Sartre e os 80 anos de O ser e o nada

A obra do pensador francês segue atual – e perturbadora. Apontou que estamos condenados à liberdade, pois nada exime da responsabilidade sobre nossas vidas. Sua rebeldia, luta anticolonial e agudeza analítica continuam a nos inspirar

.

Por Douglas Rodrigues Barros e Thiago Rodrigues no Blog da Boitempo

No destempero da nossa atualidade, é muito improvável que as novas gerações tenham dimensão da presença de um filósofo como Sartre andando por aí. Desculpe-nos inclusive a lembrança: os últimos sobreviventes da filosofia em breve darão adeus. Como se diz nas sessões burocráticas: o último que sair, apague a luz! “Triste a geração que não teve um mestre”, comenta Gilles Deleuze ao homenagear o seu. Ao contrário daquele que professa, o mestre incomoda, é o espinho que pica o dedo e que não o deixa escrever o que quer. Jean-Paul Sartre foi espinho, mas muito mais do que isso, o pai do existencialismo francês, foi a pedra incontornável no sapato do século XX. É a presença da ausência dessa pedra que, ainda hoje, nos tira o ar. “É o destino desse autor trazer ar puro quando ele fala, mesmo que seja difícil respirar esse ar puro, o ar das ausências”.1 Pensando bem, com o espinho, não custa advertir que já em 1945 Jean-Paul Sartre lutava contra as tentativas de torná-lo uma instituição. Sua notoriedade, ao fim da Segunda Guerra, só encontra paralelos em Voltaire. Aliás, diz a anedota que quando foi detido por apoiar maoístas De Gaulle teria dito: “Não se prende Voltaire!”

A luta anticolonial de Sartre segue sendo um grande exemplo do significado de intelectual público que enfrentou muitas injúrias e foi, durante muitas décadas, o alvo preferencial da extrema-direita francesa. Ainda em 1960 era possível encontrar cartazes com dizeres: “Fuzilem Sartre” e editoriais que se dedicavam a construí-lo como inimigo público. Entre 1961 e 1962, duas bombas no seu apartamento lançaram pelo ar seus livros e anotações. Quem dera, porém, se suas inimizades fossem apenas do lado de lá da trincheira. Em 1948, o governo soviético não só assumiu posição contra Sartre como, através de sua influência, deu aos seus representantes diplomáticos a tarefa de se fazer proibir a exibição de sua peça Les mains sales [As mãos sujas] na Finlândia. Mesmíssimo ano em que toda a obra de Sartre entrava no Index do Santo Ofício. E esse é só um pequeno quadro desse pequeno homem, pequeno-burguês, que andava pelos cafés de dia e de noite se juntava aos negros em bares de jazz parisienses para escândalo dos intelectuais afeiçoados à cátedra. Deixemos esse quadro… nos voltemos à obra.

Há oitenta anos O ser e o nada (1943), chef d’œuvre, importuna seus discípulos e leitores. De fato, não se lê o célebre Ensaio de ontologia fenomenológica impunemente. A pergunta que esse aniversário impõe é: por que esse livro continua a requerer o engajamento dos seus leitores? Por que, diante de tal obra, é impossível ficar indiferente? Não deixa de impressionar a atualidade de suas conclusões. Saber que o ser da consciência implica outro ser que não ela própria é revelar a profunda relação com a alteridade. Então, num tempo sombrio como o nosso, que impôs a concorrência como modo universal de existência, essa noção relembra nossa dependência e solidariedade diante desse outro que do inferno nos conduz ao paraíso. Certa vez o filósofo afirmou, para o horror de muitos, que a França nunca havia sido tão livre quanto durante a ocupação nazista,2 pois, numa situação limite, a escolha se impõe: ou se é resistência ou se é colaboracionista. Sartre, mesmo quando errou, nunca se absteve de se posicionar. Em termos sartreanos, não escolher é, também, uma escolha. Sua atuação filosófica sempre nos lembra que é preciso atirar a pedra na vidraça que tenta ocultar o que há de humano na barbárie: se há miséria, esta é resultado das nossas escolhas. Em um tempo marcado pela fantasia da satisfação ligada ao consumo, sua filosofia incomoda: contradita as relações movidas pela individualização do desejo e sua suposta complementariedade na satisfação. E, por isso, uma das lições marcantes de O ser e o nada reside na exigência de assumir nossa responsabilidade como correlato da liberdade.

