“Terrorismo” é lucro para as big techs

Relatório inédito revela a enorme profusão de contratos entre o Pentágono e as gigantes de tecnologia, principalmente após o 11 de setembro. À custa de milhares de vidas, a Guerra ao Terror rendeu mais de US$ 43 bilhões às corporações

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Por DW Brasil

As gigantes da tecnologia teriam lucrado bilhões através de contratos com as Forças Armadas e agências de Defesa dos Estados Unidos, em meio à chamada guerra ao terror, segundo um relatório publicado na véspera do 20º aniversário dos ataques de 11 de setembro de 2001 em solo americano.

No documento intitulado Big Tech Sells War (“Gigantes da tecnologia vendem guerra”, em tradução livre), três grupos de defesa dos direitos civis e da justiça social documentaram uma profusão de contratos entre o governo americano e as empresas Amazon, Facebook, Google, Microsoft e Twitter, a partir de 2004.

Segundo o relatório, esses contratos eram, principalmente, com as agências envolvidas na guerra ao terrorismo. “De 2004 até hoje, as grandes corporações tecnológicas vêm registrando um crescimento enorme na procura por seus serviços, particularmente, a partir do Pentágono e do Departamento de Segurança Interna”, diz o documento.

A demanda por parte dos militares e da inteligência americana pelas chamadas nuvens de dados e softwares de localização via GPS cresceu desde 2001, enquanto a indústria armamentista se tornava cada vez mais digitalizada.

Somente o Departamento de Defesa dos EUA gastou 43,8 bilhões de dólares em contratos com as chamadas big tech desde 2004. O relatório afirma que quatro das cinco agências que mais gastaram com essas empresas lidavam com política externa ou “foram estabelecidas como resultado direto da guerra global ao terror”.

“A Amazon e a Microsoft, particularmente, se mantiveram à frente nos últimos anos, sendo que a Amazon assinou em 2019 quase cinco vezes mais contratos e subcontratos, e a Microsoft, oito vezes mais, em comparação a 2015”, diz o texto.

O relatório afirma que 86% dos contratos da Amazon e 77% dos contratos do Google com agências governamentais estariam diretamente ligados à guerra ao terrorismo.

A Microsoft teria se beneficiado de um salto nos contratos com as agências de defesa durante o governo do presidente Donald Trump, aumentando em seis vezes o total de acordos assinados entre 2016 e 2018.

Em contrapartida, contratos com empresas tradicionais de defesa, como as aeroespaciais Raytheon e Northrop Grumman, vêm declinando nos últimos anos.

As informações no relatório – elaborado pela entidade Action Center on Race and the Economy e os grupos de justiça social LittleSis and MPower Change – foram colhidas através da ferramenta online Tech Inquiry, que permite aos usuários acessar dados sobre contratos com o governo americano.

Essa ferramenta, entretanto, inclui apenas os contratos cujas informações estão disponíveis ao público, o que pode significar que os números apontados no relatório estejam “muito provavelmente, subrepresentados”.

Os autores do relatório condenaram o que consideram uma promiscuidade entre as big tech e as agências de segurança, inclusive com alguns ex-membros do governo assumindo cargos em algumas das gigantes da tecnologia.

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