As sextas-feiras para pensar (e mudar) o futuro

Em mais de 106 países, jovens aderem ao “Fridays for Future” e paralisam as atividades escolares mensal ou semanalmente. Com olhares renovados, eles querem participar da vida pública e discutir estratégias para preservar o meio ambiente – e construir um outro mundo

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Por Carlo Petrini | Tradução: Moisés Sbardelotto, no Ecodebate

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Uma vasta galeria de fotos, sobre as mais de 1700 ações contra a crise climática, pode ser encontrada aqui.

Em uma época de fronteiras a defender, mobilizamo-nos para dizer que as fronteiras não existem e que os problemas do mundo são os problemas de cada um. Em uma época de individualismo e de concorrência, mobilizamo-nos para afirmar que somente cooperando podemos sair do impasse. Em uma época de medo e de fechamento, mobilizamo-nos para reiterar que a esperança no amanhã é forte e vigorosa e que não há nada que possa impedi-la.

A última sexta-feira (15/3) foi um dia histórico, cuja importância será sentida por um longo tempo. É o início de uma época diferente, a abertura de um novo curso para a política e a participação internacional. Uma época em que os protagonistas absolutos são e serão os jovens, aqueles que somente agora estão se assomando ao panorama da vida pública.

Pela primeira vez, na onda da força de uma menina sueca de 16 anos, Greta Thunberg, em todos os cantos do planeta eles sairam às ruas hoje para gritar aos governantes que não há mais tempo a perder, que o tempo para inverter a rota das mudanças climáticas cada vez mais ameaçadoras é agora. Caso contrário, não haverá amanhã algum.

Mais de 1.700 eventos em muitas cidades em 106 países. Uma mobilização sem precedentes que, em diferentes horários, viu a participação de milhões de crianças e jovens de todas as idades, apoiados por todas as grandes organizações internacionais. Da Anistia Internacional ao Greenpeace, passando pela WWF e pelo Slow Food.

Jovens que entraram em greve da escola para afirmar que não faz sentido estudar, se depois não se escutam aqueles que estudaram e que hoje nos dizem que estamos indo forçosamente rumo ao abismo. Uma greve que, em muitos casos, será sustentada pelos mesmos princípios, um caso absolutamente único.

É extraordinário assistir a essa onda que cresceu e se espalhou muito nos últimos dias, a partir de baixo, sem estruturas de coordenação pesadas, sem restrições, com o único objetivo de levantar a grande questão do nosso tempo, a ambiental. Uma urgência que continuou crescendo entre uma geração que talvez seja a primeira a sentir “nas entranhas” essas demandas. Porque, se os da minha idade analisam os estudos dos cientistas e, com base nisso, racionalmente, se preocupam, esses jovens sentem dentro que não podem mais esperar, sabem que devem exigir respostas agora.

Nestes dias, eu me encontro na Espanha, e é realmente impressionante observar como a comunhão de intenções transcende qualquer fronteira geográfica ou cultural. Na sexta-feira, 15, em Bilbao, o encontro foi na frente da prefeitura, assim como em Madri, Barcelona, Salamanca e Granada. Em Málaga, por outro lado, começa-se às 19h, assim como em Valência. Todos unidos pela mesma faixa.

As Fridays for Future, as sextas-feiras pelo futuro, começaram, mas não vão parar. Muitos são os lugares onde, a partir de agora, a manifestação será realizada semanal ou mensalmente. A partir de hoje, não se brinca mais. Mobilização permanente, porque não temos outro planeta para viver, não temos outro ambiente para respirar.

Obrigado, moças e rapazes, pela esperança e pelos horizontes com que vocês estão nos presenteando.

Carlo Petrini é chef italiano e fundador do movimento Slow Food.

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