Esse ensaio filosófico marcou uma gigantesca geração de filósofos e foi o leitmotiv que conduziu o pensamento de Sartre durante toda sua vida. Para se ter uma ideia, em sua última grande obra, O idiota da família (1971), ainda reverbera imperioso o Ensaio de ontologia fenomenológica e sua psicanálise existencial. Não é outro o sentido da indagação que o filósofo se impõe ao tratar da incontornável peça de Sófocles: “Édipo não quis matar o pai nem fornicar com a mãe. Isso deverá impedi-lo de furar os olhos e pagar pelo crime?”3 Noutros termos: estamos condenados à liberdade porque somos responsáveis pelo que efetivamente fazemos de nossa vida. Sartre lembra que a consciência pré-reflexiva não pode servir de pretexto para fugir às nossas responsabilidades. Muito mais do que culpados somos os responsáveis e é sempre preciso um esforço para não esquecer dos nossos mortos. O nazismo foi um holocausto causado por escolhas humanas, a ditadura deixou milhares de mortos e desaparecidos, o mal é sempre uma possibilidade de escolha. Recusar essa responsabilidade significa esquecer que a história depende das ações humanas. Assim, Sartre foi um dos últimos e talvez aquele que levou mais a sério a figura do intelectual engajado. As necessidades de se posicionar frente à situação e às contingências históricas marcam seu itinerário.

Provocando afetos díspares, não foi só o posicionamento de Sartre que esteve na mira, também sua filosofia se tornou lugar de desavenças. Como crítico, que se recusava à integração, foi alvo preferencial de invectivas intelectuais contrárias que, na maioria das vezes, fizeram de seu pensamento um espantalho. Mesmo Foucault afirmará que Sartre é um filósofo do século XX pensando com categorias do século XIX. Nas suas palavras : “A crítica da razão dialética (1960) é o magnifico e patético esforço de um homem do século XIX para pensar o século XX. Nesse sentido, Sartre é o último hegeliano, e diria mesmo o último marxista”.4 Infelizmente é provável que Foucault tenha razão pelos motivos errados. De fato Sartre pode ser considerado um dos últimos marxistas – no sentido do esforço crítico de levar em consideração a realidade social no seu movimento sem recair na unilateralidade da analítica – que ao ser tirado do horizonte da filosofia a tornou integrada à lógica da administração do capitalismo tardio. Afinal, o que se tornou a filosofia francesa hoje senão um museu de ideologias? Foucault esquece5 ainda que as categorias da tradição mobilizadas por Sartre são ressignificadas; afinal, como quer Deleuze, não trataria a filosofia justamente de criar e ressignificar conceitos? Liberdade, para Sartre, tem um significado muito diferente daquele expresso pelos iluministas franceses, para ficar num exemplo apenas. Aliás, Sartre antecipa a discussão sobre a constituição da subjetividade já em sua obra de estreia, A transcendência do ego (1936). Ao divergir de Edmund Husserl, um de seus mestres, o filósofo recusará a ideia de um Ego transcendental, pois a identidade se constitui sempre externamente. Num momento em que a identidade parece ter se tornado o lugar da gestão social, essas conclusões de 1936 são assustadoramente atuais. Esse simulacro que é o Ego é sempre constituído em situação, no mundo, na história e no encontro concreto com o outro.6 Nesse sentido, Sartre antecipa alguns de seus herdeiros, como o próprio Foucault e Jacques Lacan, ao contestar a ideia de um “Eu” como princípio necessário ao pensamento. Nada mais distante das categorias do século XIX…

