Trinta anos de Manguebeat, por Fred Zero Quatro

Líder do movimento avalia que Mundo Livre S/A e Nação Zumbi não teriam a mesma projeção sem uma indústria cultural estruturada – que se desfez sob o império dos algoritmos. E compara: a crise social de hoje, no Recife, é como a dos anos 1990

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Por Fred Zero Quatro, entrevistado por Augusto Diniz para CartaCapital

Fred Zero Quatro lançou em 1992 um manifesto chamado Caranguejos com Cérebro, que se tornou um marco do movimento Manguebeat. O documento aborda o crescimento desordenado do Recife, uma das cidades na época com um dos mais baixos índices de desenvolvimento, e uma proposta para dar uma descarga de energia à localidade, chamada no manifesto de “Manguetown”.

Segundo Fred, a necessidade de fazer o documento surgiu depois de ver uma cena musical crescente no Recife. “Chico [Science, principal artífice do movimento] foi quem associou o movimento ao ecossistema característico da cidade – o mangue”, diz ele.

“De cinco, seis anos pra cá, a cena é semelhante à de 1992”, conta Fred, que no documento destacou o caos social vivido pela cidade do Recife há 30 anos. “Houve aumento absurdo de gente morando na rua, as pessoas esperando você acabar de almoçar para pegar o osso”, diz. “Em termos de índices sociais, a situação é muito parecida com a que eu escrevi naquela época”.

O Manguebeat foi um dos movimentos musicais conceituais mais importantes da música brasileira – e um dos últimos. Fred afirma que a ruptura ocorrida na indústria da música por conta da internet gerou uma “hecatombe” e que a “música se diluiu”.

Para ele, com todos os defeitos, “existia uma indústria fonográfica que favorecia” e colocava recursos volumosos no setor. Fred Zero Quatro diz que “hoje quem manda é o algoritmo. Houve uma fragmentação enorme na indústria da música”.

E acrescenta: “O pessoal não ouve álbum inteiro. É até difícil assimilar. Tudo muito rápido”. Ele conta que naquela época tinha que buscar informação sobre música e isso ajudava a criar diálogo.

No início deste ano, o Mundo Livre S/A lançou seu décimo álbum, o Walking Dead Folia. O disco de 11 faixas é cheio de críticas ao momento político e ao descuido com a gestão da pandemia.

Assista a entrevista na íntegra:

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