Malvinas: a nova ofensiva argentina

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Disposta a recuperar o território que o Reino Unido controla por meios militares, Christina Kirchner lança ofensiva diplomática e denuncia nuclearização do Atlântico Sul

Por Mauricio Santoro, em seu blog

Em abril completam-se 30 anos da guerra das Malvinas e o aniversário é marcado por uma série de tensões entre Argentina e Reino Unido, sobretudo em termos da nova importância econômica das ilhas, e de como as disputas sobre esse território ajudam governos em dificuldades domésticas.

As Malvinas eram desabitadas quando foram descobertas pelo holandeses e nas lutas entre potências coloniais, acabaram com a Espanha, e depois com a Argentina. Em 1833 foram invadidas pelo império britânico, como parte de uma rede de apoio para rotas de navegação no Atlântico Sul. Os diversos governos argentinos nunca abandonaram a demanda pela soberania das Malvinas – no que, aliás, sempre contaram com as autoridades brasileiras, da Regência à presidente Dilma Rousseff. Mas era uma luta por nacionalismo e integridade do território, fortalecida a partir das décadas de 1930-1940, quando a aliança com britânicos começou a ser questionada com vigor na Argentina. À época da guerra, em 1982, a principal atividade das ilhas era a criação de carneiros.

Argentina e Reino Unido permaneceram de relações diplomáticas cortadas durante a década de 1980 (o famoso gol de mão de Maradona contra a seleção inglesa na Copa de 1986 se deu nesse contexto), e elas só foram retomadas sob a presidência de Carlos Menem. Sua política para as Malvinas foi o chamado “guarda-chuva da soberania”, pela qual esse tema não era discutido, mas se buscava cooperação em outros assuntos, como a permissão para veteranos de guerra e seus parentes poderem visitar as ilhas, chorar seus mortos nos campos de batalha e nos cemitérios militares. Situação belamente mostrada no filme argentino Iluminados pelo Fogo (abaixo). O chanceler de Menem, Guido de Tella, enviava anualmente presentes de Natal para os poucos milhares de habitantes das ilhas, conhecidos como kelpers, que apreciaram seu gesto.

A ascensão dos Kirchner, na década de 2000, significou também o retorno de um intenso nacionalismo à vida política argentina, que encontrou nova expressão em conflitos por território e por exploração de recursos naturais. Isso significou o recrudescimento das disputas com relação às Malvinas, mas também explica muito dos choques com o Uruguai pela construção de fábricas de celulose à beira do rio que divide os dois países. A descoberta de reservas de petróleo e gás nas ilhas e a alta no preço dos hidrocarbonetos aguçaram ainda mais os embates com os britânicos, com frisei em artigo que escrevi no aniversário de 25 anos da guerra. Conta também a importância das Malvinas para a exploração da Antártida, tema que cresce em relevância.

Os britânicos reagiram com sua arma de mídia: enviaram o príncipe William, segundo na sucessão do trono, para passar algumas semanas nas ilhas (foto acima) e levar junto a atenção da imprensa. Algo parecido havia sido feito com seu irmão caçula no Afeganistão. O Reino Unido também despachou um navio de guerra e talvez tenha feito o mesmo com um submarino armado com mísseis nucleares. São gestos simbólicos, que tentam demonstrar uma capacidade de poder global que dificilmente a combalida economia britância teria como sustentar, em particular depois dos enormes gastos da intervenção na Líbia.

A estratégia argentina tem sido a de criar obstáculos para os britânicos na ONU, denunciando a permanência de sua posse das Malvinas como uma situação colonial, e criticando o que chamam de militarização dos recursos naturais do Atlântico Sul. O Reino Unido afirma que não se pode abandonar o direito de autodeterminação dos kelpers e o primeiro-ministro David Cameron chegou a afirmar que colonialistas são os argentinos. Poderia ser pensada algum tipo de solução como a de Hong Kong, com a manutenção de grande autonomia para as ilhas, cidadania dupla aos kelpers ou saídas semelhantes, mas no momento não há disposição para diálogos.

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4 comentários para "Malvinas: a nova ofensiva argentina"

  1. Pires disse:

    Quase 180 anos passados não se pode falar em colonialismo, está muito bem claro os interesses que estão em jogo, a Argentina resolveu manifestar-se justo agora, após 30 anos após o mal-sucedido ataque oportunista. Os britânicos tem legitimidade soberana sobre as Falkland Islands. Leiam e pesquisem a história.

  2. Eduardo disse:

    Não vejo por quê o Brasil deveria tomar maiores ações nesta questão. Se o problema último das Malvinas é o colonialismo, não faria qualquer sentido substituir um colonizador pelo outro. E dizer que o Itamaraty é incapaz é negar toda a atuação brasileira nesta última década, desde o Haiti até o Irã.

  3. Ricardo Moura disse:

    Essa suposição é realmente utópica. Há dois ingredientes nessa sopa que não conseguem ser misturados – dá dor de barriga na certa. O primeiro é a o ego argentino, imensamente grande e capaz de cegá-los completamente. o segundo é a total falta de capacidade do Itamaraty de se interpor às grandes potências, salvo é claro algumas pequenas pendengas travadas na ONU sobre laranjas e cupuaçu. É o legado de Celso Amorim seguido por Patriota.
    Mas, como diria o velho chavão: Quem tem …, tem medo!!!!

  4. Daniel Rocha disse:

    As ilhas Malvinas deveriam ser disputadas tambem pelo Brasil. Um acordo Argentina-Brasil, na administração das ilhas , daria força suficiente para enfrentar o colonialismo britanico tanto a nivel de poder economico quanto a nivel militar e diplomatico. O Brasil tem força internacional que a Argentina não tem. Uma administração Argentina -Brasil das ilhas seria a melhor solução. Sozinha a Argentina não tem a menor chance de recuperar as ilhas. Ela precisa do Brasil. E os dois paises fariam das Malvinas um administração conjunta, exploração economica conjunta e uma imigração de argentinos e brasileiros para ocupar as ilhas.

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