A guerra contra Lula: como se fabrica uma "entrevista"

Até o advogado de Marcos Valério confirmou que o suposto diálogo de seu cliente com “Veja” jamais existiu. Mesmo assim, ele foi transformado em “verdade” por alguns dos colunistas mais prestigiados pela velha mídia

Por Marco Aurélio Weissheimer, na Carta Maior

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Até o advogado de Marcos Valério confirmou que o suposto diálogo de seu cliente com “Veja” jamais existiu. Mesmo assim, ele foi transformado em “verdade” por alguns dos colunistas mais prestigiados pela velha mídia

Por Marco Aurélio Weissheimer, na Carta Maior

A revista Veja publicou neste final de semana mais uma de suas bombásticas “denúncias” contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva: “Marcos Valério envolve Lula no mensalão”, diz a publicação. Quase que imediatamente, os colunistas políticos de sempre passaram a reproduzir a “informação” da revista. Cristiana Lôbo tuitou sábado à tarde: “Está instalada a polêmica sobre entrevista de Marcos Valério à Veja. Diz que Lula sabia e que PT deu garantias de punição branda por silêncio”. Detalhe: não havia nenhuma “entrevista de Marcos Valério” na revista. E a própria Veja dizia isso: a reportagem foi “feita com base em revelações de parentes, amigos e associados”.

O jornalista Ricardo Noblat foi outro que passou a tarde de sábado repercutindo a “denúncia” da revista. Ainda no sábado veio o desmentido do advogado de Valério: “O Marcos Valério não dá entrevistas desde 2005 e confirmou para mim hoje que não deu entrevista para a Veja e também não confirma o conteúdo da matéria”, disse Marcelo Leonardo. Noblat não seu deu por vencido e, pelo twitter, reclamou dos termos do desmentido: “O advogado de Valério diz que seu cliente não confirma as informações publicadas pela Veja. Por que não disse que Valério as desmente?”. Entusiasmado, o imortal Merval Pereira (O Globo) afirmou em um artigo intitulado “Valério acusa Lula”: “os estragos políticos são devastadores, e nada impede que uma denúncia seja feita contra Lula mais adiante”. Merval não mencionou o desmentido oficial do advogado de Valério.

A tese do “domínio final do fato”

A Folha de S.Paulo correu para dar voz a José Serra que classificou as “denúncias” como graves e defendeu a abertura de investigações. Merval Pereira, fazendo as vezes de jurista, manifestou esperança na tese do “domínio final do fato”, que levou o Procurador- geral Roberto Gurgel a acusar José Dirceu como “o chefe da quadrilha do mensalão”. O jornalista de O Globo escreveu: “Alguns ministros do Supremo deixaram escapar, no início do julgamento, que pela tese do domínio final do fato, se a cadeia de comando não terminasse no ex-ministro José Dirceu, teria forçosamente que subir um patamar e atingir o ex-presidente Lula”.

Já o colunista político Fernando Rodrigues, da Folha de S.Paulo preferiu explorar as possíveis consequências políticas da matéria nas eleições municipais deste ano. Ele escreveu sábado em seu blog: “Do ponto de vista jurídico, o efeito pode ser nulo. O processo do mensalão está em fase de julgamento e não serão mais acrescentadas provas. Do ponto de vista político, a reportagem da revista Veja desta semana pode ter grande impacto na reta final das eleições municipais, sobretudo nas grandes cidades nas quais o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem interesse direto, junto com o PT, em garantir vitórias para alavancar a sigla em 2014”.

Merval: “nada impede uma nova denúncia”

Mais uma vez, o circuito da “informação” funcionou e o assunto ganhou ampla repercussão pelos “formadores de opinião” de plantão. O funcionamento desse circuito é um tanto peculiar. Denúncias com base factual muito forte, como aquelas relacionadas às ligações do bicheiro Carlinhos Cachoeira com a revista Veja, são solenemente ignoradas. Qualquer denúncia publicada pela revista Carta Capital recebe o mesmo tratamento silencioso. Mas qualquer denúncia da Veja é rapidamente repercutida. Os jornalistas citados acima sequer se dão ao trabalho de dar alguma justificativa para esse comportamento seletivo. Ele parece estar inserido, para usar a tese cara a Merval Pereira no “domínio final dos fatos”. Mas essas observações, é claro, são carregadas de uma certa ingenuidade. Não há razões para supresas nem espantos quanto ao funcionamento desse mecanismo de repercussões.

O artigo de Merval Pereira não deixa nenhuma dúvida sobre o que seria esse “domínio final dos fatos”, ou melhor, quem seria: Luiz Inácio Lula da Silva. O site Brasil 247 afirmou, na tarde de domingo, em texto intitulado “Globo antecipa próxima etapa do golpe contra Lula”: “No seu artigo deste domingo, Merval Pereira toma como verdade a “entrevista” de Veja com Marcos Valério, já negada pelo publicitário, e avisa: ‘Nada impede que uma nova denúncia seja feita mais adiante’. Ou seja: com alguns companheiros condenados e outros presos, Lula terá uma espada no pescoço”. Em outra matéria (“Civita deflagra operação para colocar Lula na cadeia”), o Brasil247 sustentou que o objetivo da Veja é transformar Lula em réu no STF e impedir que ele volte à concorrer à Presidência da República.

Cristiana Lôbo pede explicações a Noblat

No início da noite de domingo, Cristiana Lôbo pediu a Ricardo Noblat, mais uma vez pelo twitter, para que ele explicasse em que pé estava o assunto: “Passei o fim de semana em Goiânia e não entendo mais a polêmica sobre a não entrevista de M. Valério. Você pode me explicar @BlogdoNoblat ?” E Noblat explicou do seguinte modo (em três tuitadas sucessivas), introduzindo uma novidade, a existência de uma suposta gravação com Marcos Valério: “Veja entrevistou Valério. O advogado dele foi contra. Combinou-se de apresentar a entrevista como conversas de Valério com outras pessoas. E assim saiu a matéria. Ocorre que o advogado de Valério desmentiu que ele tivesse dito o que a Veja publicou. Aí ficou parecendo que a Veja teria inventado coisas e atribuído a Valério. Por isso a direção da revista decide se divulga a fita”.

Do ponto de vista político, a pauta da Veja, já devidamente abraçada pela oposição ao governo Dilma, parece ter um objetivo muito claramente definido. No momento em que Lula começa a voltar aos palanques, nas campanhas das eleições municipais, e em que o STF começará a julgar os réus do chamado “núcleo político do mensalão”, a tentativa é de colar uma coisa na outra. No final da noite de domingo, o Brasil 247 publicou a seguinte síntese sobre o caso, deixando um conselho para o ex-presidente Lula: “No momento em que retorna aos palanques, Lula é alvo de uma tentativa de golpe preventivo. O recado que os opositores transmitem é: “se voltar levará chumbo”. Diante do ataque organizado, o ex-presidente só tem uma alternativa, que é lutar para não ser devorado pelos adversários”.

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14 comentários para "A guerra contra Lula: como se fabrica uma "entrevista""

  1. Digamos que a revista Veja mentiu e isso é grave, mas o Lula mente sempre e isso é gravíssimo! Fosse esse macunaíma político nos EUA já teria sido abduzido e olhe que eles não perdoam gente the estirpe de Lincoln e Kennedy.

  2. Rafael disse:

    Assistindo um programa sobre o Fernando Collor, tipo ascenção e queda, constata-se que no esquema armado por ele e PC Farias, aparece um intermediário comum ao mensalão, o Banco Rural. Parece que o PT copiou, como copiou quase tudo do FHC, a mesma sistemática do FCollor. Tem que ser muito ingênuo para achar que o Lula não sabia de nada e que o PT já não tenha escolhido os “bois de piranha” caso o esquema fosse descoberto. Se até o Gilmar Mendes reclamou do assédio do Lula, o que não poderá ter acontecido com os diretamente envolvidos?

  3. Jane Rodrigues disse:

    Que a Veja está desacreditada todo mundo sabe, mas o que dá náuseas é ver os baluartes da imprensa brasileira sairem repercutindo o que está naquelas páginas, Na faculdade eles ensinam que temos que checar fontes, ouvir todos os lados implicados na notícia, ser “imparcial”, buscar a verdade…. e por aí vai!!!! Esta matéria deveria ter como título : “A negação do jornalismo” ou “Lições de como não fazer jornalismo sério”.

  4. Vera De Paula disse:

    Também lí muito a Veja , mas esse hábito de o tempo todo estar contra o Lula e fazer de tudo para desacreditá-lo, só pode ser parcialidade e isso não é o trabalho de uma imprensa séria , O Lula é e sempre será respeitado, coisa que muito político que já foi presidente não é e isso incomoda, mas quem tem capacidade de pensar pela própria cabeça não se deixará iludir por calúnias sem fundamento.Força Lula..

  5. O que podemos esperar de uma revista que vive dos favores de um grupo político senão a defesa dos interesses do grupo que a protege? Compromisso com a verdade , só quando esta lhe é conveniente, caso contrário…

  6. Abaixo a Veja!! Viva o Lula!!

  7. Parei de ler Veja em 1983. Aliás, eu assinava. Mandei parar. Naquela época, Mino Carta, Jânio de Freitas já estavam no escanteio. Aí, larguei.

  8. E tem gente que acredita na VEJA.
    INVENTAR uma entrevista……é o fim the picada.

  9. Anônimo disse:

    Cláudia Mello
    Veja não é nada, concordo? Lula será o novo messias? Fala sério.

  10. Ué!.. Quer dizer então que as provas da Polícia Federal, Ministério Público, mais a comprovação nos autos de desvios de dinheiro público, lavagem de dinheiro e corrupção aplicada pelo STF é tudo invenção da mídia? Ah, tá!.. Sei!..

  11. Roberto Galo Forte disse:

    Nos bons tempos o seu partido já teria entrado na justiça pedindo reparação, como não sabem o conteudo das provas, fica calado procurando uma maneira de evitar que ele solte os cachorros.

  12. Veja???? :/ O que é isso????

  13. A Veja mentiu? E, em reta final de eleicoes? E, com potencial de prejudicar o PT e o Lula? Estou chocadooooooooo. Considerava essa revista em altissima conta…

  14. A "boa e velha" mídia brasileira…

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