O fascismo do fim dos tempos – e o refúgio dos bilionários
Ansiosos pelo arrebatamento secular, eles já criam laboratórios de cidades alheias às leis do Estado e governadas por corporações. Sua mentalidade bunker examina o globo visando a captura de recursos. E, para eles, o apocalipse seria a limitação de seu aceleracionismo catastrófico
Publicado 09/05/2025 às 16:26

Por Naomi Klein e Astra Taylor, em A Terra é Redonda
1.
O movimento que visa criar cidades-estados corporativas não acredita em boa sorte. Por isso, durante anos, tem promovido a noção extremista de que as pessoas ricas e avessas a impostos devem se reunir e iniciar seus próprios feudos, abrigos de alta tecnologia. Devem criar países em ilhas artificiais localizadas em águas internacionais ou “cidades da liberdade” pró-negócios, como Próspera, um condomínio fechado situado na ilha de Roatán, em Honduras, que tem funcionado como um refúgio reenergizante de bilionários.
No entanto, apesar do apoio de capitalistas de risco como Peter Thiel e Marc Andreessen, esses sonhos libertários extremistas continuaram atolados. Pois, a maioria dos ricos que se prezam não querem realmente viver em plataformas flutuantes, mesmo que isso signifique impostos mais baixos. Embora Próspera possa ser um bom local para passar um fim de semana e para obter renovação corporal, a sua condição de território extranacional tem sido contestada nos tribunais de Honduras.
Agora, de repente, essa rede outrora marginal de separatistas corporativos passou a ver portas abertas no centro do poder global. O primeiro sinal de que a sorte estava mudando veio em 2023, quando Donald Trump, ainda em campanha, aparentemente do nada, prometeu lutar para que fossem criadas 10 “cidades da liberdade” em terras federais dos Estados Unidos. Esse balão de ensaio mal foi registrado na época, pois ficou perdido num dilúvio diário de alegações ultrajantes.
Contudo, desde que Donald Trump assumiu o cargo de presidente dos Estados Unidos da América do Norte, esses aspirantes iniciaram uma blitz para fazer lobby, determinados a transformar a promessa de Donald Trump em realidade. “A energia em Washington está absolutamente favorável” – disse um entusiasmado Trey Goff, chefe de gabinete da Próspera, após uma viagem recente ao Capitólio. A legislação que abre caminho para a formação de tais cidades-estados corporativas – afirmou ele – deve ser concluída até o final do ano.
Inspirados por uma leitura distorcida do filósofo político Albert Hirschman, figuras como Trey Goff, Peter Thiel e o investidor e escritor Balaji Srinivasan têm defendido o que chamam de “saída” – tentam sustentar, desse modo, a tese de que aqueles com recursos têm o direito de se afastar das obrigações da cidadania, especialmente dos impostos e das regulamentações onerosas.
Restaurando e renomeando velhas ambições e privilégios imperiais, eles sonham em influenciar governos para que permitam paraísos hiper capitalistas em suas nações. Como tais, esses paraísos ficariam sob o controle exclusivo dos supremamente ricos; livres da democracia, eles seriam protegidos por mercenários privados e atendidos por robôs de Inteligência Artificial e financiados por criptomoedas.
2.
Pode-se parecer contraditório que Donald Trump, eleito com um programa que dá primazia à América, dê crédito a essa ideia de criar territórios soberanos governados por reis-deuses bilionários. Ademais, muito se tem falado sobre as guerras coloridas e inflamadas entre o porta-voz do MAGA, Steve Bannon, um orgulhoso nacionalista e populista e os bilionários aliados de Donald Trump.
Como se sabe, ele os atacou verbalmente chamando-os de “tecnofeudalistas”, gente que “não dá a mínima para o ser humano” – e muito menos para o Estado-nação. Ora, há certamente conflitos dentro da coalizão desajeitada e improvisada de Trump e eles atingiram recentemente atingindo um ponto de ebulição na questão das tarifas. Ainda assim, as visões subjacentes podem não ser tão incompatíveis quanto parecem à primeira vista.
Os defensores desses “novos países” estão claramente prevendo um futuro mundial marcado por choques, escassez e colapso. Tais domínios privados altamente tecnológicos se constituiriam essencialmente em abrigos fortificados, projetados para que poucos selecionados possam aproveitar todos os luxos e oportunidades propiciados pelas técnicas mais modernas, dando a eles e a seus filhos uma vantagem em um futuro cada vez mais bárbaro.
Para ser franco, as pessoas mais poderosas do mundo estão se preparando para o fim do mundo, um fim que elas mesmas estão acelerando freneticamente. Isso não dista da ideia de construir nações fortificadas que tomou conta da extrema direita globalmente, da Itália a Israel, da Austrália aos Estados Unidos: em uma época de perigo incessante, os movimentos abertamente supremacistas nesses países querem transformar os seus Estados relativamente mais ricos em bunkers armados.