Por falar em Lacan, no hall dos herdeiros de Sartre, o autor será mais simpático que Foucault ao admitir sua dívida para com o mestre. Diz o psicanalista francês, responsável por afirmar que o inconsciente se estrutura como linguagem: “Não posso deixar de me referir ao autor que descreveu o jogo da intersubjetividade de uma maneira magistral, Jean-Paul Sartre. […] Toda a fenomenologia da vergonha, do pudor, do prestígio, do medo particular engendrado pelo olhar, está em Sartre admiravelmente descrita, e eu os aconselho a se reportar a isso em sua obra. É uma leitura essencial para um analista. […] Sartre (dá) da fenomenologia da relação amorosa uma estruturação que me parece irrefutável. […] É preciso que vocês façam um pouco de esforço, e se reportem a O ser e o nada”.7 Lacan claramente reconhece a dívida que alguns dos detratores de Sartre parecem querer apagar. Isso sem levar em consideração os aspectos claramente influenciados pela fenomenologia do olhar em Lacan cujos rastros estão na intersecção de Merleau-Ponty e Sartre. O imaginário, como a estrutura do sujeito em Lacan, é um caso à parte cuja menção é importante, mas que faria perder de vistas o fio que nos conduz se acaso aprofundássemos. Fica a dica!

Por falar em encontro, Deleuze destaca que dentre os pares de Sartre, Maurice Merleau-Ponty, com uma obra brilhante e profunda, adotava uma abordagem professoral, distante do vigor e influência de Sartre.8 Longe de ser um rival, Merleau-Ponty configurava-se como um interlocutor privilegiado, fortemente influenciado pelo pensamento existencialista de Sartre, embora também fosse influência constante nele. O existencialismo sartreano, porém, ri daqueles que agendam seus encontros com hora marcada, pois “as pessoas que marcam encontros exatos são as mesmas que precisam de papel pautado para escrever ou que apertam de baixo para cima o tubo da pasta de dentes”.9 Em suma, não dá para ficar indiferente à figura e à obra de Sartre. “Assim se distinguiam um existencialismo duro e penetrante e um existencialismo mais brando, mais reservado”,10 sintetiza Deleuze sobre o existencialismo de Sartre e a versão de Merleau-Ponty.

Quanto ao nazista Martin Heidegger – é preciso chamar as coisas pelos nomes –, Deleuze é certeiro, quase sartreano na provocação: “Agora já sabemos melhor que as relações de Sartre com Heidegger, sua dependência de Heidegger, eram falsos problemas que se apoiavam em mal-entendidos. O que nos tocava em O ser e o nada era unicamente sartreano e dava a envergadura da contribuição de Sartre”.11 Deleuze “dá a letra” para aqueles que, por não compreenderem Sartre, o reduzem à cópia do filósofo alemão. Longe do distanciamento asséptico do autor de Ser e tempo (1927), Sartre apoiou a revolução argelina, teve um encontro célebre com Fanon regado a uísque e cigarro, viajou para Cuba e entrevistou Guevara, foi à China durante a revolução, se tornou amigo e referência de Mandela – que após sair do desterro da prisão do apartheid perguntou se Sartre ainda era vivo –  e  esteve de mãos dadas com Foucault nas ruas em maio de 1968. As divergências intelectuais nunca impediram os encontros dispostos à luta contra o status quo. Além do mais, é preciso lembrar que Heidegger nunca se retratou acerca do seu envolvimento com o partido nazista,12 que só tardiamente descobrimos ser umbilical e coerente. Enfim, dois capítulos merecem um lugar de destaque, sua amizade com Albert Camus e seu amor à Simone de Beauvoir. Amores sem os quais não temos um quadro completo de Sartre.

