BRICs, ruptura e continuidade
A periferia do planeta não está mais disposta a cumprir ordens — mas ainda ousa muito pouco, em termos de projetos alternativos…
Publicado 16/04/2010 às 11:17
Praticamente ignorada pela mídia tradicional, a II Cúpula dos BRICs, que começou ontem em Brasília, é de enorme interesse para quem quer investigar as contradições de nossa época. Os chefes de Estado dos quatro países mais influentes no Sul político do planeta (Brasil, China, Índia e Rússia, na ordem alfabética) encontraram-se (pela segunda vez, desde a criação do grupo) em Brasília. Antecipada em um dia (porque o presidente chinês, Hu Jintao, regressou a seu país às pressas, devido a um grande terremoto no Noroeste do país), a reunião abriu uma série de outros conclaves, que se estenderão entre esta sexta (16/4) e o fim-de-semana. Entre outras, haverá reuniões de empresários, ministros, bancos de financiamento, think-tanks (como o IPEA). Também no fim-de-semana, e ainda em Brasília, reúne-se um outro grupo novo na paisagem geopolítica mundial: o IBAS, de que participam África do Sul, Brasil e Índia.
Há dez anos, uma reunião como a de agora teria, no máximo, efeito decorativo. Mas o mundo mudou. No documento final lançado ontem, os chefes de Estado (além de Lula e Hu Jintao, Manmohan Singh, da Índia e Dmitri Medvedev, da Rússia) reivindicam expressamente mudança na composição dos órgãos dirigentes do Banco Mundial e FMI. Pedem urgência: a recomposição deve se dar antes da próxima reunião do G-20, em novembro. Defendem reforma no sistema financeiro internacional. Comprometem-se a reforçar seus mercados internos, como meio de continuar enfrentando a crise econômica — que, segundo frisam, “ainda não terminou”.
Além destas propostas de curto prazo, a reunião poderá produzir efeitos imediatos. Os bancos de investimentos dos quatro países (o BNDES e seus correlatos) constituíram um fundo que poderá reunir dezenas de bilhões de dólares e será voltado para financiar infra-estrutura, energia e produção de alimentos. Num encontro à parte, Lula pediu a Jintao que a China continue evitando, no Conselho de Segurança da ONU, as sanções que os Estados Unidos pretendem impor ao Irã. Os dois países assinaram também um protocolo de intenções para que o comércio bilateral passe a ser feito em moedas dos dois países — não mais em dólares. Definiram uma agenda de diálogo sobre políticas internacionais de direitos autorais. Ampliaram as possibilidades de empréstimos chineses à exploração, pela Petrobrás, das jazidas do pré-sal.
Num artigo publicado hoje, em O Estado de S.Paulo e outros jornais (leia aqui), Lula volta a sinalizar que ficaram para trás os tempos em que se curvava à ortodoxia financeira. “Desabaram as verdades sobre a desregulamentação dos mercados. Ruiu o ideal do Estado mínimo. A flexibilização dos direitos trabalhistas deixou de ser um mantra para combater o desemprego. Quando despencaram todas essas ortodoxias, foi a mão visível do Estado que protegeu o sistema econômico do colapso criado pela mão invisível do mercado”, diz ele.
Os fatos novos criados, e as declarações emitidas, são passos importantes para uma ordem mundial menos hierarquizada. Os BRICs reúnem 40% da população do planeta e 15% do PIB. É quase um escândalo que estivessem, até há bem pouco, à margem das decisões internacionais importantes.
Mas uma coisa é reivindicar poder menos concentrado; outra é propor projetos distintos para o planeta. Avançada do ponto de vista geopolítico, a agenda dos governos do BRIC é de timidez chocante, do ponto de vista das alternativas. Os projetos comuns definidos reforçam — ao invés de enfrentar — alguns dos aspectos mais típicos do modo de produção e consumo sob o qual vivemos. Geração de energia a partir de combustíveis fósseis. Consumo dos recursos naturais para uma industrialização cega e poluente (China e Brasil construirão, no porto fluminense de Açu, uma siderúrgica de 10 bilhões de dólares). Reprodução dos padrões de vida desenvolvidos no Norte (segundo a consultoria CSM Worldwide, os BRICs dobraram, em cinco anos, sua presença na produção mundial de automóveis, já sendo responsáveis por 30%).
Para a projetos alternativos ao capitalimo, continua necessário algo mais que reuniões de chefes de Estado…
Gostaria de ser informado dos eventos BRIC no Rio de Janeiro.
Sou prestador de transporte executivo para o Consulado e a Embaixada da INDIA e gostaria de tambem atende-los.
Obrigado.
Sergio Viana da Silva
Tes. 21 9851 4779 ou 3346 0015
Quais as perspectivas futuras dos BRICS?