Pós-capitalismo na pós-modernidade

.

Num texto provocador, Ladislau Dowbor sugere: já é possível substituir o individualismo e a competição, bases do capitalismo, pelo Paradigma da Colaboração

A pós-modernidade pode ser, também, o tempo do pós-capitalismo. Impulsionado pela própria globalização, o paradigma da colaboração está se impondo e mostrando suas imensas vantagens sobre o individualismo e a competição de todos contra todos, que marcaram os últimos séculos. A superação do sistema hegemônico, contudo, não virá por meio da estatização — mas de decisões políticas que liberem, pouco a pouco, as potencialidades da nova forma de produzir. Inovadoras e polêmicas, essas três hipóteses marcam O Paradigma da colaboração, artigo de Ladislau Dowbor que inaugura hoje o Caderno Brasil de Le Monde Diplomatique.

O texto é um capítulo de Democracia Econômica: um passeio pelas teorias, o livro que Ladislau acaba de publicar, pela editora do Banco do Nordeste do Brasil. Segundo o autor, dois fatores estão erodindo rapidamente as bases do antigo paradigma. De um lado, há múltiplos sinais de que o “progresso”, nas bases atuais — que estimulam cada indivíduo a ver, antes de tudo, seus próprios interesses –, coloca em risco a própria sobrevivência do planeta. De outro, surgem tendências materiais (entre outras, a economia baseada no saber e a conectividade) que estimulam a colaboração e comprovam sua superioridade. As comunidades de software livre estão superando, em muitos terrenos, o desenvolvimento de programas sob a lógica da propriedade intelectual e das patentes. A Wikipedia tornou-se um símbolo das possibilidades de inteligência coletiva.

Limites e potência do novo padrão: Ladislau aponta que a força do novo padrão está obrigando as próprias empresas capitalistas a adotá-lo: elas reduzem rapidamente o leque e o peso de suas hierarquias e dão corda a equipes de trabalho movidas por princípios de horizontalidade. O artigo ressalva, porém, que o caminho para uma mudança além da superfície será duro. “A sociedade, como um todo, ainda é dominada pelo paradigma da ‘guerra econômica global’. (…) A visão da luta pela sobrevivência do mais apto está, sem dúvida, generalizada. Impregna a escola com as suas lutas pelo primeiro lugar ou a melhor nota, a competição pela sobrevivência que representa o vestibular. Aparece em cada programa de televisão. A idéia é ‘vencer’ os outros, ainda que a batalha seja fútil e os resultados, ruins para todos”.

A oportunidade, contudo, está aberta, aposta Ladislau. Graças às novas tendências, a mudança de paradigmas — “que, em épocas mais antigas, teria exigido centenas de anos” — é pelo menos possível. A transformação tem um forte viés cultural. “A colaboração para criar coisas novas ou simplesmente úteis é uma das fontes mais importates de prazer (…). O paradigma da colaboração, além de constituir uma visão ética e de materializar valores das pessoas que querem gozar uma vida agradável e trabalhar de maneira inteligente e útil — em vez de ter de matar um leão por dia — constitui hoje bom senso econômico em termos de resultados para o conjunto da sociedade” .

Nosso dossiê:

No Le Monde Diplomatique:

> Em nossa Biblioteca Virtual, pastas sobre Crise do Cientificismo e do Desenvolvimentismo, Opção pelo Decrescimento, Cooperativismo, Economia Social e Solidária e Alternativas ao modo de vida ocidental.

Outras fontes:

> Ladislau Dowbor mantém um site constantemente atualizado, com textos, livros, palestras, vídeos, indicações de leitura. Todo o material disponível pode ser reproduzido, segundo os princípios do copyleft. O livro Democracia Econômica, por exemplo, pode ser baixado, na íntegra (formato “rtf”), aqui.

Leia Também: