Tuberculose: com OMS enfraquecida, risco iminente
• Corte dos EUA ameaça progresso contra TB • Negacionismo de vacinas em novo patamar • Reconstrução de grande hospital de Gaza • Ultraprocessados e depressão • Agrotóxicos na água • Wolbachia faz 10 anos •
Publicado 10/03/2025 às 14:34

Em comunicado publicado na semana passada, a Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou que “milhões de vidas” estão em risco com os cortes de verbas dos EUA para o combate à tuberculose. Hoje, os programas dos países mais vulneráveis à doença dependem fortemente de ajuda externa, e cerca de um quarto desses recursos são oriundos dos Estados Unidos. Segundo a OMS, as nações associadas aos escritórios locais da agência na África, no Sudeste Asiático e do Pacífico foram as mais afetadas.
Os relatos desses países informam que a interrupção desses repasses está “desmantelando serviços essenciais”, causando a demissão de milhares de trabalhadores da saúde, a suspensão da entrega de medicamentos, a realização de serviços laboratoriais e a manutenção de sistemas de monitoramento de casos de tuberculose. O pior cenário: “a paralisação dos esforços de prevenção e tratamento da tuberculose, revertendo décadas de progresso e ameaçando milhões de vidas”.
CDC americano planeja estudo sobre vacinas e autismo
Todo governo escolhe suas prioridades. Ao mesmo tempo em que corta verbas dos esforços globais contra a tuberculose, a administração de Donald Trump pretende direcionar recursos para um grande estudo acerca da ligação entre vacinas e autismo, revelou a Reuters. A pesquisa seria realizada pelo CDC, a principal agência sanitária norte-americana.
Na próxima semana, o indicado de Trump para o órgão será sabatinado pelo Senado dos EUA e deverá ser questionado sobre a proposta de estudo. Até hoje, não há evidências firmes de qualquer ligação entre o diagnóstico de autismo e a vacinação de crianças – e a disseminação da teoria é associada a grupos negacionistas. A revelação da proposta de estudo do CDC, que é subordinado ao Departamento de Saúde de Robert Kennedy Jr., vem no contexto de um surto de sarampo nos EUA que parece estar ligado à queda na taxa de vacinação contra a doença.
Hospital al-Quds, em Gaza, está sendo reconstruído por seus trabalhadores
Em breve vídeo-reportagem, o The New York Times documenta a reconstrução de um dos principais hospitais de Gaza. O hospital al-Quds, o segundo maior do enclave palestino, foi um dos primeiros a sofrer interrupções em seu funcionamento, ainda em novembro de 2023. As imagens do jornal norte-americano mostram a destruição da maioria dos equipamentos e salas do al-Quds – incluindo o laboratório, a sala de operações e uma das duas únicas máquinas de endoscopia de toda a Faixa de Gaza.
Seus trabalhadores, incluindo médicos e enfermeiras, estão participando de um grande mutirão de limpeza e reconstrução do hospital. Os vídeos mostram que a sala da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) já foi recomposta, e em breve deverá estar em funcionamento mais uma vez para atender as vítimas do genocídio perpetrado contra o povo palestino, hoje suspenso pelo cessar-fogo.
Consumo de ultraprocessados associado à depressão persistente
Pode haver uma relação entre o consumo alto de ultraprocessados e a depressão, sugere um grupo de pesquisadores brasileiros. O estudo, publicado no Journal of the Academy of Nutrition and Dietetics, não chega a estabelecer um nexo de causalidade entre os dois fatores, mas seus autores indicam a hipótese de que a falta de nutrientes essenciais típica de uma dieta rica em alimentos ultraprocessados pode ter um impacto na saúde mental.
A pós-doutoranda na Faculdade de Medicina da USP Naomi Vidal, principal autora do estudo, explicou que “o grupo que consumia a maior quantidade desses produtos teve um aumento de 58% na chance de desenvolver depressão persistente”, aquela que é caracterizada por episódios recorrentes ao longo de anos. “Taxar esses alimentos de forma mais elevada”, propõe a autora, seria uma das medidas mais eficientes para diminuir seu consumo. “Uma redução de 10% no consumo resultaria em uma diminuição de 11% no risco” de depressão, completa.
Agrotóxicos contaminam águas ribeirinhas da Amazônia
Análises realizadas por pesquisadores da USP de Ribeirão Preto identificaram que pelo menos 21 agrotóxicos contaminam as águas de comunidades ribeirinhas na Amazônia, noticia o Jornal da USP. Alguns dos compostos mais encontrados foram o fenitrotion (detectado em grande concentração em 78% das amostras), a cipermetrina (63%) e o fipronil (33%). Este último praguicida já foi banido da União Europeia, a China e o Vietnã, devido a seus efeitos devastadores ao meio ambiente – é particularmente tóxico para as abelhas – e à saúde humana.
A região onde ele foi detectado é uma área de proteção ambiental, o que eleva a preocupação. O pesquisador Gabriel Neves Cezarette, responsável pelo estudo, destaca ainda que a análise só cobre uma fonte de exposição dos ribeirinhos a esses agrotóxicos: a ingestão direta da água contaminada. “Os indivíduos provavelmente também estão expostos a esses mesmos pesticidas através de outras fontes como a alimentação”, ele aponta.
Método Wolbachia faz 10 anos no Brasil
O Ministério da Saúde lançou um documentário sobre os 10 anos da utilização do método Wolbachia para o combate às arboviroses no Brasil. O método consiste em infectar, em laboratório, populações do Aedes aegypti com a bactéria Wolbachia, que impede o vírus da dengue de se desenvolver no mosquito. Depois, os insetos são disseminados em áreas muito afetadas pelas arboviroses, onde se reproduzem com os mosquitos locais e ajudam a diminuir os casos de dengue, zika e chikungunya.
Sua implementação no país começou em 2015 em Niterói (RJ), mas já se espalhou para cidades de diversos estados onde reduziu a incidência dessas doenças. Em um programa coordenado pela Fiocruz, o poder público já criou uma série de biofábricas dos “wolbitos”, como são conhecidos os mosquitos. O documentário apresenta detalhes sobre o funcionamento do método e a história de sua introdução no Brasil, com relatos de técnicos e moradores de comunidades onde ele foi implementado.