Por oitenta anos, lamentavelmente, somos incapazes de esquecer de O ser e o nada. A obra incômoda: lembra que não fomos capazes de superar o genocídio do ser humano pelo próprio ser humano. O alerta sartreano continua atual e nossa situação histórica parece demonstrar a improbabilidade dessa superação. E é preciso lamentar a presença dessa ausência de Sartre, pois ela é a representação concreta do fracasso histórico do projeto humanista. Nossa história só parece asseverar ainda mais que o ser humano foi um esboço que não deu certo. Celebrar essa obra significa reconhecer sua grandiosidade e assumir nossa responsabilidade histórica. Ir à luta ou se acomodar diante da violência normatizada. Não por acaso, Deleuze termina sua homenagem ao mestre existencialista se reportando “ao amigo-Pierre-que-nunca-está-presente”.13 Imaginar a ausência de Sartre é muito mais perturbador do que perceber sua falta. Essa afirmação reivindica uma melhor explicitação, mas vale lembrar também que aquilo que é explícito, muitas vezes, nos rouba a oportunidade de ruminar a seu respeito. A notícia é sempre mais pobre que a narrativa, porque costuma vir acompanhada de uma bula explicativa. É por isso que a literatura atinge instâncias do real que a filosofia isoladamente seria incapaz sequer de se aproximar.

Para Sartre, o que define a imagem é justamente seu caráter irreal. Imaginar é negar o real e liberar a consciência das determinações da percepção. Se o ser humano é capaz de transcender a realidade imediata, é porque é livre para fazê-lo.14 A liberdade e a capacidade de transcendência, nessa chave interpretativa, dependem, em alguma medida, da nossa capacidade de imaginar “mundos no mundo”. Imaginar a ausência de Sartre é muito mais perturbador do que perceber sua falta, porque nos lembra que aparentemente não somos mais capazes de “arriscar o impossível”. Qual o sonho, hoje, capaz de engajar nossa existência? Ainda conseguimos imaginar um outro mundo fora do horizonte de possibilidades dadas? N’O ser e o nada é a possibilidade de imaginar o impossível que estrutura sua força. Nele a liberdade nos faz acreditar novamente no ser humano e vislumbrar uma sociedade minimamente livre. Somos livres para nos libertarmos. Daí o otimismo que o autor reclama em sua conferência O existencialismo é um humanismo (1946), otimismo porque Sartre ainda era capaz de acreditar na transformação. Nós realmente acreditamos? E aquilo que é capaz de promover essa libertação passa necessariamente pela nossa capacidade de imaginar. Assim, um dos legados de O ser e o nada é justamente as narrativas que perpassam todo o livro e configuram a insurgência da expressão ficcional no seio desse tratado de filosofia, o que faz do livro um grande ensaio filosófico.

Deleuze traduz da seguinte maneira o impacto desse legado de O ser e o nada para a expressão filosófica: “E cada vez, a essência e o exemplo entravam em relações complexas que davam um estilo novo à filosofia. O garçom do café, a moça apaixonada, o homem feio e, principalmente, meu amigo-Pierre-que-nunca-estava-presente, formavam verdadeiros romances na obra filosófica e percutiam as essências ao ritmo de seus exemplos existenciais. Por toda parte brilhava uma sintaxe violenta, feita de rachaduras e de estiramentos, lembrando as duas obsessões sartreanas: os lagos de não-ser, as viscosidades da matéria”.15 Esses “verdadeiros romances” denunciam a insuficiência da filosofia em abarcar as existências concretas e historicamente situadas. O ser e o nada prova que é preciso mobilizar as duas modalidades expressivas a fim de compreender o real. Ainda na senda da homenagem deleuziana, na tensão e no paradoxo do Ser e do não-ser, da consciência e da História, da subjetividade e da objetividade, Sartre nos joga na cara a teoria da má-fé, e novamente reivindica responsabilidade. Aquele que se autodeclara honesto, muitas vezes faz isso justamente por não o ser. Aquele que se declara revolucionário, muitas vezes faz isso justamente para manter a ordem.

