Os bastidores da ascensão de Joaquim Barbosa

Caminho percorrido pelo herói da mídia, com nuances e detalhes convenientemente ocultos, é uma lembrança de que o STF necessita de reforma, urgente

Por Paulo Nogueira, no Diário do Centro do Mundo

Caminho percorrido pelo herói da mídia, com nuances e detalhes convenientemente ocultos, é uma lembrança de que o STF necessita de reforma, urgente

Por Paulo Nogueira, no Diário do Centro do Mundo
Estou em Londres há quatro anos já, e existem algumas coisas no Brasil que agora, com a temporada europeia, me chamam a atenção. Talvez no passado eu achasse tudo normal.
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Por exemplo, as linhas abaixo, extraídas do dircurso se posse de Joaquim Barbosa na presidência do STF:

Por fim, eu gostaria de arrematar esta breve exposição com umas poucas palavras sobre um personagem chave para toda e qualquer tentativa que se queira implementar no nosso país na esfera do Poder Judiciário. Falo da figura do juiz, esta figura tão esquecida, às vezes. É preciso reforçar a independência do Juiz. Afastá-lo desde o ingresso na carreira das múltiplas e nocivas influências que podem paulatinamente lhe minar a independência. Essas más influências podem se manifestar tanto a partir da própria hierarquia interna a que o jovem juiz se vê submetido, quanto dos laços políticos de que  ele pode às vezes se tornar tributário na natural e humana busca por ascensão funcional e profissional. Nada justifica, a meu sentir, a pouco edificante busca de apoio para uma singela promoção do juiz do primeiro ao segundo grau de jurisdição. O juiz, bem como os membros de outras carreiras importantes do estado, deve saber de antemão quais são as suas reais perspectivas de progressão, e não buscar obtê-las por meio da  aproximação ao poder político dominante no momento.

É uma frase diante da qual eu me inclinaria a dar um clássico clap, clap, clap. De pé.

Mas e quando você examina o caminho percorrido por Barbosa até chegar ao discurso triunfal?

Recapitulemos.

O acaso, em parte, lhe deu um abraço, registrado num livro de memórias de Frei Betto, grande amigo de Lula e figura influente em seu primeiro mandato. O nome do livro é Calendário do Poder.

“Fui lá tratar do meu retorno a São Paulo, após a posse presidencial”, revela um trecho do livro Calendário do Poder. Era 2002, e Frei Betto fora a uma agência da Varig em Brasília para comprar uma passagem de avião depois da posse de Lula. A fila era grande, e então ele pegou uma senha e procurou um lugar para sentar.

Palavras de Frei Betto, tiradas de Calendário do Poder:

“Instalei-me no primeiro banco vazio, ao lado de um cidadão negro que nunca vira.

– Você é o Frei Betto? – indagou-me.

Confirmei. Apresentou-se: Joaquim Barbosa… Trocamos ideias e, ao me despedir, levei dele o cartão e a boa impressão.

Para concluir…

Em março, Márcio Thomaz Bastos [então ministro da Justiça] indagou se eu conhecia um negro com perfil para ocupar vaga no STF. Lula pretendia nomear um para a suprema corte do país. Lembrei-me de Joaquim Barbosa”.

Não está em discussão aqui se a intenção de Lula era promover a causa negra ou se era era um simples gesto demagógico. Mas não há como fugir do fato de que Lula simplesmente inventou Barbosa, e é curioso ver como muitos dos comentaristas que o louvam hoje pelo desempenho no julgamento do Mensalão receberam a bordoadas sua indicação.

Voltemos à caça de apoio empreendida por Barbosa, não tão diferente assim da jornada épica de Luiz Fux rumo ao topo.

Podemos atribuir o encontro na Varig à fortuna. Barbosa não podia saber que o destino poria Frei Betto em condições de ser abordado. Talvez pudéssemos dizer, se fôssemos mais rigorosos, que a julgar pelo parágrafo destacado em seu discurso ele não devesse ter se aproximado de Frei Betto – representante do “poder dominante” — e dado um cartão.

Mas podemos estar sendo rigorosos demais, numa situação dessa natureza.

Então, passemos adiante.

E quando o acaso não ajuda?

Aparentemente, não foi apenas de Frei Betto que Barbosa recebeu a bênção.

Segundo uma reportagem da repórter Maria Lima, publicada dias atrás no Globo, Barbosa procurou — como o ministro Luiz Fux —  José Dirceu no esforço de ser indicado para o STF. Na reportagem, Maria Lima entrevistou um dos mais conhecidos advogados de Brasília, Antônio Carlos de Almeida Castro, conhecido como Kakay.

“Ele me procurou e disse que era um sonho seu chegar ao Supremo e que precisava do apoio do Zé Dirceu”, disse Castro à jornalista do Globo. Segundo Castro, Dirceu topou receber Barbosa depois de dizer que era necessário mudar a “forma de indicação dos ministros do Supremo”.

Barbosa acabaria sendo indicado por Lula, em 2003.

Voltemos a um trecho de seu primeiro discurso como presidente do Supremo.

O juiz, bem como os membros de outras carreiras importantes do estado, deve saber de antemão quais são as suas reais perspectivas de progressão, e não buscar obtê-las por meio da  aproximação ao poder político dominante no momento.

