Covid: como as vacinas salvam o Rio de nova tragédia

Variante delta predomina na cidade, mas imunização crescente evitou uma catástrofe. E mais: Fiocruz já não depende de IFA importando para produzir vacina de Oxford; na França, ministra negligente na pandemia está no banco dos réus

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Dulcineia da Silva Lopes receives the Sinovac coronavirus disease (COVID-19) vaccine at Christ the Redeemer statue in Rio de Janeiro, Brazil January 18, 2021. REUTERS/Ricardo Moraes
DESCOMPASSO POSITIVO
Embora a cidade do Rio de Janeiro tenha registrado em agosto o maior número de casos de toda a pandemia (41 mil), o mesmo não aconteceu com as hospitalizações e óbitos – eles se mantiveram estáveis. Até agora, o pico de internações na capital aconteceu em março, com 9,1 mil registros. Depois elas caíram e, desde junho, estão em um patamar de cerca de 4 mil por mês. Já a média móvel de óbitos chegou a 127 em abril e fechou agosto em 60. Os dados foram analisados pelo UOL a partir do do Sivep-Gripe (Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Gripe). 

A reportagem traz alertas sobre as limitações da contagem porque o processamento dos dados de agosto ainda não terminou: há 949 casos de internação ainda em investigação ou sem diagnóstico. Mesmo se todos eles forem de covid-19, o número estará longe de acompanhar o da alta nas infecções.

Vale ressaltar que estabilidade nem sempre é uma coisa boa: a taxa de ocupação dos leitos de UTI covid no Rio estão acima de 90% segundo o Observatório Covid-19 da Fiocruz; no estado, ela é de 66%. Mas, considerando que a temida variante Delta passou a dominar a capital, não deixa de ser um alívio ver esse descompasso entre casos e hospitalizações. 

Especialistas e autoridades ouvidos pelo UOL avaliam que o fenômeno é explicado pela vacinação. Na semana passada o município chegou a 56,5% dos adultos com esquema vacinal completo e 97,6% com a primeira dose – o número real pode ser um pouco mais baixo, já que o percentual engloba pessoas do interior do estado que se vacinaram na capital.
SÓ EM NOVEMBRO
A Fiocruz só deve começar a entregar no fim de novembro as primeiras doses de vacina com IFA (Ingrediente Farmacêutico Ativo) 100% nacional. Segundo a instituição, neste ano devem ser entregues  seis milhões de doses inteiramente produzidas no país.

É uma redução em relação ao que se projetava em junho, quando o acordo de transferência de tecnologia foi assinado. Na época, a expectativa era começar as entregas em outubro, com uma produção mensal de 15 milhões de doses. Antes, em março, o prazo previsto era setembro.

Seja como for, a produção nacional é importante para não depender mais da importação do IFA, que tem gerado atrasos no cronograma. A última entrega foi a de 3,5 milhões de doses no fim de agosto. A Fiocruz espera fazer uma nova liberação esta semana.
EM BREVE
Começou um estudo de fase 3 para avaliar a segurança e a eficácia da CoronaVac em crianças e adolescentes de seis meses a 17 anos. Segundo a Sinovac, os testes já começaram na África do Sul, com dois mil participantes. Mas serão ao todo 14 mil, espalhados por países como Chile, Filipinas, Malásia e Quênia.

E até o fim de outubro os Estados Unidos devem dar sinal verde ao uso do imunizante da Pfizer em crianças a partir de cinco anos, segundo fontes ouvidas pelo CNBC. A previsão é que a farmacêutica envie seus dados ainda em setembro e que, em três semanas, a FDA (equivalente à Anvisa) tome uma decisão.
TRÊS MAIS UMA
Depois de começar a oferecer uma dose de reforço a todos os maiores de 12 anos, Israel agora já fala em administrar outra dose extra. “Não sabemos quando isso vai acontecer; torço muito para que não seja dentro de seis meses, como desta vez, e para que a terceira dose dure mais tempo”, disse o diretor-geral do Ministério da Saúde, Nachman Ash, numa entrevista ontem.

O detalhe é que, entre os sete milhões de israelenses elegíveis para a vacina, um milhão ainda não tomou nenhuma dose. O país, que começou a vacinar muito cedo e muito rápido, hoje tem uma cobertura menor do que Portugal, Espanha, Uruguai, Chile, Canadá e China, por exemplo. 
SE A MODA PEGA…
Acusada de má-gestão da pandemia de covid-19,  a ex-ministra da Saúde da França, Agnès Buzyn, foi indiciada na última sexta pelo Tribunal de Justiça da República (CRJ, na sigla em francês). Buzyn foi implicada por ter “colocado em risco a vida de outras pessoas”. Segundo o Le Monde, a ex-ministra será ainda testemunha em outra acusação, essa por “abstenção voluntária de combater um desastre”. 