Noutro momento, antecipando seus detratores, Sartre demonstra que nos constituímos no mundo, mas sempre no encontro concreto com o outro, mediado pelo olhar do outro, esse inferno. Converto-me em objeto, mas reduzo o outro à condição de coisa também. Essa troca masoquista, permite que me reconheça afirmando minha permanência, mas negando minha liberdade fundamental. É muito interessante levar em consideração como tais conclusões aparecem na obra fanoniana para pensar o racializado reduzido à coisa. O ser humano deseja ser Deus, mas o simples olhar do outro o reduz à condição de coisa esquecida no fundo da gaveta. A contribuição de Sartre para pensar a condição radical daqueles que foram coisificados para adentrar a máquina de morte do colonialismo é ainda algo a ser repensado. Seja como for, é possível enxergar que Sartre foi um companheiro de primeira ordem! E a esse respeito é impossível não mencionar aquela que talvez seja sua teoria mais influente, embora por vezes muito mal interpretada, a teoria da liberdade. Os seres humanos se constroem através das suas escolhas, mas sempre no limite da situação histórica. Numa frase de reverberações marxistas, Sartre sintetiza essa ideia: o ser humano é livre para fazer a história que o faz.16 Importa menos “o que foi feito da vida”, e muito mais aquilo que fazemos dela. Esse grito que possibilita uma abertura no horizonte das relações dadas cava espaço para que o indivíduo racializado transforme sua condição de não-ser-sujeito. 

Por fim, n’O ser e o nada ainda vemos algo que será plenamente desenvolvido apenas em sua última grande obra, O idiota da família: sua psicanálise existencial. Como compreender que uma figura como Flaubert, destinada a ser um burguês medíocre, possa ter se convertido no maior escritor de língua francesa? Ou então, o que fez de Jean Genet, condenado a ser um marginal, o incomparável dramaturgo? “A psicanálise existencial [é] onde se podia reencontrar as escolhas de base de um indivíduo no centro da vida concreta”, sintetiza Deleuze. Mas Sartre dá uma formulação talvez insuperável em seu livro Crítica da razão dialética, pois nesse registro Flaubert e Genet são a prova da “irredutibilidade da consciência às determinações da matéria”.17 Eis aqui uma tradução possível para o famigerado conceito de liberdade em Sartre; a possibilidade de abrirmos caminhos mesmo diante da mais absoluta prisão que, invariavelmente, reside em nós mesmo e naquilo que desejamos. Enfim é preciso reaprender a imaginar, passo fundamental à descolonização de nosso imaginário. Enquanto estivermos nesse inferno, Sartre segue sendo um Virgílio fundamental! Viva os oitenta anos de Ser e Nada!