Tais bunkers são de fato brutais; eis que provém de uma determinação de expulsar e aprisionar os humanos indesejados – mesmo que isso exija confinamento indefinido de pessoas em colônias penais extranacionais, tais como existem na Ilha de Manus e na Baía de Guantánamo. Eles se mostram igualmente implacáveis em sua disposição de reivindicar violentamente a terra e os recursos (água, energia, minerais críticos) que consideram necessários para resistir às catástrofes que se aproximam.
Curiosamente, no momento em que as elites anteriormente seculares do Vale do Silício estão repentinamente encontrando Jesus, é digno de nota que ambas as visões – o estado corporativo para os privilegiados e a nação bunker que mantém ainda o mercado de massa – compartilham em comum a interpretação fundamentalista cristã do arrebatamento bíblico, momento em que os fiéis seriam supostamente elevados a uma cidade dourada no céu, enquanto os condenados seriam deixados na terra para suportar uma batalha final apocalíptica.
Portanto, ao se desejar estar à altura desse momento crítico na história, é preciso se certificar da realidade de que não se está enfrentando os mesmos adversários de antes. Está-se enfrentando o fascismo do fim dos tempos.
Refletindo sobre sua infância sob Mussolini, o romancista e filósofo Umberto Eco observou em um célebre ensaio que o fascismo normalmente tem um “complexo de Armagedom” – uma fixação no propósito de derrotar inimigos em uma grande batalha final. Mas o fascismo europeu das décadas de 1930 e 1940 também tinha um horizonte: uma visão de uma futura era de ouro após o banho de sangue que, para seu grupo corporativo, seria pacífica, pastoral e purificada. Hoje não.
3.
Atentos à presente era de genuíno perigo existencial – que vai do colapso climático à guerra nuclear, à desigualdade vertiginosa e à Inteligência Artificial não regulamentada –, mas financeira e ideologicamente comprometidos com o aprofundamento dessas ameaças, os movimentos contemporâneos de extrema direita carecem de qualquer visão sobre um futuro esperançoso. O eleitor médio recebe apenas remixes de um passado supostamente glorioso, ao lado dos prazeres sádicos do domínio sobre um conjunto cada vez maior de outras pessoas por eles desumanizadas.
E por isso que se vê a dedicação do governo Donald Trump em liberar um fluxo constante de propaganda, às vezes gerada por Inteligência Artificial, a qual parece projetada exclusivamente para esses fins pornográficos. Faz circular assim, por exemplo, imagens de imigrantes algemados sendo carregados em voos de deportação, ao som de correntes e algemas travadas. Ora, a conta oficial da Casa Branca na plataforma X rotulou essas imagens com a sigla “ASMR”, uma referência ao áudio projetado para acalmar o sistema nervoso.
Essa mesma conta compartilhou notícias da detenção de Mahmoud Khalil, um residente permanente dos EUA, que atuou no acampamento pró-palestino da Universidade de Columbia, com as palavras exultantes: “shalom, Mahmoud”. Também foi possível ver fotos sadistas-chiques da secretária de segurança interna Kristi Noem: ela postada em cima de um cavalo na fronteira EUA-México ou em frente a uma cela de prisão lotada em El Salvador; eis que ela tamb[em apareceu atirando com uma metralhadora enquanto prendia imigrantes no Arizona….
A ideologia governante da extrema direita tornou-se um sobrevivencialismo monstruoso e supremacista. Nossa tarefa é construir um movimento forte o suficiente para detê-los.
Ela se afigura, sim, aterrorizante em sua maldade. Mas também suscita e, assim, abre poderosas possibilidades de resistência. Pois, apostar contra o futuro desse modo – apostar que uns poucos sobreviverão bunkers – é trair, no nível mais básico, os deveres de uns com os outros, com as crianças que se ama e com todas as outras formas de vida com as quais se compartilha um lar planetário. Trata-se de um sistema de crenças genocida em sua essência, que trai a maravilha e a beleza deste mundo. É, portanto, de convencimento que se mais e mais pessoas entendem até que ponto a direita sucumbiu ao complexo do Armagedom, mais e mais gente estará dispostas a revidar, percebendo que absolutamente tudo está agora em jogo.
Tais ideólogos sabem muito bem que se está entrando em uma era de emergência, a qual respondem com delírios letais, mas egoístas. Tendo adotado fantasias sobre muros, sobre condomínios isolados e defendidos por segurança privada e tecnológica, eles estão optando por deixar a Terra queimar. A tarefa dos opositores é construir um movimento amplo e profundo, tão espiritual quanto político, forte o suficiente para deter esses traidores desequilibrados. Este deve ser um movimento enraizado em um compromisso solidário inabalável, que supera as muitas diferenças e divisões existentes e que quer salvar este planeta milagroso e singular.
