Egito: um viva a Alá, outro à Revolução

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Mohammed Mursi, da Irmandade Muçulmana, é declarado presidente, defende Islã, agradece à Praça Tahrir e  prometendo ser “um presidente para todos os egípcios”

Na BBC

Em seu pronunciamento histórico, Mursi agradeceu aos mais de 900 “mártires” da Revolução de 25 de Janeiro, que morreram durante os confrontos e protestos que pediam a renúncia de Hosni Mubarak, que governou o país por quase três décadas.

Ele preferiu saudar os revolucionários e agradecer a Deus, repetidas vezes, e não comentou a decisão dos militares de expandir seus poderes na semana passada, esvaziando o cargo do presidente. Além disso, Mursi não se pronunciou sobre a decisão da Suprema Corte de dissolver o Parlamento, também na semana passada.

“Para todos os meus irmãos, minha tribo, minha família, falo a você hoje com o agradecimento a Deus que chegamos a este período histórico. Agradeço a todos os egípcios que pagaram com suas lágrimas, sangue e sacrifícios. Sem esses sacrifícios eu não poderia estar aqui como o primeiro presidente eleito da história do Egito”.

Política externa

Em temas de política externa, Mursi fez um discurso que deve agradar aos Estados Unidos e Israel, embora seja cedo para determinar como devem ser as novas relações entre seu governo, as potências ocidentais e outros países da região.

“Respeitaremos os direitos das mulheres e crianças, os direitos humanos e nossos acordos internacionais”, disse. Na visão de analistas os acorsos referidos são o tratado de paz assinado com Israel.

No entanto, Mursi também disse que o Egito deve buscar “relações internacionais equilibradas e baseadas em interesses mútuos e respeito”.

“Não permitiremos qualquer interferência em nossos assuntos internos, protegendo nossa soberania nacioanal, e não apoiaremos interferências em outros países. O Egito tem a capacidade de se defender sozinho”, indicou.

Para o analista da BBC Kevin Connoly a vitória de Mursi é um momento de profunda mudança no Egito. Seu partido, a Irmandade Muçulmana, já teve muitos de seus membros presos por décadas, agora tem um de seus líderes ocupando o palácio presidencial.

O chefe do Conselho Supremo Militar, o marechal Hussein Tantawi, parabenizou Mursi pela vitória, e chanceler britânico, William Hague, disse que o anúncio é “um momento histórico para o Egito”.

Em comunicado, a Casa Branca disse: “Nós acreditamos que é essencial que o governo egípcio continue a satisfazer o papel do Egito como um pilar regional de paz, segurança e estabilidade”, em referência ao fato de que o país é a única nação árabe a ter um acordo de paz com Israel.

O primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, disse esperar que o tratado de paz entre os dois países seja mantido.

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O candidato da Irmandade Muçulmana foi declarado neste domingo o vencedor da eleição presidencial no Egito, após semanas de tensão no país.

Tanto Mursi quanto seu rival, o ex-premiê Ahmed Shafiq, reivindicavam vitória no pleito que foi realizado na semana passada.

Egito | Foto: AFP

Milhares de egípcios foram à Praça Tahrir, no centro do Cairo, para comemorar resultado

Segundo a autoridade eleitoral – que atrasou em quase duas horas a divulgação dos resultados – Mursi recebeu 51,73% dos votos.

O candidato do partido islamista será o primeiro presidente do Egito após décadas de domínio de Hosni Mubarak.

O anúncio deu início a uma grande festa da multidão que se reúne na Praça Tahrir, no centro do Cairo. Há dias, milhares de pessoas mantêm uma vigília contra o anúncio feito pelo poderoso Conselho Supremo das Forças Armadas de que pretende restringir alguns dos poderes do presidente.

No dia 13 de junho, o atual governo, que ainda é controlado pelo Exército, deu aos soldados o poder de prender civis em tribunais militares até a ratificação da nova constituição egípcia.

Quatro dias depois, os generais anunciaram poder de veto no processo de elaboração da nova constituição. Na segunda-feira, o diretor do Conselho Supremo das Forças Armadas, Hussein Tantawi, anunciou que vai restabelecer o Conselho Nacional de Segurança do país.

Tensão

Nos últimos dias, havia um clima no país de indefinição, sem nenhum sinal sobre o que seria decidido nas urnas.

O Parlamento egípcio, que foi escolhido em eleições livres em novembro, foi dissolvido. A Irmandade Muçulmana, que possuía a maioria, protestou contra a decisão.

Para piorar o clima de tensão política no país, a comissão eleitoral atrasou a divulgação dos resultados. Inicialmente, o vencedor seria declarado na quinta-feira, mas a comissão – que é formada por cinco juízes – disse precisar de mais tempo para investigar todos os recursos feitos pelos candidatos.

O atraso alimentou boatos de que o Conselho Supremo das Forças Armadas e a Irmandade Muçulmana estariam negociando nos bastidores o futuro do país.

Para alguns analistas, os militares, que apoiavam Ahmed Shafiq, teriam percebido que a vitória de Mursi era irreversível, e estariam buscando um acordo para conquistar imunidade contra possíveis processos.

Os islamistas da Irmandade Muçulmana – que foram o maior partido de oposição durante toda a era Hosni Mubarak – querem retomar os poderes presidenciais. Mas os egípcios não sabem até que ponto os militares estão dispostos a deixar o poder.

Para o professor de direito constitucional Gaber Nassar, existe animosidade demais entre os dois lados para que eles consigam firmar um pacto.

 

Quem é Mohammed Mursi?

O presidente eleito do Egito, Mohammed Mursi, de 60 anos, estudou nos Estados Unidos e é formado em engenharia. Ele foi parlamentar entre 200 e 2005.

Pouco após a revolução de 2011, a Irmandade Muçulmana formou o Partido da Liberdade e Justiça, e indicou Mursi para comandar a sigla.

Mursi, que há anos integra a Irmandade Muçulmana, é conhecido por ser uma pessoa discreta. Alguns críticos dizem que ele não tem carisma.

Ele não era a primeira opção da Irmandade Muçulmana. O favorito da Irmandade era Khairat Al-Shater, que não pode concorrer por ter ficha policial (seus apoiadores dizem que ele é vítima de injustiças da era Mubarak).

Mursi prometeu em sua campanha que trará “justiça e prosperidade” ao Egito.

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