?️ América Latina, epicentro da covid-19

Ex ministra da Saúde do Equador analisa as fragilidades da região. A governantes desastrosos, soma-se algo mais grave: a captura do Estado na últimas décadas — com a transferência do dinheiro dos serviços públicos ao capital internacional

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Carina Vance em entrevista a Raquel Torres, no Tibungo

Nesta semana, o número acumulado de mortes na América Latina pela covid-19 ultrapassou os 100 mil. Em menos de um mês as infecções dobraram, chegando a mais de dois milhões. O diretor de emergências da OMS, Michael Ryan, disse ontem que a região certamente ainda não atingiu seu pico e que nem mesmo é possível prever quando isso vai acontecer.

O Brasil é o grande responsável pelos números elevados, mas há também outros surtos muito relevantes, principalmente se a gente considera o tamanho das populações.  Peru, Equador, Chile e México estão, junto com o Brasil, no topo da lista dos países com os dados mais preocupantes. 

A situação brasileira não surpreende em nada, uma vez que o presidente da República age desde o primeiro minuto contra todas as recomendações de cientistas e autoridades de saúde. Somos, de longe, o país com mais casos e óbitos na região, e estamos em terceiro lugar quando se trata de mortos por milhão de habitantes. 

Mas não é possível compreender o descontrole do coronavírus na América Latina medindo apenas o grau de seriedade com que os  governantes encararam o problema. O Chile teve uma das estratégias mais elogiadas das Américas no começo do surto, realizando testes em massa e adotando desde muito cedo quarentenas em lugares considerados estratégicos. O Peru também foi um dos primeiros da região a decretar medidas de isolamento social. No entanto, esses dois países enfrentam hoje cenários bastante complicados.

Grandes contingentes de pessoas pobres, informalidade no mercado de trabalho, crises políticas e um histórico de reformas que reduziram o papel do Estado e priorizaram a economia em vez da saúde pública são características que atrapalham, e muito, o combate eficaz ao novo coronavírus. 

Para analisar como e por que nos tornamos o epicentro da pandemia, trazemos hoje Carina Vance, que foi ministra de Saúde do Equador entre 2012 e 2015 e também dirigiu o Instituto Sul-Americano de Governo em Saúde, o ISAGS. Nessa entrevista, Carina  também reflete sobre o papel da Opas, a Organização Pan-Americana de Saúde, e sobre os rumos desse organismo internacional, fragilizado diante dos embates travados pelos governos dos embates travados pelos governos dos Estados Unidos e do Brasil.

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