[Podcast] Virá a Resistência Cultural Brasileira?

Após ataques do governo Bolsonaro às políticas culturais, setor começa a se organizar. Nas próximas semanas, será lançado movimento que reúne coletivos da periferia, intelectuais e artistas. Prometem ações criativas e inovadoras

Célio Turino em entrevista a Rôney Rodrigues, para o podcast Tibungo

Começa a ser desenhado um novo movimento contra os retrocessos do governo Bolsonaro na área da Cultura, reunindo diversos artistas, intelectuais, advogados, jornalistas e produtores, mas com uma novidade: importantíssimos movimentos culturais da periferia dividindo protagonismo com artistas ligados à indústria cultural. Um primeiro encontro foi realizado na semana passada, no Rio de Janeiro, organizado pela deputada federal Jandira Feghali (PcdoB/RJ).

Até então, os enfrentamentos mais ruidosos no debate público deram-se por personalidades do campo artístico. Falta iniciativa mais robusta, que congregasse múltiplos atores contra os ataques à Cultura. Mas, após o pronunciamento em rede nacional do ex-secretário da Cultura, Ricardo Alvim (demitido para dar lugar a atriz Regina Duarte), no qual ele plagia descaradamente estética e trechos de discurso de Joseph Goebbel, ministro da Propaganda na Alemanha Nazista, o alerta foi mais estridente: urge criar uma articulação nacional, em diversas cidades, contra os atuais rumos da política cultural no Brasil.

Os cortes na Cultura não são exclusividade do governo Bolsonaro. Desde 2015, segundo o Sistema de Informações e Indicadores Culturais, do IBGE, os gastos públicos com Cultura vem caindo nas esferas municipais, estaduais e federal. A novidade que o governo Bolsonaro inaugura é transforma artistas e setor cultural em “inimigos públicos”. Para isso, usou artilharia pesada na área administrativa: transformou o Ministério da Cultura em secretaria especial da pasta de Turismo; cancelou editais em razão do conteúdo dos filmes produzidos; diminuiu expressivamente os chamamentos da Ancine (Agência Nacional do Cinema); esvaziou a Lei Rouanet e nomeou personalidade virulentas e até mesmo militares em postos-chave no incentivo às artes. Paralelamente a isso, seu governo propaga informações falsas sobre os mecanismo de financiamento da cultura e taxa classe artística e movimentos culturais como “ideológicos”, “inimigos da Nação e da família brasileira” e oportunistas da “mamata petista”.

Para compreender o que pretende esse movimento que começa a surgir, entrevistamos o historiador, escritor e ativista Célio Turino, que participa ativamente dessa articulação. Com ampla experiência em gestão pública na área de Cultura, compôs a equipe de Gilberto Gil no Ministério da Cultura (2004-2010), quando elaborou o Programa Cultura Viva, pioneira iniciativa para democratizar o acesso à cultura, com a criação de mais 2.500 Pontos de Cultura, espalhados em mais de mil municípios do Brasil e beneficiando oito milhões de pessoas.

Na entrevista, Turino descreve quem esteve envolvido na reunião, a importância de formar uma frente artística contra os retrocessos e alerta: as ações do governo Bolsonaro contra a Cultura são crimes de lesa-pátria. O dever de artistas e movimentos sociais é combater os retrocessos. Cita uma instigante iniciativa no Chile, que poderia ser replicada no Brasil: a RED Cultura VIVA Comunitaria, que reúne artistas, organizadores e gestores comunitários independentes na área cultura e tem papel ativo nos protestos contra o ultraliberalismo e o governo de Sebástian Piñera, que chacoalham o país desde outubro do ano passado. Enfrentar a “necropolítica” do bolsonarismo, conta ele, requer ação articula, mas não só: é preciso inovação, criatividade e alteridade.


Apresentação e edição de áudio Gabriela Leite | Entrevistado Célio Turino | Entrevista e roteiro Rôney Rodrigues | Direção Antonio Martins | Fale com a gente [email protected]

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