RS: as doenças depois da chuva

• No RS, doenças respiratórias e leptospirose preocupam • Nova vacina anticovid distribuída no SUS • Uma em cinco gestantes com ISTs • Vacinação e saneamento contra as superbactérias • Os usuários de maconha diários ultrapassam os de álcool •

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Diante das recentes enchentes no Rio Grande do Sul, a Força Nacional do Sistema Único de Saúde (FN-SUS) tem tido papel importante para atender as pessoas afetadas. As Síndromes Respiratórias têm se mostrado a principal demanda de saúde, hoje, representando 25% dos 5.299 atendimentos realizados até agora. Além do tempo frio e úmido, o fato de que as pessoas estão em abrigos fechados contribui com a transmissão dessas doenças. Casos gastrointestinais e suspeitas de dengue também são significativos. Para mitigar riscos de quadros respiratórios, o Ministério da Saúde busca ampliar a vacinação contra a influenza: 21.391 doses do imunizante foram aplicadas até 22 de maio. Também vacina-se contra covid-19, raiva humana, hepatite A e tétano.  A campanha prioriza pessoas em abrigos, socorristas, profissionais de saúde e voluntários. 

Outra doença que preocupa, no estado, é a leptospirose, que já matou quatro pessoas desde o início das chuvas. Há ainda outros mais de 800 casos suspeitos da doença infecciosa, transmitida principalmente através do contato com água ou solo contaminado com a urina de ratos. “A higienização é fundamental. Portanto, é importante que a população esteja bem informada sobre isso, para que possam retornar às suas casas adequadamente, lavar os alimentos de forma correta e, se apresentarem sintomas como febre, mialgia e dor nos olhos, busquem atendimento imediato conosco”, alertou o coordenador do Centro de Operações de Emergência no Rio Grande do Sul (COE), Rodrigo Stabeli.

Nova campanha utiliza vacina atualizada da covid

O Ministério da Saúde lança, nesta semana, uma nova campanha de vacinação contra a covid-19, visando imunizar 70 milhões de pessoas. Desta vez, as doses utilizadas serão as de imunizante atualizado contra a variante XBB da Ômicron, produzido pela farmacêutica Moderna. A campanha, que começou após críticas pela demora na chegada das vacinas, utiliza as 9,5 milhões de doses recebidas em maio, distribuídas aos estados para aplicação imediata. O acordo firmado em abril com a Moderna prevê 12,5 milhões de doses, com entregas escalonadas. A vacina foi incluída no Calendário Nacional de Vacinação de 2024, priorizando idosos, imunocomprometidos, gestantes, crianças de 6 meses a 5 anos, e outros grupos de risco. A aquisição emergencial abastecerá estados e municípios até a conclusão das próximas compras, informa o ministério. A campanha reforça a segurança e eficácia das vacinas oferecidas pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI).

ISTs em gestantes brasileiras preocupam

Um estudo liderado pela infectologista Angélica Espinosa Miranda, da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), e pela farmacêutica Pâmela Cristina Gaspar, do Ministério da Saúde, revelou que 21% das gestantes brasileiras estavam infectadas com pelo menos uma das quatro principais infecções sexualmente transmissíveis (IST) em 2022. São doenças que causam infecções nos órgãos genitais e urinários. Segundo a revista Pesquisa Fapesp, a pesquisa, que analisou testes de 2.728 mulheres grávidas de diferentes regiões do país, identificou a prevalência mais alta de ISTs na região Sudeste (23,3%) e a mais baixa no Centro-Oeste (15,4%). A infecção por Chlamydia trachomatis, responsável por infecção urinária, é a mais comum (9,9%). Jovens entre 15 e 24 anos, com renda familiar de até R$ 2 mil e histórico de múltiplos parceiros apresentaram maior risco de infecção. Essas ISTs, tratáveis e curáveis, podem aumentar o risco de baixo peso ao nascer e aborto espontâneo.

Como mitigar os riscos de resistência bacteriana

Um estudo publicado na revista The Lancet revela que a vacinação e o acesso a saneamento podem reduzir em cerca de 750 mil as mortes causadas por infecções bacterianas resistentes a antibióticos todos os anos. Estima-se que 7,7 milhões de pessoas morram anualmente devido a infecções bacterianas – 1,27 milhões delas associadas a bactérias resistentes. Ana Cristina Gales, da Unifesp, uma das autoras da série de estudos, explica que a vacinação contra agentes infecciosos pode prevenir hospitalizações e reduzir o uso de antibióticos: “Você vai ter uma pneumonia bacteriana como uma complicação da gripe e vai usar antibiótico. Então, se você se vacinar contra a gripe, a chance de ter gripe é menor e, consequentemente, terá menos pneumonias bacterianas como complicação desses casos e usará menos antibiótico”. 

Gales destaca a importância de acordos internacionais para enfrentar a resistência bacteriana, especialmente em regiões mais pobres com altas taxas de mortalidade, como a África Subsaariana. No Brasil, avanços exigem sistemas de vigilância e um plano de combate à resistência antimicrobiana, mas a redução do uso inadequado de antibióticos e a implementação de medidas preventivas são essenciais para combater o problema.

A melhoria do saneamento básico poderia evitar 247 mil mortes, segundo os cálculos apresentados, enquanto a higienização hospitalar adequada poderia impedir 337 mil óbitos anuais. 

Nos EUA, 17 milhões fumam maconha todo dia

Pela primeira vez, o número de norte-americanos que usam maconha diariamente ultrapassou o daqueles que bebem álcool com essa frequência. Em 2022, 17,7 milhões relataram usar a substância diariamente ou quase diariamente, comparado a 14,7 milhões que consumiam álcool com a mesma frequência. Trata-se de um aumento significativo em relação a 1992, quando menos de 1 milhão admitia usar maconha todo dia. O estudo foi conduzido por Jonathan Caulkins da Universidade Carnegie Mellon e publicado na revista Addiction. A aceitação pública crescente e a legalização em 24 estados do país contribuíram para essa mudança, embora a maconha ainda seja ilegal a nível federal. Recentemente, o Departamento de Justiça dos EUA iniciou o processo para reclassificar a maconha de uma substância controlada de Classe I, como a heroína, para uma substância de Classe III. Pesquisas médicas indicam que a maioria dos usuários de cannabis não progride para drogas mais pesadas. Seu uso tampouco traz risco de letalidade sequer próximo ao do cigarro e do álcool, legalizados há décadas. No Brasil, o ultraconservadorismo burro agora busca dar passos atrás, criminalizando inclusive o uso da maconha.

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