Serão os hospitais vilões do aquecimento?

Ênfase em sistemas hospitalocêntricos multiplica emissões de gases do efeito-estufa, mostram estudos. Atenção primária é mais eficiente também neste quesito

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Enquanto avançam, aparentemente sem resultados positivos, as conversações da COP-26 em Glasgow, multiplicam-se as análises sobre as grandes fontes emissoras de gases do efeito-estufa. O pesquisador Louis Reynolds, do Peoples Health Movement da África do Sul, levantou dados que apontam para um culpado poucas vezes percebido: os sistemas de Saúde baseados prioritarimente em atendimento hospitalar. Sua contribuição do aquecimento global é muito superior à dos serviços de atenção primária.

Reynolds levanta dados assustadores: só o sistema de saúde britânico, NHS, aumentou sua pegada de carbono, entre 2004 e 2012, de 18 milhões para 21 milhões de toneladas equivalentes a CO² (MtCO²e). São gastos com “aquecimento, resfriamento e iluminação de edifícios; aquisição de bens e serviços de comissionamento; equipamento de alimentação; envio de resíduos para aterro; e viagens de pacientes, funcionários e visitantes”. Uma internação típica em hospital, resulta “em emissões de CO² aproximadamente sete vezes maiores que uma visita externa”, diz o estudo.

A solução, aponta o artigo, pode estar no fortalecimento da atenção básica – como na estratégia da Saúde da Família, do SUS, que atinge cerca de 62% da população brasileira, mas está sob ameaça por causa do desfinanciamento promovido pelo governo Bolsonaro. Fortalecer a atenção primária, além de promover a Saúde, tiraria o peso dos hospitais e, portanto, o gasto excessivo de CO².

Programa de Agentes Comunitários da Saúde (PACS) em ação no bairro de
Tatuquara, em Curitiba. Fonte: Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba.

O artigo relembra a corajosa frase da editora-chefe da British Medical Journal, em editorial de 2011: “O maior risco à saúde humana não são as doenças transmissíveis nem as não transmissíveis – são as mudanças climáticas”. Por isso, a atenção dos profissionais da Saúde à Cop-26, até a próxima sexta feira (12), parece essencial.

Créditos da imagem: University of Birmingham

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