Não faz muito tempo, eram principalmente os fundamentalistas religiosos que saudavam os sinais do apocalipse com alegre entusiasmo pelo tão esperado “arrebatamento”. Donald Trump fez postagens críticas para pessoas que subscrevem essa ortodoxia inflamada, incluindo vários sionistas cristãos que veem o uso da violência aniquiladora por Israel para expandir o território, não como atrocidades ilegais, mas como uma evidência feliz de que a Terra Santa está se aproximando das condições sob as quais o Messias retornará e os fiéis obterão seu reino celestial.
Mike Huckabee, o recém-confirmado embaixador de Trump em Israel, tem fortes laços com o sionismo cristão, assim como Pete Hegseth, seu secretário de Defesa. Noem e Russell Vought, o arquiteto do Projeto 2025 que agora lidera o escritório de orçamento e gestão, são defensores ferrenhos do nacionalismo cristão. Até Thiel, que é gay e notório por seu estilo de vida festeiro, foi ouvido refletindo sobre a chegada do anticristo ultimamente (a propósito, ele acha que Greta Thunberg é um sinal desse evento bíblico).
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Mas não é preciso ser um literalista bíblico, ou mesmo um religioso, para ser um fascista do fim dos tempos. Hoje, muitas pessoas seculares poderosas adotaram uma visão do futuro que segue um roteiro quase idêntico, no qual o mundo como é conhecido aqui e agora desmorona sob peso dos seus problemas e alguns poucos escolhidos sobrevivem e prosperam em vários tipos de arcas, bunkers e “cidades da liberdade” fechadas. Em um artigo publicado em 2019 e intitulado Left Behind: Future Fetishists, Prepping and the Abandonment of Earth (Deixados para trás: fetichistas do futuros, preparação e abandono da Terra), as estudiosas de comunicação Sarah T. Roberts e Mél Hogan apresentaram o anseio por um arrebatamento secular: “no imaginário aceleracionista” – escreveram –, o futuro não versa sobre redução de danos, limites ou restauração; em vez disso, visa uma política que leva o jogo ao seu fim.
Elon Musk, que aumentou drasticamente sua fortuna ao lado de Peter Thiel na plataforma PayPal, adotou esse etos implosivo. Trata-se de uma pessoa que olha para as maravilhas do céu noturno e vê aí, aparentemente, apenas oportunidades para preencher esse desconhecido com seu próprio lixo espacial. Embora ele tenha polido sua reputação no passado alertando sobre os perigos da crise climática e da Inteligência Artificial, agora, ele e seus auxiliares do chamado “departamento de eficiência governamental” (Doge) passam seus dias aumentando esses mesmos riscos; eis que estão cortando não apenas as regulamentações ambientais, mas também agências reguladoras inteiras, com o aparente objetivo final de substituir os funcionários federais por “chatbots”.
Quem precisa de um estado-nação funcional quando o espaço sideral – agora, supostamente, objetivo da obsessão singular de Elon Musk – lhe acena e faz promessas? Para Elon Musk, Marte se tornou uma arca secular, que ele afirma ser a chave para a sobrevivência da civilização humana, talvez por meio de consciências animadas por inteligência artificial. Kim Stanley Robinson, autor Elon da trilogia de ficção científica Mars, que parece ter inspirado parcialmente Musk, é franco sobre os perigos das fantasias do bilionário sobre a colonização de Marte. Trata-se – disse ele – “de apenas um risco moral que cria a ilusão de que se pode destruir a Terra e ainda assim ficar bem. Isso não se afigura como uma verdade”.
De modo muito parecido com os afetos dos religiosos do fim dos tempos que desejam escapar do reino corpóreo, o impulso de Elon Musk para que a humanidade se torne “multiplanetária” se torna possível por causa de sua incapacidade de apreciar o esplendor multiespécie de nosso único lar. Evidentemente desinteressado na vasta generosidade que o cerca, ou em garantir que a Terra possa continuar existindo com a sua diversidade, ele emprega sua vasta fortuna para criar um futuro imaginário. Nesse futuro, haveria apenas um punhado de pessoas sobreviventes e robôs, os quais se instalariam em dois orbes estéreis (uma Terra radicalmente esgotada e um Marte transforma em uma Nova Terra).
De fato, em uma estranha reviravolta no conto do Antigo Testamento, Elon Musk e seus colegas bilionários da tecnologia, havendo se arrogando poderes divinos, não se contentam em apenas construir as arcas. Eles parecem estar fazendo o possível para causar a inundação. Os líderes de direita de hoje e seus aliados ricos não estão apenas tirando proveito de catástrofes, doutrina de choque e estilo de capitalismo de desastre, mas, ao mesmo tempo, eles estão provocando tais ocorrências.
5.
Mas o que se passa, nesse entretempo, com a base popular da MAGA? Nem todos são suficientemente fiéis para acreditarem sinceramente em tal “arrebatamento”. Ademais, eles certamente não têm dinheiro para comprar um lugar em uma “cidade da liberdade” aqui na Terra e muito menos para adquirir um lugar num foguete que o leva para além da devastação. Que não temam! O fascismo do fim dos tempos oferece a promessa de muitas arcas e bunkers mais acessíveis, estes bem ao alcance de soldados de infantaria de nível inferior.
Ouça o podcast diário de Steve Bannon – que se autodenomina como o principal meio de divulgação da MAGA – e você será bombardeado com uma mensagem singular: o mundo está indo para o inferno, os infiéis estão rompendo as barricadas e uma batalha final está chegando. Esteja preparado. A mensagem de preparação torna-se particularmente pronunciada quando Bannon passa a vender os produtos de seus anunciantes.
Compre a aposentadoria do Birch Gold, Steve Bannon diz ao seu público, porque a economia americana superalavancada vai entrar em colapso e você não pode confiar nos bancos. Abasteça-se de refeições prontas do fornecedor My Patriot Supply. Aprimore sua prática de tiro ao alvo usando um sistema doméstico guiado a laser. A última coisa que você gostaria de fazer – ele lembra os seus ouvintes – é depender do governo durante um desastre.
O fascismo do fim dos tempos é um fatalismo sombrio e festivo – um refúgio final para aqueles que acham mais fácil celebrar a destruição do que imaginar viver sem supremacia.
Steve Bannon – é claro – não apenas exorta seu público a fazer seus próprios bunkers. Ele também avança uma visão dos Estados Unidos como um bunker por si só, no qual os agentes do ICE (agencia de imigração dos EUA) perseguem pessoas nas ruas, locais de trabalho e nos campi, desaparecendo com aqueles que são considerados inimigos da política e dos interesses dos EUA. Uma nação protegida está no centro da agenda da MAGA e do fascismo do fim dos tempos. Dentro de sua lógica, a primeira tarefa é endurecer as fronteiras nacionais e expurgar todos os inimigos, estrangeiros e mesmo os domésticos.
Esse trabalho horroso está agora em andamento, pois o governo de Donald Trump, habilitado pela Suprema Corte e tendo invocado a Lei de Inimigos Estrangeiros, está deportando centenas de imigrantes venezuelanos para Cecot, a infame mega-prisão que foi construída em El Salvador. A instalação, que raspa a cabeça dos prisioneiros e embala até 100 pessoas em uma única cela, opera sob um “estado de exceção” que é destruidor das liberdades civis. Este foi declarado pela primeira vez há mais de três anos pelo primeiro-ministro sionista cristão do país, Nayib Bukele.
Nayib Bukele se ofereceu para fornecer o mesmo sistema por meio do pagamento de uma taxa por serviço para cidadãos americanos que o governo gostaria de jogar em um buraco negro judicial. “Eu amo isso”, disse Donald Trump recentemente, quando questionado sobre a proposta. Não é de admirar: Cecot é o corolário doentio, embora lógico, da fantasia da “cidade da liberdade” – uma zona onde tudo está à venda e o devido processo legal não se aplica. Deve-se esperar muito mais desse sadismo. Em uma declaração assustadoramente sincera, o diretor interino do Ice, Todd Lyons, disse à Border Security Expo 2025 que queria ver uma abordagem mais orientada por “negócios” para essas deportações, “tal como [Amazon] Prime, mas com seres humanos”.
Se policiar as fronteiras da nação protegida é o trabalho do fascismo do fim dos tempos, igualmente importante vem a ser o trabalho macropolítico: é por isso que o governo dos EUA reivindica quaisquer recursos que seus cidadãos protegidos possam precisar para superar os tempos difíceis que virão. Ele pode ser o canal do Panamá. Ou as rotas marítimas produzidas pelo rápido derretimento da Groenlândia. Ou os minerais críticos da Ucrânia. Ou a água doce do Canadá.
Deve-se pensar nisso menos como imperialismo da velha escola do que como uma preparação superdimensionada, no nível do estado nacional. Longe vão as velhas folhas de figueira coloniais da disseminação da democracia ou da palavra de Deus – quando Donald Trump cobiçosamente examina o globo, ele está estocando recursos para o colapso civilizacional.
Essa mentalidade de bunker também ajuda a explicar as incursões controversas de J. D. Vance na teologia católica. O vice-presidente, que deve sua carreira política em grande parte à generosidade do preparador de piores cenários (prepper), Peter Thiel, explicou à Fox News que, de acordo com o conceito cristão medieval de ordo amoris (“ordem do amor” e “ordem da caridade”), o amor não é devido àqueles que estão fora do bunker: “Você ama sua família; você ama seu próximo; então, você ama sua comunidade e, enfim, você ama seus concidadãos em seu próprio país. Só então você pode se concentrar e priorizar o resto do mundo”. (Ou não, como a política externa do governo Trump parece que está indicando.) Em outras palavras, não se deve nada a ninguém fora do nosso bunker.
Embora se baseie em tendências duradouras de direita – justificar exclusões odiosas não é novidade sob o sol etnonacionalista – simplesmente não se enfrentou no passado uma tensão tão apocalíptica na condução do mundo. A arrogância do “fim da história” da era pós-Guerra Fria está sendo rapidamente suplantada pela convicção de que se está no fim dos tempos.
6.
O departamento conhecido como Doge pode levantar a bandeira da “eficiência” econômica; os subordinados de Musk podem evocar memórias dos jovens “Chicago Boys” treinados nos EUA, que projetaram a terapia de choque econômico para o regime ditatorial de Augusto Pinochet. Sim, mas isso não é simplesmente o velho casamento do neoliberalismo e do neoconservadorismo.
É uma nova mistura milenar de adoração ao dinheiro que diz que é preciso esmagar a burocracia e substituir humanos por chatbots para cortar “os desperdícios, as fraudes e os abuso”. Pois, é na burocracia onde se escondem supostamente os demônios que resistem a Donald Trump. Sobre essa questão se fundem os “techbros” e os “theoBros”, um grupo real de supremacistas cristãos hiperpatriarcais com laços com Hegseth e outras pessoas do governo de Donald Trump.
Como o fascismo sempre faz, o atual complexo do Armagedom cruza as fronteiras de classe, ligando bilionários à base dos adeptos da MAGA. Graças às décadas de aprofundamento das tensões econômicas, juntamente com mensagens incessantes e habilidosas, as quais colocam os trabalhadores uns contra os outros, muitas pessoas compreensivelmente se sentem incapazes de se proteger do processo de desintegração que as cerca.
Eis que há compensações emocionais estão sendo ofertadas: pode-se torcer pelo fim das ações afirmativas, pode-se glorificar a deportação em massa, pode-se desfrutar da negação das afirmações de gênero para pessoas trans, pode-se vilanizar educadores e profissionais de saúde que pensam que sabem muito de saúde, pode-se aplaudir o fim das regulamentações econômicas e ambientais. O fascismo do fim dos tempos é um fatalismo sombrio e festivo – um refúgio final para aqueles que acham mais fácil celebrar a destruição do que imaginar viver sem supremacia.
O movimento também se nutre de uma espiral descendente que se auto reforça: os ataques furiosos de Donald Trump a todas as estruturas projetadas para proteger o público de doenças, alimentos perigosos e desastres – até mesmo para dizer ao público que os desastres estão vindo em sua direção – fortalecem-no enquanto ação política tanto na extremidade alta quanto na baixa, ao mesmo tempo em que criam uma miríade de novas oportunidades de privatização e lucro pelos oligarcas que alimentam essa rápida destruição do estado social e regulatório.
No início do primeiro mandato de Donald Trump, a revista New Yorker investigou um fenômeno que descreveu como “preparação apocalíptica dos super ricos”. Naquela época, já estava claro no Vale do Silício e em Wall Street, que alguns estavam já se protegendo contra a perturbação climática e o colapso social comprando espaço em bunkers subterrâneos construídos sob medida e construindo casas de fuga em terrenos altos em lugares como o Havaí e a Nova Zelândia. No primeiro, Mark Zuckerberg construiu um bloco subterrâneo de 5.000 pés quadrados, o qual chamou de “pequeno bunker”; no segundo, Peter Thiel comprou quase 500 acres com planos de construir um complexo de sobrevivência de luxo, o qual foi rejeitado pelas autoridades locais por ser uma monstruosidade.
Esse milenarismo está ligado a um conjunto de outros modismos intelectuais imperantes no Vale do Silício, todos baseados em uma crença flexionada do fim dos tempos, segundo a qual o planeta Terra está caminhando para um cataclismo e que chegou a hora de fazer algumas escolhas difíceis sobre quais partes da humanidade podem ser salvas.
O transumanismo é uma dessas ideologias abrangentes que envolve desde pequenos “aprimoramentos” do complexo homem-máquina até a busca de um método para complementar a inteligência humana com inteligência – ainda ilusória – artificial geral. Há também uma espécie de altruísmo de longo prazo que ignora as abordagens redistributivas para ajudar os necessitados aqui e agora em favor de uma abordagem de custo-benefício para fazer o melhor a longo prazo.
Embora possam parecer benignas à primeira vista, essas ideias estão atravessadas por perigosos preconceitos raciais, capacitistas e de gênero sobre quais partes da humanidade vale a pena melhorar e salvar – e quais podem ser sacrificadas por um suposto bem maior. Eles também compartilham uma acentuada falta de interesse em enfrentar com urgência os fatores subjacentes ao colapso – uma meta responsável e racional que um grupo crescente de figuras agora evita ativamente. Em vez de altruísmo eficaz, Andreessen e outros adotaram o “aceleracionismo eficaz” ou ainda a “propulsão deliberada do desenvolvimento tecnológico” sem proteções.
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Enquanto isso, filosofias ainda mais sombrias estão encontrando um público mais amplo, como os discursos neorreacionários pró-monarquia do programador Curtis Yarvin (que comparece também como uma inspiração intelectual de Peter Thiel). Há, também, a obsessão do movimento “pró-natalismo” que visa aumentar drasticamente o número de bebês “ocidentais” (uma fixação de Elon Musk). Desponta, em adição, a visão do guru Srinivasan de uma São Francisco “sionista tecnológica”, onde leais corporativos e policiais unem forças para limpar politicamente a cidade de liberais para abrir caminho para um estado de apartheid em rede.
Como escreveram dois estudiosos da Inteligência Artificial, Timnit Gebru e Émile P Torres, embora os métodos possam ser novos, tais “pacotes” de modismos ideológicos “são descendentes diretos da eugenia da primeira onda”. Eis que nela também foi visto um pequeno subconjunto da humanidade tomando decisões sobre quais partes do todo valia a pena conservar e quais precisavam ser eliminadas. Até recentemente, poucos prestavam atenção. Muito parecido com o Próspera, onde os membros já podem experimentar fusões homem-máquina, como ter suas chaves Tesla implantadas em suas mãos, esses modismos intelectuais pareciam ser espantalhos de alguns diletantes com dinheiro e cautela para queimar. Agora, já não.
Três desenvolvimentos materiais recentes aceleraram o apelo apocalíptico do fascismo do fim dos tempos. A primeira é a crise climática. Embora algumas figuras de alto perfil ainda possam negar ou minimizar publicamente a ameaça, as elites globais, cujas propriedades e datacenters à beira-mar são intensamente vulneráveis ao aumento das temperaturas e da elevação do nível do mar, são bem versadas nos perigos ramificados de um mundo em constante aquecimento.
A segunda é a Covid-19: os modelos epidemiológicos há muito previam a possibilidade de uma pandemia vir devastar o mundo altamente conectado de hoje; a chegada real dessa pandemia foi tomada por muitas pessoas poderosas como um sinal de que chegara oficialmente aquilo que os analistas militares dos EUA previram sobre o rótulo de “Era das Consequências”. Eis que essa era deixou de ser previsão e se tornou realidade.
O terceiro fator é o rápido avanço e adoção da Inteligência Artificial, um conjunto de tecnologias que vem sendo há muito tempo associadas a filmes de terror criados pela ficção científica. Essas películas falam sobre máquinas que se voltam contra seus fabricantes com uma eficiência implacável. Elas expressam medos com mais força justamente pelas mesmas pessoas que estão desenvolvendo essas tecnologias. Todas essas crises existenciais se somam às crescentes tensões entre as potências com armas nucleares.
Nada disso deve ser descartado como mera paranoia. Muitos agora se sentem na iminência de um colapso e de forma tão aguda que chegam a assistir filmes sobre uma vida que se perpetua num bunker pós-apocalíptico. Ora, esse tipo de filme está sendo transmitido por canais da Apple e do Hulu. Como lembra o analista político do Reino Unido, Richard Seymour, em seu livro recente sobre o nacionalismo de desastre (Disaster Nationalism): “O apocalipse não é mera fantasia. Afinal, está-se vivendo nele, de vírus mortais à erosão do solo, da crise econômica ao caos geopolítico”.
Em resumo: as forças que se enfrenta agora fizeram as pazes com a morte em massa. Eles são traidores deste mundo e de seus habitantes humanos e não humanos. O projeto econômico de Trump 2.0 é um Frankenstein monstruoso que impulsiona todas essas ameaças, apoiando as indústrias de combustíveis fósseis, armas e criptomoedas e Inteligência Artificial famintas por recursos.
Ora, todos os envolvidos nesse caminho mortal sabem que não há como construir um mundo mantido e dominado por inteligência artificial –– eis que essa tecnologia consome muita energia, muitos minerais críticos e muita água, de tal modo que o mundo real e o projetado por ela não poderão coexistir em qualquer tipo de equilíbrio.
Agora mesmo, o ex-executivo do Google, Eric Schmidt, admitiu isso, dizendo ao Congresso dos EUA que as necessidades “profundas” de energia da Inteligência Artificial devem triplicar nos próximos anos. Assentiu, ademais, que grande parte dessa energia provirá de combustíveis fósseis, porque a energia nuclear não pode entrar em operação rápido o suficiente. Esse nível de consumo que incinera o planeta é necessário, explicou ele, para permitir à humanidade o acesso a uma inteligência “superior”, um deus digital que ressurge das cinzas de nosso mundo abandonado.
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E eles estão, sim, preocupados – mas não com as ameaças reais que estão sendo desencadeadas. O que mantém os líderes dessas indústrias emaranhadas acordados à noite é a perspectiva de um alerta civilizacional –, ou seja, esforços governamentais sérios e coordenados internacionalmente para controlar seus setores desonestos antes que seja tarde demais. Do ponto de vista de seus resultados financeiros em constante expansão, o apocalipse não consiste no colapso, mas vem a ser a regulamentação.
O fato de seus lucros serem baseados na devastação planetária ajuda a explicar por que o discurso do benfeitor entre os poderosos está dando lugar a expressões abertas de desdém pela ideia de que os humanos devem uns aos outros pelo fato de que a sua humanidade é compartilhada. O Vale do Silício não prospera por meio do altruísmo. Mark Zuckerberg, da Meta, anseia por uma cultura que celebra a “agressão”. Alex Karp, parceiro de negócios de Thiel na empresa de vigilância Palantir Technologies, repreende a “autoflagelação” “perdedora” daqueles que questionam a superioridade americana e os benefícios dos sistemas de armas autônomas.
Elon Musk informa ao entrevistador Joe Rogan que a empatia é “a fraqueza fundamental da civilização ocidental”. Ele também desabafou depois de não conseguir influir numa eleição para a Suprema Corte em Wisconsin: “Parece cada vez mais que a humanidade é uma infraestrutura (bootloader) biológica para a superinteligência digital”. O que significa que os humanos não são nada além de grãos para Grok, o serviço de Inteligência Artificial que ele possui.
Ele disse também que e Era MAGA será sombria” – e ele não foi o único. Na Espanha árida e estressada pelo clima, um dos grupos que pedem uma moratória sobre novos datacenters se autodenomina Tu Nube Seca Mi Río – ou seja, “a sua nuvem seca o meu rio”. O nome é adequado e não apenas na Espanha.
Uma escolha indescritivelmente sombria está sendo feita diante dos olhos de todos e sem qualquer consentimento: impõe-se máquinas sobre humanos, seres inanimados sobre animados, em nome dos lucros acima de tudo. Com uma velocidade impressionante, os megalomaníacos da grande tecnologia silenciosamente reverteram suas promessas de zero líquido de emissões carbônicas e se alinharam ao lado de Donald Trump, determinados a sacrificar os recursos reais e preciosos e a criatividade deste mundo no altar de um reino virtual vampírico.
Está-se diante do último grande assalto. E eles estão se preparando para enfrentar as tempestades que eles mesmos estão convocando – ademais, eles tentarão difamar e destruir qualquer um que ficar em seu caminho. Considere a recente estada de Vance na Europa, onde o vice-presidente arengou os líderes mundiais por “se preocuparem com a segurança” ao invés da Inteligência Artificial destruidora de empregos, enquanto exigia que o discurso nazista e fascista não fosse restringido online. A certa altura, ele fez uma revelação à parte, esperando uma risada que nunca veio: “Se a democracia americana pode sobreviver a dez anos de repreensão de Greta Thunberg, os senhores podem sobreviver a alguns meses de Elon Musk”.
O seu comentário ecoou os feitos por seu patrono igualmente sem humor, Peter Thiel. Em entrevistas recentes focadas nos fundamentos teológicos de sua política de extrema-direita, o bilionário cristão comparou repetidamente a incansável jovem ativista ao anticristo – uma figura, adverte, que foi profetizada para vir com uma mensagem enganosa de “paz e segurança”. “Se Greta for capaz de fazer com que todos no planeta andem de bicicleta, talvez ela consiga uma maneira de resolver o problema das mudanças climáticas; assim, porém, ela levaria o que está na frigideira para o fogo”, entoou Thiel.
Por que Greta Thunberg, por que agora? Em parte, é claramente o medo apocalíptico de que a regulamentação possa corroer os seus superlucros: de acordo com Thiel, a ação climática baseada na ciência, que Thunberg e outros exigem, só poderia ser aplicada por um “estado totalitário”. Ora, ele afirma que está seria uma ameaça mais terrível do que o colapso climático (o mais angustiante é que os impostos sob tais condições seriam “bastante altos”).
Também pode haver algo mais sobre Greta Thunberg que os assusta: seu compromisso inabalável com este planeta e as muitas formas de vida que o tomam como um lar – não aqueles das simulações deste mundo geradas por Inteligência Artificial. Não, ademais, com um mundo hierarquizado daqueles que merecem a vida e daqueles que devem ser sacrificados. Não também com qualquer uma das várias fantasias de fuga extraplanetárias que os fascistas do fim dos tempos estão vendendo.
Greta está empenhada em permanecer na Terra, enquanto os fascistas do fim dos tempos, pelo menos em suas imaginações, já deixaram este reino, julgado-se abrigados em seus bunkers opulentos ou até mesmo vivendo no éter digital ou em Marte. Logo após a reeleição de Donald Trump, uma das autoras desse artigo teve a oportunidade de entrevistar Anohni, um dos poucos músicos que tentaram fazer arte capaz de cobrir a pulsão de morte que tomou conta do nosso mundo. Questionada sobre o que conecta a disposição de pessoas poderosas de deixar o planeta queimar e o impulso de negar autonomia corporal a mulheres e pessoas trans como ela, ela respondeu baseando-se em sua educação católica irlandesa: é “um mito de longa data que está sendo promulgado e incorporado. Este é o ponto culminante de um arrebatamento. Esta é a sua fuga do ciclo voluptuoso da criação. Esta é a fuga deles da mãe”.
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Como seria possível quebrar essa febre apocalíptica? Primeiro, por meio da ajuda de uns aos outros, enfrentando assim essa profunda depravação que tomou conta da extrema direita em todos os nossos países. Para avançar com foco, é preciso primeiro entender este simples fato: está-se a enfrentar uma ideologia que desistiu não apenas da promessa da democracia liberal, mas da habitabilidade do mundo compartilhado – de sua beleza, de seu povo, de seus filhos e de outras espécies.
As forças que se enfrenta agora fizeram as pazes com a morte em massa. Eles são traidores deste mundo e de seus habitantes humanos e não humanos.
Em segundo lugar, é preciso contrapor às narrativas apocalípticas com uma história muito melhor sobre como sobreviver aos tempos difíceis que estão por vir, sem deixar, ademais, ninguém para trás. É preciso contar uma história capaz de drenar o fascismo do fim dos tempos de seu poder gótico e galvanizar um movimento pronto para colocar tudo em risco para nossa sobrevivência coletiva. Uma história não do fim dos tempos, mas de tempos melhores; não de separação e supremacia, mas de interdependência e pertencimento; não de encontrar um escape mágico, mas de permanecer parado e permanecer fiel à conturbada realidade terrena em que todos estão enredados e presos.
Esse sentimento básico, é claro, não é novo. É central nas cosmologias indígenas e está no cerne do animismo. Voltando o suficiente, vê-se que cada cultura e fé tem a sua própria tradição de respeitar a santidade do meio existente – e não buscar Sião em uma terra prometida cada vez mais distante. Na Europa Oriental, antes das aniquilações fascistas e stalinistas, o trabalhismo socialista judeu se organizou em torno do conceito iídiche de Doikayt, ou do aqui e agora (hereness).
Molly Crabapple, que escreveu um livro sobre essa história negligenciada, define Doikayt como o direito de “lutar pela liberdade e segurança nos lugares onde se vive, desafiando todos que os queriam a sua morte”. Isso é melhor do que lutar para fugir da desolação na Palestina ou nos Estados Unidos.
Talvez o que seja necessário seja uma universalização moderna desse conceito: um compromisso com o direito ao “aqui e agora” (hereness) deste planeta doente em particular. É preciso dar a esses corpos frágeis o direito de viver com dignidade onde quer que estejam no planeta, mesmo quando os choques inevitáveis forçam um movimento. O “aqui e agora” aludido pode ser venturoso, livre de nacionalismo, enraizado na solidariedade, respeitoso dos direitos indígenas e sem fronteiras.
Esse futuro exigiria o seu próprio apocalipse, ou seja, o seu próprio fim do mundo e revelação, embora de um tipo muito diferente. Porque, como observou a estudiosa do policiamento Robyn Maynard: “Para tornar possível a sobrevivência planetária na Terra, algumas versões deste mundo precisam acabar”.
Os humanos chegaram agora a um ponto de escolha, não sobre se estão enfrentando o apocalipse, mas sobre a forma que ele assumirá. As irmãs ativistas Adrienne Maree e Autumn Brown tocaram nisso recentemente em seu podcast apropriadamente chamado, “como sobreviver ao fim do mundo”. Neste momento, quando o fascismo do fim dos tempos está travando uma guerra em todas as frentes, novas alianças são essenciais. Mas em vez de perguntar: “Todos nós compartilhamos a mesma visão de mundo?” Adrienne nos exorta a perguntar: “Seu coração está batendo e você planeja viver? Então venha por aqui e descobriremos juntos o que está além do desastre”.
Para ter a esperança de combater os fascistas do fim dos tempos, com seus círculos concêntricos sempre constritivos e asfixiantes de “amor hierarquizado”, é necessário construir um movimento indisciplinado e de coração aberto dos fiéis amantes da Terra: fiéis a este planeta, aos seus povos, às suas criaturas e à possibilidade de um futuro habitável para todos nós. Fiel ao aqui e ao agora. Ou, para citar Anohni novamente, desta vez referindo-se à deusa na qual ela agora deposita sua fé: “Você parou para considerar que essa pode ter sido a sua melhor ideia?”
Naomi Klein é jornalista e ativista. Autora, entre outros livros, de A doutrina do choque: a ascensão do capitalismo do desastre (Nova Fronteira).
Astra Taylor é documentarista, escritora e ativista. Autora, entre outros livros, de The age of insecurity: coming together as things fall apart (House of Anansi Press). [https://amzn.to/3YF450R]
Tradução: Eleutério F. S. Prado.
Publicado originalmente no jornal The Guardian.
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