Algumas pessoas ligaram essa sentença à louca cavalgada do juiz Luiz Fux rumo ao STF. Mas Barbosa poderia, aparentemente, estar falando de sua própria experiência.

Lula está sendo – merecidamente, aliás – cobrado a dar explicações sobre o caso Rosemary. E Barbosa, deveria também explicar melhor seus passos?

E no campo das especulações: teria Barbosa mordido as mãos de nove dedos que o ergueram para provar independência, para simplesmente fazer justiça — ou para comprovar a patologia humana de ódio e ingratidão por aqueles a quem devemos?

Sobre o julgamento do mensalão, conforme já foi escrito no Diário, provavelmente apenas a posteridade terá uma ideia mais objetiva e menos apaixonada sobre os acontecimentos.

Caixa Dois? Dinheiro público? Provas estarrecedoras? Apenas indícios? Mensalão ou AP 470?

As verdades se alteram rapidamente de acordo com quem está com a palavra. O certo é que o STF necessita de uma reforma urgente – e o caminho percorrido por Barbosa, e descrito por ele mesmo em seu discurso, é uma lembrança cruel disso.

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5 comentários para "Os bastidores da ascensão de Joaquim Barbosa"

  1. Agraciado disse:

    Quando perdemos a capacidade honesta de análise, retrocedemos como humanidade. Voltamos ao fascismo e nazismo. Não estamos tratando de um jogo de futebol e sim das formas organizativas da sociedade on de vivemos. Os métodos de Gremsci, não são diferentes dos empregados por Goebels, nem por gente mercenária a serviço do poder. Estas considerações do artigo envergonham e desacreditam aos autores intelectuais. Joaquim Barbosa é negro, nascido num recanto tão pobre como Lula, a diferença é que tem princípios e ainda acredita no Brasil. lula renegou as suas origens e virou líder de uma elite de de larápios e mercenários do poder. O suborno dos votos é responsabilidade direta do FHC e a maldita reeleição,

  2. Esta prática de compra de votos que iniciou em Minas Gerais através do Então Sr Eduardo Azeredo com apoio de toda bancada do PSDB Mineiro, que passou pela aprovaçaõ do quinto ano de mandato do Sr,Fernando Henrique Cardoso, com a participação do partido DEMOCRATAS, é totalmente igual ao expediente utilizado pelo PT.A diferença é que o anterior
    não foi a julgamento “por não haver indícios”.No atual o Sr.Procurador da República baseou suas acusações em denúncias verbais do Sr Roberto Jeferson onde ele relata haver INDÍCIOS para sua denúncia.Como então não foram encontrados indícios para o anterior uma vez que a acusação também se baseava no mesmo tipo de acusação verbal e esta até com video
    gravado onde um parlamentar declara haver recebido dinheiro para votar a favor do quinto ano de mandato para FHC. Acho sim que temos que criar mecanismos de controles eficientes que acabem de vez com esta prática que fere a Democracia e a confiança de todos eleitores.Mas fazer do STF o palco teatral da mídia é simplesmente inadmissível. Os Juizes do STF, são Juizes
    Contitucionais e devem sempre julgar com base na Constituição e nunca na sua opinião ou preferência política.Em entrevista ao IG o ex Ministro so STF
    declarou ” Se o Juiz do STF não concordar com o texto Constitucional não deve votar ou até mesmo renunciar”

  3. Barbosa na berlinda
    É fácil entender por que uma eventual candidatura de Joaquim Barbosa seduz o oposicionismo nacional. Experiente, austero, bem-sucedido e retórico, o ministro do STF encarna o tão desejado perfil do quadro conservador livre de estigmas partidários e do farisaísmo rançoso que costuma azedar o discurso moralista da direita. E ele carrega a popularidade conquistada pela espetacularização do julgamento que ora protagoniza.
    Mas confesso que vejo o ensaio como positivo. Primeiro porque a falta de estofo político credencia o nobre magistrado (e seus apoiadores) a um enorme vexame eleitoral. Já aconteceu antes, com gente mais poderosa e bem preparada.
    E segundo porque, para vencer essa dificuldade, Barbosa precisará receber imediata e reiterada atenção da imprensa. A exposição de sua vida pessoal, os debates sobre suas atividades jurídicas e os questionamentos acerca dos seus critérios condenatórios no caso que o tornou famoso ajudarão a desfazer muitas ilusões sobre o personagem e a instituição que ele inevitavelmente representará.
    Por um lado seria útil manter o assunto na pauta quando os mensaleiros demotucanos caírem no esquecimento da mídia. Por outro, escancarando a politização do Judiciário, a campanha finalmente assumiria o que sempre esteve em jogo desde o início.

  4. Sílvia Eugênia Galli disse:

    Um ressentido elevado ao STF.

  5. Diego Schmidt disse:

    não sei de que forma estas tentando ajudar, mas se pra prender bandido for preciso se passar por amigo dele então que seja feito, seria melhor dizer que as pessoas deveriam se preocupar em serem sempre honesta e coesas com suas ideologias mas o texto no geral não disse absolutamente nada, somente uma sombra de preocupação como alguns dizem a caça aos petistas…que esta raça seja banida e junto com ela seus demônios que um dia me convenceram que trabalhariam por mim e pelo Brasil, tenho vergonha deles por me fazerem acreditar!

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