A investigação busca apurar responsabilidades e eventuais negligências na condução do enfrentamento à pandemia, que matou pelo menos 115 mil pessoas na França. Apesar de a ex-ministra ter sido a primeira indiciada, estão na mira também outros integrantes do governo. Novas intimações são esperadas.  

Uma observação: se formos comparar com a gestão da pandemia pelas bandas de cá, as acusações contra Buzyn podem parecer, digamos… modestas. Ela permaneceu no cargo até fevereiro de 2020, tendo acompanhado somente os primeiros meses da crise sanitária. Em janeiro, um mês antes de renunciar para candidatar-se (sem sucesso) à prefeitura de Paris, ela minimizou a gravidade da pandemia e declarou que “os riscos de propagação do coronavírus na população são bastante fracos”. Segundo o Jornal Nacional, há também denúncias quanto ao fato de a ministra ter repetido que o uso de máscaras não serviria para a prevenção contra infecções pelo novo coronavírus. O que, convenhamos, era uma compreensão difundida naquele momento.

Aparentemente, a coisa complicou mesmo para a ex-ministra quando, já durante sua campanha à prefeitura de Paris, ela contou uma versão bem diferente sobre sua atuação à frente do ministério. “Quando deixei o Ministério, eu chorava porque sabia que a onda do tsunami estava à nossa frente (…)”, afirmou. Desde o início [da campanha eleitoral municipal], eu tinha apenas uma coisa em mente: o coronavírus. Deveríamos ter parado tudo, foi uma farsa”, disse Buzyn ao Le Monde em março do ano passado. 

A declaração causou revolta e a Corte francesa recebeu mais de 14 mil queixas contra a ex-ministra, muitas delas coletadas através de formulários organizados por advogados críticos à gestão da pandemia no país. O tribunal admitiu queixas relativas à falta de equipamento para os trabalhadores da saúde e também às declarações de autoridades contra o uso de máscaras, iniciando a investigação. 

Se a moda pega…
UMA EM CINCO
Enquanto o governo Bolsonaro e sua agenda ultraconservadora atacam as políticas públicas de prevenção à violência sexual e tentam bloquear a discussão e a orientação sobre esse tipo de abuso em escolas, uma em cada cinco estudantes brasileiras entre 13 e 17 anos relata já ter sofrido violações dessa ordem. O percentual de meninas que já sofreram agressão sexual (20,1%) é mais que o dobro do registrado entre meninos da mesma faixa etária (9%), segundo a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Divulgado na última sexta, o estudo traz dados de 2019. Foram entrevistados 11,8 milhões de estudantes do 7º ano do ensino fundamental ao 3º ano do ensino médio. 
 
Os dados gerais, sem levar em conta o gênero dos entrevistados, apontaram que 14,6% (um em cada sete) já foi vítima de violência sexual. Nada menos que 6,3% relataram já ter sido estuprados, e novamente o índice entre as meninas foi significativamente maior (8,8% entre elas e 3,6% entre eles). Entre as vítimas de abuso, 29% relataram que o agressor foi o namorado ou namorada; 16,4% apontaram um familiar como autor; e em 6,3% dos casos, o pai, mãe ou responsável. 

A PeNSE mostrou ainda que, em 2019, 38,5% dos estudantes não tinham acesso a lavatórios em boas condições e sabão para lavagem das mãos em suas escolas. Os problemas de infraestrutura foram relatados entre 44,6% dos escolares de instituições públicas, contra 2,5% das escolas privadas. Quando separados os itens essenciais para a higiene básica das mãos, fica evidente que o maior problema é o acesso ao sabão. Enquanto 96,3% dos estudantes têm acesso a pias ou lavatórios nas escolas, apenas 62,2% disserem contar com oferta de sabão. 

A radiografia, que investiga os fatores de risco e o estado da proteção à saúde dos adolescentes, levanta também preocupações quanto à saúde mental dessa parcela da população. O resumo obtido a partir dos cinco indicadores básicos (sentimento de preocupação com as coisas comuns do dia a dia; sentimento de tristeza; sentimento de que ninguém se preocupa com ele(a); sentimento de irritação, nervosismo ou mau humor; sentimento de que a vida não vale a pena ser vivida) mostrou que quase um quinto deles (17,7%) apresenta quadros negativos em saúde mental.

Vale atentar para o fato de que, embora esses números de 2019 já sejam muito ruins, há uma boa chance de eles terem piorado a partir do ano passado – especialmente os relacionados a violência e saúde mental. As escolas são importantes locais de identificação de abuso sexual, e frequentemente é desses espaços que partem as denúncias. 

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