, há 25 séculos, sofismar tem sido entendido como procurar influenciar cidadãos, na política e em outras áreas, através de persuasão enganosa.

Na sequência, o livro se divide em duas partes.

Na primeira parte, são discutidos dez trechos da sentença condenatória, onde o autor encontra, e analisa com propriedade, falácias de vários tipos: Apelo à Crença Comum; Circularidade; Argumentum ad Hominem; Non Sequitur; Apelo à Presciência, ou Falácia dos Mundos Possíveis; Apelo à Possibilidade; Equivocação; Inversão do Ônus da Prova.

Na segunda parte, o filósofo aprofunda sua análise sobre as implicações das falácias discutidas e sobre como elas se articulam na argumentação do juiz para justificar a condenação.

Professores universitários e pesquisadores na área de Lógica, decidimos manifestar publicamente nosso apoio e concordância com a análise e conclusões do colega Euclides Mance. Com efeito, estamos convencidos de que Mance demonstra, com perspicácia e competência, que o juiz Sérgio Moro incorreu em inúmeros erros lógicos no conjunto de raciocínios e argumentações, cometeu equívocos em aplicações de regras de inferência lógica, além de ter várias vezes assumido hipóteses e premissas sem critério de veracidade. Em suma, a sentença do juiz nos surpreende e nos assombra, enquanto profissionais, com a série de argumentos inaceitáveis que apresenta.

É na condição de membros da comunidade de uma área do conhecimento em que o Brasil se destaca no cenário acadêmico internacional que acreditamos ser dever nosso, como cidadãos e profissionais, contribuir com a Justiça de nosso país, visando prevenir que quaisquer réus venham a sofrer condenações injustas, baseadas em conclusões de argumentos, cuja fragilidade, fartamente denunciada desde a antiguidade grega, é amplamente conhecida.

Abílio Rodrigues Filho, doutor em Filosofia e professor de Lógica no Departamento de Filosofia, UFMG

Adolfo Gustavo Serra Seca Neto, doutor em Ciência da Computação, USP, e professor associado no Departamento Acadêmico de Informática, UTFPR

Alexandre Costa-Leite, doutor em Filosofia, Université de Neuchâtel, Suíça e professor de Lógica e Filosofia, UnB

Alexandre Noronha, doutor em Filosofia, UFRGS e professor no Departamento de Filosofia, USP

André Leclerc, doutor em Filosofia, Universidade do Quebec e professor Associado no Departamento de Filosofia, UnB

Andréa Maria Altino de Campos Loparic, doutora em Lógica e Filosofia da Ciência, UNICAMP, professora senior no Departamento de Filosofia, FFLCH-USP

Arley Ramos Moreno, doutor em Logica e Filosofia da Ciência, Université Aix-Provence, França, e professor titular em Filosofia da Linguagem, UNICAMP

Bento Prado de Almeida Ferraz Neto, doutor em Filosofia, USP, professor associado no Departamento de Filosofia, UFSCar

Cezar Mortari, doutor em Filosofia – Área de Lógica, Eberhard-Karls-Universität, Alemanha, e professor associado no Departamento de Filosofia, UFSC – presidente da Sociedade Brasileira de Lógica

Giovanni Queiroz, doutor em Lógica e Filosofia da Ciência, UNICAMP, professor associado no Departamento de Filosofia, UFPB

Gisele Dalva Secco, doutora em Filosofia, PUC-Rio, e professora adjunta no Departamento de Filosofia, UFRGS

Hércules de Araujo Feitosa, doutor em Lógica e Filosofia da Ciência, UNICAMP, e professor no Departamento de Matemática, FC-UNESP/Bauru UNESP

Iole de Freitas Druck, PhD em Lógica, Universidade de Montreal, professora senior no Departamento de Matemática, IME-USP

Itala Maria Loffredo D’Ottaviano, doutora em Matemática, UNICAMP, e professora titular no Departamento de Filosofia, IFCH-UNICAMP

João Vergílio Gallerani Cuter, doutor em Filosofia, USP, e professor livre docente  no Departamento de Filosofia, FFLCH-USP

Juliana Bueno-Soler, doutora em Filosofia-Área de Lógica, UNICAMP, e professora da Faculdade de Tecnologia, UNICAMP

Leandro Oliva Suguitani, doutor em Filosofia-ärea de Lógica, Unicamp, e professor Adjunto, Departamento de Matemática, UFBA

Luciano Vicente, doutor em Filosofia, USP, e professor no Departamento de Filosofia, UFJF

Luiz Carlos Pinheiro Dias Pereira, doutor em Filosofia, Universidade de Estocolmo, professor adjunto no Departamento de Filosofia, UERJ

Marcelo Esteban Coniglio, doutor em Matemática, USP, e professor titular no Departamento de Filosofia, IFCH-UNICAMP

