Até onde irá o Partido Pirata

Uma organização identificada com temas e rebeliões da juventude tornou-se terceira mais popular da Alemanha. Mas quais seus horizontes?

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Por Detlef Gurtler*, em Presseurop

Sobre o tema: leia, em Outras Mídias, reportagem sobre o avanço do Partido Pirata na Alemanha

É ainda muito cedo para dizer se os Piratas não vão passar de um pormenor na história da democracia europeia. No entanto, se não sucumbirem aos erros de juventude, têm boas chances de transformar a democracia do século XXI na sua forma, de contribuir para o fim de uma era de crescimento a qualquer custo, de resolver a intrincada equação demográfica e, como brinde, de se tornar o primeiro partido verdadeiramente europeu.

A ideia de representar o povo através de organizações ditas de “massas” é tão antiga e obsoleta como a era industrial. Confrontadas com o colapso da sua organização, outrora tão “quadrada”, atividades como a indústria fonográfica e o setor do turismo vivem um período de grande turbulência. E o sistema político vai ter o mesmo destino. Softwares online de participação cidadã, como o “Liquid Feedback”, do Partido Pirata, são capazes de dissolver com grande eficácia uma organização política surgida na remota era da “democracia mínima” (Paul Nolte).

A abolição da separação estrita entre produtores e consumidores vai estender-se à esfera política. Foi particularmente evidente no setor da comunicação social e está agora em curso na indústria energética. O fato de haver linhas inteligentes, nas quais as habitações particulares podem consumir mas também produzir e oferecer energia elétrica, vai acabar com o regime de quase monopólio dos atuais gigantes da indústria energética.

Transparência e participação dos cidadãos

À semelhança do que acontece com a energia elétrica alemã, empresas públicas [de geração de energia e distribuição de gás] como a RWE e a E.On e partidos como o SPD [social-democratas] e a CDU [partido de centro-direita, que se denomina cristão-democrata] têm de se reinventar, atendendo às novas circunstâncias. No seu papel de defensores da diversidade, no palco de operações dos antigos monopolistas, os Piratas irão garantir que isto aconteça exatamente assim.

Muitos dos que foram anteriormente considerados especialistas em política veem neste fenômeno apenas um nivelamento por baixo e uma “amadorização” da política. No entanto, ela é, talvez, a nossa melhor oportunidade para superar o cataclismo econômico que nos espera, por meio de uma democracia verdadeiramente eficaz. Porque, se é verdade que os sistemas políticos ocidentais sabem estruturar bastante bem a sociedade em tempos de crescimento econômico, rapidamente entram em alvoroço quando se trata de recuperar uma desaceleração continuada do PIB. Os problemas que abalaram a Grécia ou as greves realizadas em Espanha são uma pequena amostra do que acontece quando, após anos de austeridade e de cortes do Orçamento, continua a não aparecer nenhuma luz ao fundo do túnel.

Nesta “era do pouco” (“Age of Less”, David Bosshart) que se inicia, não voltaremos ao velho modelo de crescimento. Teremos, portanto, de criar um novo modelo político. Para manter-se democrático, esse modelo deve ser acompanhado por mais transparência e participação dos cidadãos do que os partidos tradicionais estão dispostos a conceder – não apenas na Alemanha, mas em toda a Europa.

Transparência e participação cidadã são a melhor maneira de tirar o euro e a União Europeia da rotina de que estão prisioneiras. Para a democracia, trata-se de encontrar uma maneira de superar o previsível fracasso dos tecnocratas. A solução não virá dos Piratas em si. Mas eles vão indicar um caminho a seguir.

Novos partidos desejosos de vingar

A juventude – essa franja da população que é hoje efetivamente excluída – pode ser assim integrada na sociedade e associada às tomadas de decisão no plano europeu. Praticamente em toda a parte, a crise econômica significou aumento acentuado do desemprego, especialmente dos jovens – com picos de mais de 50% na Grécia e Espanha. Filhos da geração do baby boom, os pais apegam-se aos seus empregos e privilégios, deixando aos filhos apenas a rua. São eles, os jovens, o alvo central do Partido Pirata.

Esta “geração perdida” já tentou uma primeira rebelião em 2011. Tudo começou em maio, com as manifestações pacíficas prolongadas dos Indignados em Espanha, antes de se espalhar a todo o continente, sob a forma do movimento Occupy. Os seguidores deste movimento estavam unidos por um sentimento comum de contestação, de que, no entanto, não saiu nenhum objetivo claro. Se não for capaz de projetar eco no processo político, esse sentimento poderá explodir em ações contraprodutivas. Para integrar esse movimento no sistema político, seria preciso inventar algo como o Partido Pirata, se ainda não existisse…

Os Piratas têm dois anos – até às eleições europeias da primavera de 2014 – para difundir-se em escala europeia. Ainda têm tempo para se dotar de uma estrutura internacional suficientemente significativa. As eleições do Parlamento Europeu serão simultaneamente importantes para que sua entrada em cena seja estrondosa e insignificantes para que muitos eleitores sejam tentados a votar noutros, em busca de mudança.

Até agora, as eleições europeias serviam de experiência a novos partidos desejosos de vingar a nível nacional. Em 2014, pela primeira vez, pode muito bem assistir-se ao surgimento de um novo partido europeu.

Detlef Gürtleré chefe de redação da revista suíçaGDI Impuls. E colaborador de Die Welt, Tageszeitung e La Vanguardia. Em 2011, publicou o e-book “Entschuldigung! Ich bin deutsch” [Desculpe! Sou alemão], em sete línguas.

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2 comentários para "Até onde irá o Partido Pirata"

  1. Paulo Rená disse:

    Muitos trechos requentados, e uma análise meio supecrficial, mas algumas pasagens são válidas. Ao meu ver, o PPBr deve abraçar, entre outras coisas, a ideia de que ele constitui a solução institucional que responde ao mesmos incômodos que criam o movimento Occuppy, ao Anonymous, as marchas anti corrupção e a difusão da pirataria (entre outros). Trata-se de uma comunhão do diagnóstico de crise de modelos, em especial na econômica (incluso o mercado cultural) e na política, mas nesse aspecto ele se propõe uma solução para inovar “o sistema” por dentro. Em vez de agir de fora destrutivamente ou de ignorar, o PPBr é uma nova tentativa de realizar a promessa de que os governantes tratem a coisa pública como algo efetivamente público. Está marcado para o dia 19 de maio de 2012 o dia em que essa tentativa começa a dar passos concretos no Brasil.

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