Cheiro de pólvora na eleição de Bolsonaro

Site denuncia ligações de Jair e seus filhos com lobby armamentista e fundos bilionários dos EUA. História começou em 2012 e avança até hoje. Financiamento da campanha seria pago com facilitação da entrada de armas no Brasil

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Por Henrique Rodrigues na Revista Fórum

Um site editado por pesquisadores da área de Ciência Humanas dos EUA, o Seeing Red Nebraska, que aborda assuntos relacionados à política armamentista norte-americana e outros temas vinculados aos Direitos Humanos, publicou um artigo no qual apresenta as ligações da família Bolsonaro com associações de armas daquele país, tendo como fonte uma pesquisa que remonta tanto os anos anteriores à corrida presidencial brasileira de 2018 quanto o período do último pleito, para mostrar que a campanha que levou o líder radical ao Palácio do Planalto pode ter sido financiada pelo lobby da indústria bélica local e por um fundo de investidores de Boston, com quem o clã político de extrema direita manteve reuniões.

No extenso artigo, assim como em outros relacionados à investigação, os autores mostram a associação dos filhos de Bolsonaro, Carlos e Eduardo, com figuras conhecidas do meio armamentista, como os brasileiros Yves Souza e Tony Eduardo, que segundo a publicação são parte da direção de um clube de tiro chamado 88 Tactical, localizado em Omaha, Nebraska, conhecido popularmente por seu apoio não tão velado ao nazismo (o próprio “88” do nome é uma referência, pela ordem do alfabeto, a “HH”, a sigla que remete à saudação nazista Heil Hitler).

Tony é o dono do Clube de Tiro .38, com sede em São José (SC), que se notabilizou por ser o local em que Adélio Bispo, o autor da facada dada em Jair Bolsonaro em setembro de 2018, treinou. O clube também é frequentado com assiduidade por Carlos e Eduardo Bolsonaro. Entre outras figuras arroladas no levantamento do Seeing Red Nebraska aparecem Royce Gracie, lutador de jiu-jitsu muito prestigiado nos EUA e que dá treinamento para diversas unidades de elite das polícias norte-americanas, e John Bailey, diretor da NRA (National Rifle Association), a poderosa associação que congrega os principais financiadores do lobby pró-armas dos EUA.

O artigo relata reuniões e encontros que tiveram início em 2012 e que seguiram acontecendo em 2015, 2016 e 2017, inclusive no período em que a NRA dava suporte financeiro à campanha presidencial de Donald Trump e a um partido de extrema direita da Austrália, o One Nation, que viria a disputar o pleito de 2019. A promessa, no caso dos australianos, era de que, em caso de vitória, as leis contra a proliferação de armas seriam afrouxadas na nação da Oceania, algo semelhante ao que caberia ao clã Bolsonaro aqui no Brasil, alega o Seeing Red Nebraska.

As confirmações de reuniões com Gracie e com chefões da NRA foram todas extraídas das redes sociais dos próprios rebentos do homem que se tornaria futuro presidente da República. O site mostra ainda, por meio de uma cronologia que bate com as publicações de Carlos e Eduardo, que após esses encontros em que a indústria de armas dos EUA impunha sua sanha pelo mercado brasileiro, em 2017, Eduardo realizou até uma manifestação em São Paulo contra o Estatuto do Desarmamento, prometendo uma suspensão total ou parcial da legislação restritiva em caso de vitória do pai nas urnas.

Por fim, o Seeing Red Nebraska mostra que ainda em 2017, quando Jair Bolsonaro tentava construir uma rede de apoio para sua campanha eleitoral à presidência, o clã político completo (pai e os três filhos com mandato) reuniu-se com um grupo bilionário de investidores de Boston, a MFS Investment Management. A visita para passar o chapéu no robusto grupo econômico do estado de Massachussetts rendeu até uma foto dos quatro, em trajes elegantes, na porta da sede da empresa, com a seguinte legenda no perfil do Instagram do então deputado estadual Flávio Bolsonaro:

“Esta manhã nos reunimos com três grandes fundos de investimento em Boston. Excelentes reuniões para mostrar ao mercado o verdadeiro Bolsonaro, e não o monstro que grande parte da mídia quer que ele pareça ser.”

No entanto, a desculpa de divulgar o pai para investidores não parece ter sentido, já que a MFS Investment Management não mantinha negócios no Brasil à época. Apenas três anos depois ela firmou uma parceria com o Banco BTG-Pactual para lançar produtos voltados ao público investidor daqui.

A cronologia detalhada do Seeing Red Nebraska induz a uma clara intenção da família política extremista brasileira em arranjar padrinhos econômicos para a empreitada eleitoral que viria no ano seguinte e da qual Jair Bolsonaro sairia vitorioso. Já a liberação desenfreada das armas (inclusive com importações que não param de crescer) que ocorreu no Brasil desde a posse do extremista de direita seria o “pagamento” pelos pactos pré-eleição.

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