Matias Francisco Dias, doutor em Filosofia, USP, professor titular no Departamento de Filosofia, UFPB

Ricardo Pereira Tassinari, doutor em Filosofia, UNICAMP, professor livre docente no Departamento de Filosofia, UNESP/Marília

Tiago Falkenbach, doutor em Filosofia, UFRGS, professor no Departamento de Filosofia, UFPR

Valéria de Paiva, doutora em Matemática, Universidade de Cambridge, Inglaterra, honorary research fellow, School of Computer Science, Universidade de Birmingham, Inglaterra

Wagner de Campos Sanz, doutor em Filosofia, UNICAMP, e professor da Faculdade de Filosofia, UFG

Walter Alexandre Carnielli, doutor em Matemática, UNICAMP, professor titular no Departamento de Filosofia, IFCH-UNICAMP

 

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8 comentários para "Entre parologismos e sofismas, as falácias de Moro"

  1. Guilherme Araujo disse:

    O Professor Nelson Gonçalves Gomes, Doutor em Filosofia, membro da Universidade de Brasília (UnB), fez um tratado analisando as teorias do livro “Falácias de Moro”, e encontrou uma série de incoerências do próprio autor.

    No tratado ele analisa cada um dos argumentos, e descreve a obra de Euclides Mance como “Tosca”, por ter ela sim argumentos falaciosos.
    Num campo tão diverso como o jurídico, seria bom não ter ativistas como Euclides Mance como referências opinativas, pois o mesmo se passa por suspeito por ser ativista reconhecido da Filosofia da Libertação (freireana).

    Leia o artigo do Professor neste link:

    chrome-extension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/https://econpolrg.files.wordpress.com/2018/10/eprg-wp-2018-89.pdf

  2. Ruido de Magia disse:

    Já que o que vale é a experiência subjetiva para falar sobre algo, e não conhecimento teórico, argumentos e evidências, por que não o fazem?
    Claro que essa minha questão baseia-se no argumento de Sócrates sobre os especialistas em administração, mas não é disso que estou falando e sim em conhecimento sobre como funciona a realidade.
    Em relação a política, acho que todos tem o direito de participar da mesma, por mais mal informados que sejam (e a própria ideia de que há pessoas mal informadas já mostra que existem informações verdadeiras).
    Fora o surgimento da chamada esquerda obscurantista.
    Aquela que diz que apenas determinadas pessoas podem falar sobre determinados assuntos.
    Ou seja, para essa esquerda obscurantista, cujos maiores exemplos são os defensores de um absurdo chamado “lugar de fala”, o que vale não é O QUE se diz e sim QUEM DIZ O QUE.
    Um total retrocesso. Reabilitando a validade do argumento de autoridade.
    Não importam os argumentos e nem as evidências.
    Importa se quem diz algo passou por experiências subjetivas.
    Ridículo.

  3. Ruido de Magia disse:

    Gostaria de fazer uma pergunta aos obscurantistas do “lugar de fala”.
    Caso você sofra de câncer de mama ou câncer de próstata, você realiza seu tratamento sob a supervisão de pessoas que passaram pela experiência subjetiva de ter sofrido de câncer de mama ou de próstata ou preferem fazer seu tratamento com especialistas em câncer de mama ou próstata, mesmo que nunca tenham sofrido com essas doenças??

  4. Fernando Canto disse:

    “Para a esquerda contemporânea o que importa não é o tal lugar de fala? As experiências subjetivas dos sujeitos?”
    E essa falácia se chama “Falácia do espantalho”.
    De nada.

  5. hb cwb disse:

    Eduardo dos Santos Rocha,
    Seu comentário despertou curiosidade.
    Gostaria de saber da sua formação acadêmica e área de atuação? Partindo de sua afirmação que cada um deve apenas emitir juízo de valor e emitir avaliações e pareceres dentro de sua formação acadêmica e área de atuação, pois de outra forma não tem nenhum valor.
    Será que é juiz, advogado (criminal, constitucional, penal, constitucional, …), bacharel, filósofo, cientista político, antropólogo ou talvez tenha formação e atuação em diversas áreas?
    Senti nas suas afirmações e questionamentos uma certeza absoluta de quem domina estas áreas em questão.
    Deve ter lido diversas vezes todos os processos que envolvem o presidente Lula, e a luz do direito, afirmou por exemplo: 1 milhão para palestras- áudio “vazado” comprovava o benefício do Lula – Palocci e todas as outras caguetagens de todos os outros caguetas são provas irrefutáveis e cabais contra Lula – Apesar de especialistas comprovarem a autenticidade dos recibos e os esquadrões persecutórios concordarem, criando a nova categoria da falsidade ideológica, você comprovou que eram falsos – etc.
    Na outra área de sua especialidade ciências sociais, citou com conhecimento (ctrl C/V) Platão, Sócrates Alcebíades, Arendt, Aristóteles; a dialética entre o abstracionismo, a realidade e a servidão a que se submetem os filósofos capturados espontaneamente pelos governantes.
    É somente curiosidade, não tenho a presunção nem a petulância de emitir opiniões sobre as limitações e restrições sobre as avaliações ou pareceres daqueles que têm formação ou uma vida estudando ou ensinando sobre o tema ou assunto que discorrem.

  6. hb cwb disse:

    Desvelando um concurseiro (bacharel sem meritocracia, nem competência, OAB) que “in”explicavelmente alçou voo, convivendo e protegendo tucanos, cultivando, aperfeiçoando e premiando caguetas (delatores) de estimação, treinando direito (e defendendo interesses) estadunidense aplicado ao brazil, sendo premiado, aclamado e parceiro da grande imprensa (PIG), foi transformado no mito das massas apolíticas e um dos sustentáculos do GOLPE.
    Comprovou que direito aplicado (realidade), nada mais é que: a sentença de um togado imbuído de convicções e interesses, subsidiado por esquadrões multidisciplinares (do seu partido) escolhidos e montados a dedo, que possuem um projetor e um ser utilize powerpoint.
    Mas, e as leis, a constituição e a justiça?
    Não vem ao caso, é óbvio!

  7. Eduardo dos santos rocha disse:

    Filósofo entende de Filosofia. Não misture as coisas. Mande eles fazerem o concurso pra magistratura.
    Quer usar lógica, use isso: Professor de outras áreas nenhum deve se meter no Judiciário.
    I – Lula recebia 1 milhão de reais para palestras
    II – No aúdio vazado, Dilma fala claramente sobre utilizar a posse de Lula como ministro ou cargo público para beneficiá-lo
    III -O próprio Palloci delatou o Lula sobre as bandidagens (clique no youtube e coloque “Lula no avião” e vai ver tamanha a intimidade dele com Palloci).
    IV – Diversos diretores, diregentes da Petrobras, Caixa, etc estão presos e todos citam Lula ou alguém do PT PMDB sobre favorecimentos
    V- Defesa de Lula junta recibos com datas que não existem = falsos.
    VI – existem fotos de vacarri e os donos das empreiteiras com Lula.
    VII – O patrimônio do Lulinha aumentou vertiginosamente.
    VIII – Crimes desse tipo, por LÓGICA, são negócios simulados, duvidosos, sem legalidade e ocultos.
    Crimes de Lula: Falso testemunho, uso de documentos falsos, falsidade ideológica, Corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro, organização criminosa, crime contra a Administração Pública, fraude em licitações, cartel, tráfico de influência crime financeiro, e obstrução da Justiça, Compra de votos, abuso de poder econômico e político, evasão de divisas, propinas, faltas éticas no processo.
    Mande os filósofos filosofarem.
    Aliás, na “Carta VII” de Platão, reitera o que já havia feito no Banquete, mostrando o quanto a figura do general e político Alcibíades não havia aprendido nada de Sócrates. Os infortúnios de Platão com os tiranos de Siracusa foram tão terríveis que, num deles, ele acabou sendo vendido como escravo! Platão escreveu sobre isso exatamente para mostrar aos filósofos que a “doutrina não escrita”, ou seja, a parte da passagem do Conhecimento do Abstrato para o Conhecimento das Formas, por um trajeto de uma dialética máxima, não pode mesmo ser entendida pelo político, e que se o filósofo ousar tentar, irá se tornar propriedade do governante. Tornar-se-á escravo. E escravos podem ser vendidos. Pois já antes de tudo se venderam. Vê-se incompatibilidade com a política e com os políticos, pois se trata de uma doutrina da verdade como elemento imutável, algo completamente estranho à prática de comando da cidade. não se é escravo de um homem apenas, mas de ideias, principalmente a ideia de que é possível ensinar ideias a alguém com interesse político. Fica claro isso quando atentamos para o fato de que Platão foi vítima de dois tiranos, pai e filho, e não apenas um. Ele quis deixar para a posteridade esse fato, de ter sido escravo de dois, de modo que o problema todo não estava no tipo de tirano. Eis a lição que ele quis deixar: não foram os tiranos que o prenderam, mas a sua própria ideia de que seria possível praticar no palácio a filosofia e torná-la guia de governo. Essa ideia é que o fez escravo.
    Arendt, A. A promessa da política. São Paulo e Rio de Janeiro: Difel, 2010, pp. 45-84.
    Aristóteles. Ética a Nicômaco. Brasília: Editora da UnB, 1985, pp. 178-179, § 1166 a-b.

  8. Ruído de Magia disse:

    Para que lógica?
    Para a esquerda contemporânea o que importa não é o tal lugar de fala? As experiências subjetivas dos sujeitos?

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