Notas

1 DELEUZE, “Ele foi meu mestre”. In: A ilha deserta, p. 95.
2 SARTRE, La République du Silence. Revista Literatura e Sociedade / Linguagem e Sociedade, p. 1.
3 SARTRE, L’Idiot de la Famille, V. II, p. 1914.
4 FOUCAULT, L’homme est-il mort?, In: Dits et écrits I, p. 541-542. “La Critique de la Raison Dialectique, c’est le magnifique et pathétique effort d’un homme du XIXe siècle pour penser le XXe siècle. En ce sens, Sartre est le dernier hégélien, et je dirai même le dernier marxiste”.
5 Ou força a tinta propositalmente?
6 SARTRE, O ser e o nada, p 451ss.
7 LACAN apud PERDIGÃO, Existência e liberdade, p. 137.
8 DELEUZE, “Ele foi meu mestre”, in: A ilha deserta, p. 92.
9 CORTÁZAR, O jogo da amarelinha, p. 13.
10 DELEUZE,“Ele foi meu mestre”. In: A ilha deserta, p. 92.
11 Ibidem, p. 94.
12 Muita tinta foi gasta para tratar dessa questão, desnecessário insistir, mas a pá de cal dessa discussão foi a publicação das cartas ao irmão (Schwarze Hefte ou os Cadernos negros), que confirmam o nazismo e o antissemitismo de Martin Heidegger. A recusa deste fato desvela, na maioria dos casos, um desvio de caráter.
13 DELEUZE,“Ele foi meu mestre”, in: A ilha deserta, p. 95.
14 LEOPOLDO E SILVA, Ética e literatura em Sartre: Ensaios introdutórios, p. 100.
15 DELEUZE, Ele foi meu mestre”, in: A ilha deserta, p. 95.
16 Essa ideia está presente no ensaio Questão de Método, da seguinte forma: “Os homens fazem, eles próprios, sua história, mas num meio dado que os condiciona” (p. 149).
17 SARTRE, Questão de Método, p. 178; Critique de la Raison Dialectique, p. 115. “O que chamamos liberdade é a irredutibilidade da ordem cultural à ordem natural.”


Sartre – direito e política: ontologia, liberdade e revolução, de Silvio Luiz De Almeida
Neste livro, o direito e a política são lidos à luz da densidade teórica e crítica da obra filosófica do pensador francês, seja no período inicial, com sua ênfase ontológico-existencial e sociopsicológica – em que uma aguda crítica à ética tradicional e à ideologia jurídica já pode ser vislumbrada -, seja mais tarde, quando a ênfase histórico-social resultará em um dos momentos de maior originalidade da filosofia contemporânea: a síntese entre marxismo e existencialismo.

A obra de Sartre: busca da liberdade e desafio da história, de István Mészáros
O livro tem o mérito de situar Jean-Paul Sartre em relação ao pensamento do século XX e abordar sua trajetória em todas as suas manifestações – como romancista, dramaturgo, filósofo e militante político. Para Mészáros, a importância da mensagem intransigente de Sartre sobre a necessária alternativa é maior hoje do que já foi anteriormente. O filósofo francês não viveu para ver grande parte das pessoas engajadas daquela época se render aos poderes da repressão em nome do privatismo e do individualismo. Por esse motivo, Sartre é hoje uma lembrança terrível e ao mesmo tempo imprescindível.


Referências bibliográficas

Livros de Sartre citados, consultados ou aludidos:

SARTRE, Jean-Paul. A transcendência do Ego. Seguido de Consciência de Si e Conhecimento de Si. Tradução e Introdução de Pedro M. S. Alves. Lisboa: Edições Colibri, 1994.
SARTRE, Jean-Paul. La transcendance de l’Ego. Paris: Vrin, 2003.
SARTRE, Jean-Paul. A náusea. Trad. Antônio Coimbra Martins. Lisboa: Publicações Europa-América, 1963.
SARTRE, Jean-Paul. La Nausée.Paris: Gallimard, 2007.
SARTRE, Jean-Paul. L’Imaginaire. Paris: Gallimard, 2005.
SARTRE, Jean-Paul. O ser e o nada. Trad. de Paulo Perdigão. Petrópolis: Vozes, 1997.
SARTRE, Jean-Paul. L’être et le néant. Paris: Gallimard, 2013.
SARTRE, Jean-Paul. Entre quatro paredes. Trad. Alcione Araújo e Pedro Hussak. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005.
SARTRE, Jean-Paul. O existencialismo é um humanismo. Trad. de Bento Prado Jr. Sel. José Américo Motta Pessanha. São Paulo: Abril Cultural, 1978. (Col. Os Pensadores)
SARTRE, Jean-Paul. La République du Silence. Revista Literatura e Sociedade / Linguagem e Sociedade, v.6, n.1 (Situations III), 2014.
SARTRE, Jean-Paul. Crítica da razão dialética: precedido por Questões de método. Trad. de Guilherme João de Freitas. Apresentação de Gerd Bornheim. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.
SARTRE, Jean-Paul. Questão de método. Trad. de Bento Prado Jr. Sel. José Américo Motta Pessanha. São Paulo: Abril Cultural, 1978. (Col. Os Pensadores)
SARTRE, Jean-Paul. L’Idiot de la Famille. V.1, 2 e 3. Paris: Gallimard, 1971-1972.
SARTRE, Jean-Paul. Itinerário de um pensamento. In: Vozes do Século: Entrevistas da New Left Review. Org. Emir Sader. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997.

