Ônibus femininos, "solução" segregadora
Por Patrícia Rodrigues e Léa Marques, na Marcha das mulheres
Publicado 03/10/2013 às 19:28
Mulheres precisam ser respeitadas e protegidas em toda rede de transporte público. Guetificação é desumana, contraproducente e antissocial
Por Patrícia Rodrigues e Léa Marques, no site da Marcha Mundial das Mulheres
A Câmara Municipal de São Paulo aprovou nesta última terça-feira, dia 1º de outubro de 2013, o Projeto de Lei (PL) 138/2011, de autoria do Vereador Alfredinho (PT), que institui sobre a obrigatoriedade de, nada menos, que 50% de ônibus para as mulheres na cidade de São Paulo. A redação inicial propunha ainda oferecer vagões específicos de trens e metrôs, porém, o item foi vetado, uma vez que não é de alçada do município cuidar dos metrôs, que são de responsabilidade do Governo do Estado. O projeto visa evitar que mulheres sejam assediadas, abusadas e estupradas nesses espaços, e propõe isso impondo a separação de homens e mulheres em um espaço de uso público.
Um dos primeiros problemas do próprio PL é que institui a política de cotas em horários definidos, das 6h às 10h e das 16h às 20h, de segunda a sexta, pressupondo que as mulheres somente são abusadas nesse espaço, quando há horário de pico e de superlotação dos ônibus. Um absurdo: mulheres são mortas, violentadas, estupradas e assediadas todos os dias, em todos os horários e em qualquer espaço.
Consideramos esse projeto um grande problema, pois propõe que, para os homens pararem de assediar as mulheres no transporte, somos nós mulheres que devemos perder o direito de entrar em todos vagões e ônibus. É um problema porque somos 52% da população, e em São Paulo representamos 58% dos(as) usuários(as) dos serviços de transporte público.
A proposta de ter um único vagão, como se não importasse que somos mais da metade da população, revela o pensamento de que o espaço público é dos homens por excelência, e que se nós mulheres queremos estar nele, é uma “exceção”, então só um vagão no metrô todo resolveria o problema.
Como sabemos, lei parecida com a do vereador Alfredinho já está em vigor no Rio de Janeiro desde 2006. É a Lei 4.733/2006, que em nada resolveu no fato de que as mulheres são assediadas, abusadas e estupradas nesse espaço, como demonstra a matéria do Portal R7: “Linha do medo: homens invadem vagão exclusivo para mulheres“. Ao contrário, sem qualquer mecanismo de regulação e fiscalização da implementação da Lei, os homens passaram a ocupar os vagões destinados somente por mulheres.
Fato é que esse projeto de Lei não apenas não resolve como “guetifica” a questão e reafirma o espaço público como o espaço dos homens. Além disso, essa medida abre possibilidade para que se adotem vagões para gays, negros, e por aí vai, reforçando a ideologia e a prática de que machismo, racismo e homofobia não se resolve com medidas que criminalizam o agressor, e sim por meio da culpabilização indireta da vítima.
É como dizer para um gay ou negro que, se ele não quer apanhar ou ser discriminado, que não vá até a Rua Augusta, Paulista ou Frei Caneca, que frequente lugares onde são “mais aceitos”. Qual será o próximo passo? Que, para as mulheres andarem em segurança, sejam criadas ruas públicas somente para mulheres? É isso?
Não queremos guetos, queremos poder estar em todos espaços públicos, com segurança. Ainda serve a máxima que muitos não entendem: “Não ensine uma mulher a não ser estuprada. Ensine um homem a não estuprar”. O ÚNICO culpado pelo estupro/assédio é o homem, e não a mulher, não importa onde ela está, ou qual roupa está usando. Queremos uma política e uma legislação que de fato enfrentem os problemas cotidianos do machismo e do estado patriarcal.
Este vídeo produzido pelo coletivo de humoristas de Mumbai “All India Bakchod” (Os charlatões da Índia) dialoga bastante com o assunto:
Então é o governo quem deve dar soluções??? Parabéns! Você acaba de legitimar um comportamento tecnocrático do Estado.
Cabe a nós, SOCIEDADE, fazermos nossas exigências SIM!!!
Se estamos insatisfeitos, devemos apontar a direção na qual nós, sociedade brasileira, queremos caminhar. E não ficar esperando que o Estado seja uma babá.
Enquanto as pessoas pensarem como você, teremos essa cultura horrenda onde ninguém pensa, todos reclamam e nada muda.
Estado Patriarcal no qual as mulheres votam, ocupam cargos de diretoria e possuem espaços exclusivos…. sugiro fazer uma viagem breve ao sul da África ou ao Oriente Médio, talvez mostre o que um patriarcado de verdade.. Mas, claro, você não vai ter coragem de ir nesses lugares, certo? então é melhor uma visitinha a Veneza, hoje ocupada por uma população gigantesca de mulheres muçulmanas impedidas de trabalhar porque os maridos as ameaçam de morte se elas tiram o véu e os patrões não as aceitam com o mesmo.
Senhora, se informe sobre o verdadeiro sentido de palavras como patriarcado antes de falar coisas que não procedem. O Brasil é um estado de direito no qual homens e mulheres possuem as mesmas obrigações e privilégios. Leis como essas são ruins não porque o espaço público pertence aos homens (deu me livre andar numa rua sem mulheres!) mas porque incentiva uma “guerra dos sexos” que só faz nossas sociedades andarem na direção errada.
Nathan, a solução é promover campanhas e conscientizar os homens a serem menos idiotas. Não adianta porcaria nenhuma ter vagões exclusivos porque eles não são respeitados. Nesse link vc pode ver um bom exemplo de como esses vagões não resolvem nada: http://noticias.r7.com/blogs/wagner-montes/2013/08/22/linha-do-medo-homens-invadem-vagao-exclusivo-para-mulheres/
Outra: É o governo quem deve dar as soluções, não a gente. Nós pagamos os impostos. Quem deve trabalhar é eles.
Eu q não vou fazer questão nenhuma de entrar em vagão feminino, entrarei no que estiver mais prático pra mim,no meu enteder qlqr vagão de um trem eu tenho direito de usufruir e ser respeitada.
Okay! Criticou… criticou… mas e aí? Qual é a alternativa?
“Queremos uma política e uma legislação que de fato enfrentem os problemas cotidianos do machismo e do estado patriarcal.”
Só criticar e pedir que a solução caia dos céus não basta.
O que vocês propõem que seja feito, objetivamente falando?
No Rio de Janeiro as mulheres que andam no vagão feminino são assediadas por mulheres… Então, acho que é uma bobagem, não mudou nada,