Demais obras referenciadas ou consultadas:

BEAUVOIR, Simone. A cerimônia de adeus, seguido de Entrevistas com Jean-Paul Sartre, Agosto / Setembro 1974. Trad. Rita Braga. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990.
BEAUVOIR, Simone. O Segundo Sexo, Vol. 1: Fatos e Mitos. Trad. de Sérgio Milliet. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1970, 4ª Ed.
BEUVOIR; ALGREN. Cartas a Nelson Algren: um amor transatlântico 1947-1964. Trad. De Márcia. N. Teixeira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000.
CAMUS, A. A náusea de Jean-Paul Sartre. In: A inteligência e o cadafalso. Trad. Manuel da Costa Pinto e Cristinha Murachco. Rio de Janeiro: Editora Record, 2018. 4ª Ed.
COHEN-SOLAL, Annie. Sartre: 1905-1980. Trad. Milton Persson. São Paulo: LP&M, 1986.
CORTÁZAR, J. O jogo da amarelinha. Trad. Eric Nepomuceno. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.
DELEUZE, Gilles. “Ele foi meu mestre”. In: A Ilha Deserta e outros textos. Trad. de Francisca Maria Cabrera. São Paulo: Iluminuras, 2006.
DREYFUS, Hubert L.; WRATHALL, Mark A.(orgs.) Fenomenologia e Existencialismo. Trad. Cecília Camargo Bartalotti e Luciana Pudenzi. São Paulo: Edições Loyola, 2012.
FOUCAULT, Michel. L’homme est-il mort? In: Dits et écrits I. Paris, Gallimard, 1994.
GAGNEBIN, Jeanne Marie. Lembrar escrever esquecer. São Paulo: Ed. 34, 2014.
ROWLEY, Hazel. Simone de Beauvoir e Jean-Paul Sartre: Tête-à-Tête. Trad. de Adalgisa Campos da Silva. Rio de Janeiro: Objetiva, 2006.
PERDIGÃO, Paulo. Existência e liberdade: introdução à filosofia de Sartre. Porto Alegre: L&P.M., 1995.
RODRIGUES, Thiago. A necessidade do ensaio: o ensaio como experiência filosófica. Jundiaí: Editora Fibra / Edições Brasil, 2023.
SILVA, Franklin. Ética e literatura em Sartre: ensaios introdutórios. São Paulo: Editora UNESP, 2004.

***
Douglas Rodrigues Barros é escritor, doutor em Ética e Filosofia política pela Unifesp, editor e conselheiro editorial do Lavra Palavra e autor dos livros Lugar de negro, lugar de branco? Esboço para uma crítica à metafísica racial (Hedra, 2019) e Racismo (Fibra/Brasil, 2020). Militante do movimento negro, foi coordenador político da Uneafro.

Thiago Rodrigues realizou pesquisa de pós-doutorado (2020–2022) pela Universidade de São Paulo (USP) sob a supervisão do professor Franklin Leopoldo e Silva. É doutor e mestre em filosofia pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). É professor e coordenador no Centro Universitário Assunção (UNIFAI). É autor dos livros Fenomenologia crítica, filosofia e literatura: uma incursão nos primeiros textos de Sartre (2014) e A necessidade do ensaio: o ensaio como experiência filosófica (2023).

Leia Também: